Desceu a escadaria, impaciente.
O interessado em alugar a propriedade vinha logo atrás e aquilo o incomodava.
Notou, ali, um movimento qualquer.
E viu, de relance, no fundo do paiol em desarrumação, o corpo de um animal ao lado de fardos de ração, caixotes, bornais, enxós, jacás, rodas de cabreúva.
Um tordilho caído, inerte.
Havia, também - aumentando-lhe a irritação -, um homem e animais menores inteiramente enlameados.
- O que você faz aqui?
- Durmo, só.
- Como?
- Venho tarde. E durmo.
- E quem deixou?
- Não é caso de briga, não senhor...
- Quem?
- A moça.
Expulsou-o.
- Não tenho onde dormir com esse tempo danado.
- E eu com isso?
- Vou ter que trabalhar, moço. Sou canoeiro e rezador. E quero não trabalho certinho. Já passei por Serraria, Boa Fé, Laranjeiras, Santa Bárbara, Serra Vermelha, Conceição, Pitanga e me deixaram.
Ela tentou convencê-lo. Qual o problema, afinal? Ninguém mais aparecia por ali. E o homem, coitado, não fazia mal algum. Escrevia coisas, receitava, curava.
Voltou um dia, avisaram.
Na porta da varanda, notou que ela estava de cabelos soltos.
- Você me desculpou?
Deu-lhe as costas.
Trancou-se. Acompanhou-a, pela janela da sala, até cruzar a porteira.
Perguntou para o caseiro, tempos depois, aparentando desinteresse, se ela tinha voltado.
- Todos os dias, tardinha. Deita-se lá, onde dormia o homem, tempo curto, um tanto só, e pede, contrita, para tirar a simpatia do senhor.
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
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