quarta-feira, 5 de maio de 2010

O que sobrou?
O banco de trás do Dodge Coronet 51 do vovô, na porta de casa da Thiers Veloso?
Os mastros do flipper naufragado na praia de Camburí, vistos na maré-baixa?
O lago da casa da Rua Caldas, antes do plantio das espadas de São Jorge?
Os jogos de botão ou o cheiro de dope usado para enrijecer as asas dos aeromodelos?
As casuarinas?
As manhãs de Sábado, em regime de clausura, no Arquivo Público Mineiro?
Cuscuz de banana-da-terra?
Sabiás, pássaros preto, pintassilgos, coleiros, curiós, bicudos?
A roda-presa da Vemaguet e o barulho enlouquecedor na descida da Serra de Petrópolis?
As pescarias no Siribeira (enxadas, caranhas) e as empadinhas do Siri Bar?
O presépio do Pipiripau?
A Monark 57, pneu meio balão?
O bonde linha 9, que me levava para o Colégio Zacarias, cujo itinerário era
Mena Barreto, Real Grandeza, Gal. Polidoro, Rua da Passagem, Praia de Botafogo, Marquês de Abrantes, Rua do Catete, Largo da Glória, Rua da Glória, Rua da Lapa, Largo da Lapa, Mem de Sá, Riachuelo, Gomes Freire, Constituição, Sete de Setembro, 1 de Março, Cons. Saraiva, Cortines Laxe, Dom Gerardo, Arsenal da Marinha?
A madrugada em que soubemos da morte da vovó?
O choro de papai, convulsivo – foi a única vez que o vi chorar – quando, juntamente comigo, encontrou, depois de alguns minutos de inquietação, o túmulo do avô dele naquele cemitério acanhado de Mar de Espanha?
As aulas tirânicas do Ivan Serpa?
Os fartos, generosos e convidativos lanches no campo do Sete, quando o que menos despertava o meu interesse eram os jogos de futebol que faziam papai descabelar-se?
Sobrou uma saudade imensa – insuportável, muitas vezes.
Mas da qual não quero me distanciar jamais.

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