quinta-feira, 31 de março de 2011

"... a erguer-me árvore
neste solo árido
piso o céu unindo
terra que me pisa
sou esse menino
a arvorar-me ave...!
Libério Neves
"A nobreza do ofício de escritor está na resistência à opressão, portanto na aceitação da solidão."
Albert Camus

terça-feira, 29 de março de 2011

Trabalhava em propaganda.
E fazia do próprio carro um outdoor ambulante, afixando no vidro traseiro, sempre que havia um bom motivo, uma frase qualquer.
Quando morreu o cantor, compositor e violonista Mário Reis - a sua forma inovadora de cantar, adiantando ou atrasando a melodia nos compassos, influenciou pelo menos dois dos maiores cantores brasileiros, Orlando Silva e João Gilberto -, em outubro de 1981, fez um cartaz e, como de hábito, colou-o no vidro do Fiat 147: “Cadê Mimi?”
"... Há um lugar para ser feliz
Além de abril em Paris
Outono, outono no Rio..."
Ed Motta e Ronaldo Bastos
(http://www.youtube.com/watch?v=vVDOEeKryR4&feature=player_embedded)

segunda-feira, 28 de março de 2011

"... Você não quer acreditar
Mas isso é tão normal
Você não quer acreditar
E eu apenas era
Cavaleiro marginal
Lavado em ribeirão
Cavaleiro negro que viveu mistérios
Cavaleiro e senhor de casa e árvore
Sem querer descanso nem dominical..."
Lô Borges e Fernando Brant
"Em que medida escrever é me escrever? Ou me inscrever na alma do leitor, tornando-me parte de sua paisagem interior? Escrever não será, no limite, o narcisismo oceânico? Por que supor que estas formações fantasmáticas, esses doppelgängers que se chamam personagens possam vir a interessar, a entusiasmar, a fazer sofrer os leitores? (…) Por trás desse desejo de ser lido ainda depois da miha morte, não se esconde, enrodilhada, uma vontade de permanência e eternidade somente permitida aos deuses?"
Charles Kiefer

sexta-feira, 25 de março de 2011

Sevador, prensa, fuso, antrolhos, tipiti, cangalha, quarta, paiol, almanjarra, canga, rodete, hélice.
Além da farinha de mandioca, também chamada de farinha de guerra, faz-se, nos engenhos de farinha, rosca de polvilho, rosca de massa, cacuanga, bijú e outras iguarias.
Há os engenhos de cangalha. O boi trabalha em volta do forno e do sevador. Existem, ainda, o engenho de chamarrita (o mais rudimentar, também chamado de pouca pressa) e o engenho de mastro.
Ei, Brasil!
Êi, vendêro o boi criôlo,
O boi qu’eu estimava,
Que quando eu chamava o boi
O garoto não pastava.
Êi, meu boi! Ê, meu boizinho!
Êi, meu boi!
Vorta cá, meu boizinho!
Êi, meu boi!...

quinta-feira, 24 de março de 2011

“Passarinho não tem pai, só tem mãe”
Antônio Luciano Pereira, lendário bilionário mineiro,ao responder a uma pergunta sobre incesto nos anos 1980.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Sentou-se.
Estava cansado e sentia dor.
Olhou em volta.
Fechou os olhos, colocou as mãos sobre a cabeça.
Limpou o suor do rosto.
Apoiou os cotovelos nas coxas e deixou o corpo relaxar.
Respirou fundo.
Ele o atendeu com polidez, logo depois.
Tirou do bolso do blaser um envelope suado e o colocou sobre a mesa.
Virou-se e saiu da sala sem dizer coisa alguma.
Na rua, deu-se conta que não tinha dinheiro para pegar um taxi, tampouco condução qualquer.
Duas horas depois, chegou onde morava.
Sentou-se ali mesmo, no muro próximo ao embarcadouro.
O cheiro da maresia era forte, como nos meses de outubro, quando os ventos vindos do Sul provocavam ressacas demoradas que destruíam ainda mais, ano a ano, aquele trecho do litoral.
Pensou no pai, sem razão aparente.
E o amaldiçoou.
Parecia-se com ele.
O andar era o mesmo, arqueado.
A tosse, que o incomodava tanto, assemelhava-se, ruidosa, a do pai.
Filho da puta, pensou.
Penitenciou-se. Afinal, o que ele tinha a ver com tudo aquilo?
Foda-se.
A decisão tinha sido dele, unicamente.
A situação o martirizava, apequenava-o.
Como diria a ela que havia vendido a casa?
Cansou-me ao subir a rampa que levava ao piso dos armazéns.
Arfante, viu, lá no fundo da baía, entrecoberta por uma bruma leve, a ilha de Argolas com seu casario disperso, onde havia nascido e sido criado.
Não gritou.
Sentiu, apenas, quase no final da queda, um frescor intenso e inebriante.
"Vejo a multidão fechando todos os meus caminhos, mas a realidade é que sou eu o incômodo no caminho da multidão."
Chico Buarque, "Estorvo".
Alguém achou o meu vinil do Otis Reeding, “Pain in My Heart”, com a fabulosa balada “These Arms of Mine”, que eu não encontro desde 1965?
“... Em alguma medida, o clima de irreverência que marcou as últimas décadas do reinado de Pedro II – Pedro Banana, para os adversários – entrou pela República adentro. Basta relembrar as quadrinhas que eram cantadas no Rio ironizando o marechal Deodoro, que segundo as más línguas, teria proclamado a República irritado com a notícia – falsa, aliás – de que o Imperador pretendia nomear para primeiro-ministro o senador Silveira Martins, seu rival na disputa pelos favores e ardores sexuais de uma certa viúva alegre chamada Adelaide: “Papagaio come milho / Coruja bebe azeite / Mas a pomba da Adelaide / Come carne, bebe leite”. Esse clima de pândega marcou os diversos campos de expressão da música popular nas primeiras décadas da República: o carnaval, as festas populares, os terreiros, os cafés cantantes, os chopes berrantes e o teatro de revista...”.
Blog do Franklin Martins, Som na Caixa, Música na República Velha.
"Quando nasce o sol, recupero a moral."
Elizabeth Taylor

terça-feira, 22 de março de 2011

"A ruazinha lagarteando ao sol,
O coreto de música deserto
Aumenta ainda mais o silêncio.
Nem um cachorro.
Este poeminha
É só o que acontece no mundo..."
Mario Quintana

segunda-feira, 21 de março de 2011

"Não sou nada.
Não serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo..."
Álvaro de Campos/Fernando Pessoa.

sexta-feira, 18 de março de 2011

"... Canta! canta, porque cantar é a missão do poeta
E dança, porque dançar é o destino da pureza
Faz para os cemitérios e para os lares o teu grande gesto obsceno
Carne morta ou carne viva – toma! Agora falo eu que sou um!"
Vinícius de Moraes
"O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino".
Thiago de Mello

quinta-feira, 17 de março de 2011

Jane Monheit é uma das maiores revelações do jazz vocal nos últimos anos. Destacou-se na competição vocal do Thelonious Monk Institute, em 1998, diante de um júri composto por Dee Dee Bridgewater, Nnenna Freelon, Diana Krall, Dianne Reeves e Joe Williams.
Os críticos a classificam como uma cantora “retrô”, que se abstém de radicalismos ou grandes inovações, como afirma Valter Alnis Bezerra. Segundo ele, ela pouco faz no sentido de romper com as convenções do canto jazzístico. Jane nunca quebra a porcelana nem risca a prataria; ao contrário, ela faz questão de se manter fiel a um padrão clássico de beleza. Isso não constitui, em si, um grande pecado: afinal, ainda existe muito espaço para que as cantoras desenvolvam o repertório standard com elegância e sutileza.
Anda pelos campos em busca de restos de animais. Algumas vezes, assume a forma de uma cobra com os olhos flamejantes do tamanho de sua cabeça e persegue os viajantes noturnos. É visto, quase sempre, como um facho cintilante de fogo correndo de um lado para outro da mata. No Nordeste do Brasil é chamado de "Cumadre Fulôzinha". Para os índios ele é "Mbaê-Tata", ou Coisa de Fogo, e mora no fundo dos rios.
Cuidado com o Boi Tatá!
O The Guardian publicou, na edição de 11/3, lista dos 10 melhores poemas americanos (10 greatest American poems), sendo:
1. "Song of Myself" by Walt Whitman
2. "The Idea of Order at Key West" by Wallace Stevens
3. "Because I could not stop for death" by Emily Dickinson
4. "Directive" by Robert Frost
5. "Middle Passage" by Robert Hayden
6. "The Dry Salvages" by TS Eliot
8. "To My Dear and Loving Husband" by Ann Bradstreet
9. "Memories of West Street and Lepke" by Robert Lowell
10. "And Ut Pictura Poesis Is Her Name" by John Ashbery
Quem dá mais?
"Nada me irrita tanto quanto um verso de pé quebrado. É como o trote forçado de um cavalo manco".
Shakespeare, em "Henrique IV".

quarta-feira, 16 de março de 2011

Tretou, relou...

terça-feira, 15 de março de 2011

André Barcinsk divulgou, em seu blog, o que considera as melhores comédias do mundo, sendo:
"Bancando o Águia" (Sherlock Jr., Buster Keaton, 1924), "Em Busca do Ouro" (The Gold Rush, Chaplin, 1925), "Quanto Mais Quente Melhor" (Some Like It Hot, Billy Wilder, 1959), "Os Eternos Desconhecidos" (I Soliti Ignoti, Mario Monicelli, 1958), "Banzé no Oeste" (Blazing Saddles, Mel Brooks, 1974), "O Grande Lebowski" (The Big Lebowski, Joel e Ethan Coen, 1998), "Monty Python e o Cálice Sagrado" (Monty Python and The Holy Grail, Terry Gilliam e Terry Jones, 1975), "The Bank Dick" (Edward Cline, 1940), "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (Annie Hall, Woody Allen, 1977) e "Diabo a Quatro" (Leo McCarey, 1933).
Irretocável!

quinta-feira, 10 de março de 2011

Vivia de muxoxos.
Irascível, não tinha paciência para novas amizades.
Desdenhava tudo.
E todos.
Acreditava firmemente que amigos tinham número certo: 4.
Afinal, dizia ele, são quatro as alças dos caixões.
Enquanto o corpo dele era velado - dois gatos pingados, além de mim -, dei-me conta que o caixão, moderníssimo, tinha seis alças.
"Não consigo dormir. Tenho uma mulher atravessada entre minhas pálpebras. Se pudesse, diria a ela que fosse embora; mas tenho uma mulher atravessada em minha garganta."
Eduardo Galeano

sexta-feira, 4 de março de 2011

Deliciosa a crítica assinada por A. A. Gill, na última edição da Vanity Fair Magazine, reduzindo o afamado bistrô parisiense "L’Ami Louis" à substrato de pum.
"Agora é no cipó de goiabeira
Pra maloqueiro tem cipó de goiabeira
Foge menino do cipó de goiabeira
Se não vai levar lapada do cipó de goiabeira
Oh! Tem folia de Reis
Em Água Fria e em Jaboatão
Tem a cobra chinesa
Mamãe não bata no menino
Deixe o menino brincar
De barra-bandeira, pião, academia, de bola-de-gude,
Polícia-ladrão, tomar banho de rio, berlinda e pipa,
Jogar futebol, passarás a bandeira, de pega-pegou,
Calçadinha de ouro, se esconde, se esconde,
Cantigas de roda..."
Silvério Pessoa, em "Cipó de goiabeira".
"A-wop-bop-a-loo-bop-a-lop-bam-boom!"
Slogan do blog de André Barcinski, que é muito bom!

quinta-feira, 3 de março de 2011

"... Apenas te vejo na treva que se desfaz em brisa
Vais seguindo serenamente pelas águas, pescador
Levas na mão a bandeira branca da vela enfunada
E chicoteias com o anzol a face invisível do céu."
Vinícius de Moraes
"Nem posso tomar um goró, o médico proibiu. Me mandou tomar água. Mesmo com o mundo caindo lá fora, com São Paulo se afogando e morros se desfazendo de tanta água. Mas isso vai passar. Em fevereiro, não haverá doutor que me segure. Vou mergulhar...”
Jamelão
Rapadura é doce, mas não é mole, não!

quarta-feira, 2 de março de 2011

Ai, que vergonha! Largo da mulher, mas não largo da cerveja; Eu sou eu, jacaré é bicho d’água; Regula, mas libera; Voltar pra que? Imprensa que eu gamo! Espanta neném; Nem muda, nem sai de cima; Eu vou, mas eu volto; Calma, calma, sua piranha! Bagunça meu coreto; Cora, me liga; Katuca que ela pula, Balanço do pinto, Simpatia é quase amor; Vem, caminha junto; Meu amor, eu vou ali; Xupa, mas não baba; Imaginô? Agora amassa! Cutucano atrás; Só o cume interessa, Espreme que sai, Butano na bureta, Dá um cadinho para nós, Já comi pior pagando, Pinto na perereca, Ou vai ou mama, O negócio tá feio e teu nome tá no meio, Encosta que ele cresce; Pinto sarado, Incha rola; Vem cá, me dá; Parei de beber, não de mentir; Se der certo, a gente sai; A coisa tá preta; Se não quiser me dar, me empresta; É pequeno, mas balança; Quem num guenta bebe água; Vai tomar no Grajaú! Deixa a língua no varal; Tá na frente, eu empurro; Se tu fô eu vô; Eu choro curto, mas rio comprido; É pequeno, mas vai crescer; Rola preguiçosa; Vem ni mim que sou facinha; Pinta, mas não borra; Qual seu preço, meu amor? Não mexe que fede, Me leva que eu vou, Que merda é essa? Virilha de minhoca; Enxergo, mas não quebro; Assa o pão, mas não queima a rosca; Tá na frente, eu empurro; Me dá teu gancho, que eu te mostro meu pivô; Se não guenta, por que veio? Empurra que entra.
Esses blocos carnalescos do Rio e seus nomes debochadíssimos!
“Não preciso de silêncio, não preciso de solidão, não preciso de condições especiais. Preciso só de um teclado.”
Moacyr Scliar

terça-feira, 1 de março de 2011

“O teu cabelo
a tua testa
os teus lábios
o teu pescoço
o teu peito
o teu ventre
o teu labirinto e o princípio do abismo
as tuas coxas
os dedos dos teus pés um a um até
dar sentido à matemática;
deste outro ângulo
tu és mais eu do que eu alguma vez fui”
Abel Murcia, em “Voz baixa”.
Será que os lectores ainda lêem o Granma?
"Diego não conhecia o mar.
O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para descobrir o mar.
Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas
alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava
na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar e
tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E
quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando,
pediu ao pai:
– Me ajuda a olhar!".
Eduardo Galeano, em "Pescadores de vida".