terça-feira, 31 de maio de 2011

Fingiu que não tinha ouvido.
- Vou mandar esse sujeito tomar no cu!
Riu, na primeira vez.
Agora, não.
- Vai se foder, porra!
Logo hoje...
- Vai ter um bolo lá embaixo, para festejar os aniversários do mês.
Antes de ir para casa, comprou a última Veja.
Não ia ler, sabia.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Sai da lama, jacaré!
"Aqui jaz o Sol
Que criou a aurora
E deu luz ao dia
E apascentou a tarde
O mágico pastor
De mãos luminosas
Que fecundou as rosas
E as despetalou.
Aqui jaz o Sol
O andrógino meigo
E violento, que
Possuiu a forma
De todas as mulheres
E morreu no mar."
Vinícius de Moraes

quinta-feira, 26 de maio de 2011

"a janela
sempre ali além
o velho o novo
o mesmo trem
sem pressa
nem ninguém"
E. M. de Melo e Castro
“Elaine's tem um menu que faz corar os críticos gastronômicos, uma decoração que nunca vai entrar na Architectural Digest, preços que rivalizam com os do Four Seasons, garçons tão frenéticos quanto os operadores da Bolsa de Valores de Nova York e um sistema de reserva autocrático baseado exclusivamente em privilégios. No entanto, resiste como o saloon mais amado do mundo literário de Nova York”.
AE Hotchner, Vanity Fair Magazine, edição de julho de 2002.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Tire as pernas, asas e cabeças das tanajuras, deixando só as bundinhas.
Em seguida, deixe-as de molho em água e sal por cerca de 1/2 hora.
Escorra-as bem e leve-as ao fogo, em frigideira com fios de azeite e um pouquinho de toucinho, mexendo sempre para não queimar.
Quando estiverem bem torradas, acrescente farinha de mandioca, misture tudo vagarosamente, resultando a farofa que é uma delícia.

terça-feira, 24 de maio de 2011

"Deus te criou,
E eu, mãe, te pari;
Quebranto que te puseram,
Eu, mãe, lambi."
“... Acreditei nessa conversa mole
Pensei que o mundo ia se acabar
E fui tratando de me despedir
E sem demora fui tratando de aproveitar
Beijei na boca de quem não devia
Peguei na mão de quem não conhecia
Dancei um samba em traje de maiô
E o tal do mundo não se acabou...”
O mundo não se acabou, Assis Valente.
Ó, lhó, lhó, rapagi, tás tolo, istepô, intiquento, miserento,digraçado! A pinta da tua mãe tá cheia de bicho berne! Tás querendo uma camassada de pau, sô amarelo? Num tô ti parando pelo valori dastainha, cadiquê tem peixe à migueli, magi pramode di ti dizê pra ti,caquí na Ilha num tem genti da tua parecença não. Sí tás brocado emaleixo, tudu bem é só pidi qui nós dãmu; magi si é a farsafé, e dimalinagi pra engabelar e morcegar nós, qui tamo aqui di sóli-a-sóli nomaió saragaço, ti acarqueto os zóio, ti assico a buçica, ti enfenco amão nas venta e ainda chamo os meganha pra ti alevá!
De um pescador de tainha, em Santa Catarina (Dicionário da Ilha – falar e falares da ilha de Santa Catarina).
"Me enchi desses autores contemporâneos. Vou voltar para o velho Lima, Machado, Guimarães Rosa. Não tem erro e não chateiam ninguém. Se quiser ser moderna, falo de Sarah Kane e outros mortos que já sossegaram o ego."
Beatriz Resende em debate com Alcir Pécora no Instituto Moreira Salles.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Cago tonéis de estrume líquido, dizia.
Em casa, trancado, torturava-se.
Evitava os filhos, costumeiramente.
Ela aparecia de vez em quando.
Fazia-lhe um agrado, não mais.
Juntava jornais, revistas, caixas de papelão, embalagens de ovos.
Não sabia bem por que.
Fedia.

terça-feira, 17 de maio de 2011

"… Eu sou uma metralhadora em
estado de Graça
Eu sou a pomba-gira do Absoluto."
Roberto Piva

sexta-feira, 13 de maio de 2011

"Aos poetas, tudo:
dor, fúria, melancolia.
aos demais, menos:
porra, flor, bom dia."
Celso Borges
Sexta-feira 13.
Arruda, comigo-ninguém-pode, pimenta, alecrim, manjericão, espada-de-são-jorge, abre-caminho e guiné!

terça-feira, 10 de maio de 2011

"Todo morro entendeu quando o Zelão chorou
Ninguém riu, ninguém brincou, e era Carnaval
No fogo de um barracão
Só se cozinha ilusão
Restos que a feira deixou
E ainda é pouco só
Mas assim mesmo o Zelão
Dizia sempre a sorrir
Que um pobre ajuda outro pobre até melhorar
Choveu, choveu
A chuva jogou seu barraco no chão
Nem foi possível salvar violão
Que acompanhou morro abaixo a canção
Das coisas todas que a chuva levou
Pedaços tristes do seu coração".
Zelão, Sérgio Ricardo.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Chovia.
Levantou-se e caminhou em direção ao banheiro, atravessando o foyer do teatro.
Ela percebeu, então, vendo-o de costas, o quanto ele havia envelhecido.
Demorou-se.
Urinou, lavou as mãos.
E ficou por ali, minutos.
Olhou-se no espelho.
Não queria voltar.
"Estrelas de Couro - A Estética do Cangaço", de Frederico Pernambucano de Mello, Escrituras Editora, é um livro extraordinário, belíssimo!
Fascínio e repulsa, lado a lado.
Presilha, carapuça, carretel, anel, base, enterço, calha; cota, costa ou lombo; gume.
"A coisa mais impressionante de Lampião era a sua faca, segundo disse um fazendeiro de Sergipe que visitou o acampamento quando era menino. Sua figura imponente, sua roupa de cangaceiro, sua pistola e rifle, eram bastante impressionantes, mas nada se comparava àquela faca de 55 cm, com o cabo todo trabalhado, enfiada debaixo de seu cinto".
José Melquíades de Oliveira, Pinhão, Sergipe, 1937, apud Billy Jaynes Chandler.
“É Lampa, é Lampa,
É Lampa, é Virgulino, Lampião

É Lampa, Lampa, é Lampa,
É Lampa, é Lampa, é Lampião,
É o bicho no cangaço,
Interventô lá no sertão (bis)
“Quando Lampião esteve no município de Palmeira dos Índios, onde se demorou alguns dias mandando bilhetes para a cidade e sem poder entrar nela, trazia mais de cem homens que não se escondiam na capoeira nem transitavam em veredas. Corriam pela estrada real, bem montados, espalhafatosos, pimpões, chapéus de couro enfeitados de argolas e moedas, cartucheiras enormes, alpercatas que eram uma complicação de correias, ilhoses e fivelas, rifles em bandoleira, lixados, azeitados, alumiando.”
Graciliano Ramos, Jornal de Alagoas, 27 de maio de 1933

quinta-feira, 5 de maio de 2011

“Cruzada”, de Cinthia Marcelle.
http://vimeo.com/16929948
Lindíssimo!
O duelo, o desafio, o confronto.
A desfiguração, o embate.
A desconstrução.
E a harmonia - multicolorida, mineiríssima e remota -, ao som de "Avante Camarada".
Competentérrimo!