"Se você tem uma coisa a afirmar, você não tem que fazer literatura.
Literatura é uma conversa sobre as dúvidas.
É uma conversa sobre as delicadezas, sobre as faltas".
Bartolomeu Campos de Queirós
quinta-feira, 28 de julho de 2011
quarta-feira, 27 de julho de 2011
A casa era grande, avarandada.
Assombreada.
No jardim, onde havia um pequeno lago, a mãe plantou Espadas-de-São-Jorge que, apesar de feias, cresceram e alastraram-se por canteiros próximos de forma ordenada e retilínea – dizem que têm a capacidade de proteger, purificar e combater mau-olhado.
Do lado direito, para onde se debruçava uma das janelas da sala de visitas, os dias de sol impunham a fixação de uma rede que nunca foi usada.
No corredor, que dava para o quintal, uma parede cega, caiada, confundia pardais e sanhaços e andorinhas que, nos dias mais iluminados, eram encontrados desfalecidos, exigindo cuidados extremos dos meninos para que fossem reanimados.
Um pé de romã dominava o quintal.
Ao fundo, no limite do terreno, ficavam as galinhas e um galo mirrado trazidos da Zona da Mata, próximo do arraial onde havia nascido o pai, lá nas barrancas da nascente do Roncador.
Engradados, tijolos maciços, telhas, latões de creolina ocupavam espaços onde, antes dele adoecer, ficavam os poleiros e as caixetas com palha para o choco.
No quarto grande, construído à direita do quintal, amontoavam-se mesas, cadeiras, penteadeiras.
Quando se recuperou, acompanhava, da janela do quarto que dividia com o irmão, a retirada dos móveis doados às famílias dos empregados, ano após ano, contando-os um a um. Reproduzia-os, depois, em miniaturas feitas com restos de cedro e aroeira-branca que encontrava na oficina da casa, desenhando os detalhes com finos pincéis banhados de nanquim.
Havia fotos de Gérard Philipe no quarto da irmã, coladas na parede com goma, que ele não entendia.
O banheiro de baixo foi transformado em atelier de costura, onde a mãe, aproveitando restos e cortes de tecidos guardadas para um dia quem sabe, fez e deu-lhe a primeira calça comprida.
Na garagem, junto às casuarinas, aquietava-se, quase sempre, o carro da família, um Dodge Coronet 1951, verde limão, usado, nos fins de semana, para um passeio pelas ruas e poucas avenidas da cidade que ainda se limitava ao seu traçado original.
A casa continua a mesma, apesar de os novos proprietários terem feito pequenos reparos e algumas mudanças.
Conseguiu, sem esforço, apesar do ruído de carros e caminhões, postando-se do outro lado da calçada, abstrair-se e ouvir, ver e sentir vozes que não existiam mais, rostos que tinham se desfigurado, cheiros que haviam se dissipado.
A serra, ao fundo, mostrava-se habitada.
Procurou, na última vez que esteve na cidade, vizinhos e vestígios.
Não os encontrou.
E apesar de a casa estar lá, não se encontrou também.
Assombreada.
No jardim, onde havia um pequeno lago, a mãe plantou Espadas-de-São-Jorge que, apesar de feias, cresceram e alastraram-se por canteiros próximos de forma ordenada e retilínea – dizem que têm a capacidade de proteger, purificar e combater mau-olhado.
Do lado direito, para onde se debruçava uma das janelas da sala de visitas, os dias de sol impunham a fixação de uma rede que nunca foi usada.
No corredor, que dava para o quintal, uma parede cega, caiada, confundia pardais e sanhaços e andorinhas que, nos dias mais iluminados, eram encontrados desfalecidos, exigindo cuidados extremos dos meninos para que fossem reanimados.
Um pé de romã dominava o quintal.
Ao fundo, no limite do terreno, ficavam as galinhas e um galo mirrado trazidos da Zona da Mata, próximo do arraial onde havia nascido o pai, lá nas barrancas da nascente do Roncador.
Engradados, tijolos maciços, telhas, latões de creolina ocupavam espaços onde, antes dele adoecer, ficavam os poleiros e as caixetas com palha para o choco.
No quarto grande, construído à direita do quintal, amontoavam-se mesas, cadeiras, penteadeiras.
Quando se recuperou, acompanhava, da janela do quarto que dividia com o irmão, a retirada dos móveis doados às famílias dos empregados, ano após ano, contando-os um a um. Reproduzia-os, depois, em miniaturas feitas com restos de cedro e aroeira-branca que encontrava na oficina da casa, desenhando os detalhes com finos pincéis banhados de nanquim.
Havia fotos de Gérard Philipe no quarto da irmã, coladas na parede com goma, que ele não entendia.
O banheiro de baixo foi transformado em atelier de costura, onde a mãe, aproveitando restos e cortes de tecidos guardadas para um dia quem sabe, fez e deu-lhe a primeira calça comprida.
Na garagem, junto às casuarinas, aquietava-se, quase sempre, o carro da família, um Dodge Coronet 1951, verde limão, usado, nos fins de semana, para um passeio pelas ruas e poucas avenidas da cidade que ainda se limitava ao seu traçado original.
A casa continua a mesma, apesar de os novos proprietários terem feito pequenos reparos e algumas mudanças.
Conseguiu, sem esforço, apesar do ruído de carros e caminhões, postando-se do outro lado da calçada, abstrair-se e ouvir, ver e sentir vozes que não existiam mais, rostos que tinham se desfigurado, cheiros que haviam se dissipado.
A serra, ao fundo, mostrava-se habitada.
Procurou, na última vez que esteve na cidade, vizinhos e vestígios.
Não os encontrou.
E apesar de a casa estar lá, não se encontrou também.
terça-feira, 26 de julho de 2011
“Infelizmente, os pais de Antonia se mudaram do sobrado.
Nunca mais vou amar ninguém, ele pensou, e só não chorou de tristeza porque José nunca chorava, nem nunca choraria em sua vida, nem mesmo quando todas as desgraças se abateram sobre ele. Ele não sabia chorar e nunca aprenderia”.
Rubem Fonseca, em José.
Nunca mais vou amar ninguém, ele pensou, e só não chorou de tristeza porque José nunca chorava, nem nunca choraria em sua vida, nem mesmo quando todas as desgraças se abateram sobre ele. Ele não sabia chorar e nunca aprenderia”.
Rubem Fonseca, em José.
quinta-feira, 14 de julho de 2011
terça-feira, 12 de julho de 2011
quarta-feira, 6 de julho de 2011
terça-feira, 5 de julho de 2011
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