quarta-feira, 23 de março de 2011

Sentou-se.
Estava cansado e sentia dor.
Olhou em volta.
Fechou os olhos, colocou as mãos sobre a cabeça.
Limpou o suor do rosto.
Apoiou os cotovelos nas coxas e deixou o corpo relaxar.
Respirou fundo.
Ele o atendeu com polidez, logo depois.
Tirou do bolso do blaser um envelope suado e o colocou sobre a mesa.
Virou-se e saiu da sala sem dizer coisa alguma.
Na rua, deu-se conta que não tinha dinheiro para pegar um taxi, tampouco condução qualquer.
Duas horas depois, chegou onde morava.
Sentou-se ali mesmo, no muro próximo ao embarcadouro.
O cheiro da maresia era forte, como nos meses de outubro, quando os ventos vindos do Sul provocavam ressacas demoradas que destruíam ainda mais, ano a ano, aquele trecho do litoral.
Pensou no pai, sem razão aparente.
E o amaldiçoou.
Parecia-se com ele.
O andar era o mesmo, arqueado.
A tosse, que o incomodava tanto, assemelhava-se, ruidosa, a do pai.
Filho da puta, pensou.
Penitenciou-se. Afinal, o que ele tinha a ver com tudo aquilo?
Foda-se.
A decisão tinha sido dele, unicamente.
A situação o martirizava, apequenava-o.
Como diria a ela que havia vendido a casa?
Cansou-me ao subir a rampa que levava ao piso dos armazéns.
Arfante, viu, lá no fundo da baía, entrecoberta por uma bruma leve, a ilha de Argolas com seu casario disperso, onde havia nascido e sido criado.
Não gritou.
Sentiu, apenas, quase no final da queda, um frescor intenso e inebriante.

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