sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Pedi ao Zé, antes de publicar matéria sobre ele no número 2 da revista Maturidade, que nunca chegou a circular, a indicação de alguém que lhe pudesse fazer um perfil. A escolha foi imediata: Tavito, Luís Otávio de Melo Carvalho, parceiro e amigo de muitos anos.
“Porque o Zé é o Zé, sem par, único, inimitável, o saltimbanco da palavra, o malabarista da idéia, o artífice da risada, o timoneiro do encontro, o menestrel que cai da árvore - e invariavelmente morre de rir. O Zé é o amigo dos amigos, o polemista implacável, aquele que luta até o fim por sua convicção e cala com súbitas estocadas verbais qualquer ameaça à liberdade, sua ou de outrem. O Zé é uma figura plana, sem desvios idiotas, segue as regras da emoção, sabe ser feliz e dividir sua felicidade com as pessoas. O Zé nunca se esquece – e cumpre com alegria o papel de memória dos amigos (que, como eu, esquecem tudo). O Zé é um mestre-cuca de mão-cheia, e, generoso, compõe jantares como canções – e os serve, emocionado, para os amigos, que se regalam e se lambuzam à farta, num grande ritual digno de um enredo de Goscinny. O Zé é pontual em seus compromissos, de trabalho ou de afeto, numa demonstração clara que as regras da civilidade estão acima de quaisquer outras. O Zé é otimista, assim como quem faz uma escolha – e procura o sol da manhã para se inspirar. Mantém a característica vida-inteira de leitor compulsivo, sempre a chafurdar em livrarias, sebos, bibliotecas, como se já não lhe bastassem os doze mil volumes que tem em casa; e é um escrevinhador tresloucado, navegando pelos meandros de sua mente farta, ancorando sua imaginação inimaginável em uma incrível capacidade de pesquisa, aquela séria pesquisa que confere validade histórica aos escritos e ditos dos grandes literatos. Esse é o Zé, o Rodrix, um homem de família e de amigos, que ele faz questão de guardar e cuidar – dentro daquele coração do tamanho de uma baleia, onde também moram suas gravatas e seus ternos de linho”.

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