Tudo aconteceu em Itabira, Minas Gerais, fim do século XIX e início do século XX.
Os habitantes da cidade passaram a conviver com os engenheiros e técnicos da Iron British Company, que explorava minério de ferro na região, logo se estabelecendo uma dificuldade de comunicação entre os ingleses e os itabiranos.
A diferença mais gritante foi sentida nas minas de exploração: os operários, com origem nas classes mais pobres da população, os chamados “peões”, sentiam essa incomunicabilidade no dia-a-dia. Como os operários não entendiam o inglês e nem se identificavam com outros itabiranos em cargos superiores, resolveram criar uma variação do português que tornaria impossível a compreensão dos seus chefes estrangeiros e dos seus compatriotas.
E criaram o Camaco.
A língua tinha uma função clara de marcar as diferenças e posições sociais e econômicas. Quem tinha a “malandragem” do Camaco conseguia se comunicar com seus pares sem que outros os entendessem. Os operários usavam o Camaco principalmente para falar mal ou para fazer um comentário malicioso sobre seus superiores.
Com o tempo, a língua deixou de pertencer a um grupo restrito e foi sendo apropriada por todos que se sentiam parte da “resistência” da cidade. Durante a década de 60 e 70, os boêmios e intelectuais de Itabira tinham como ponto de encontro o bar Cinédia. E era lá onde podiam manter longas conversas em Camaco e passá-lo adiante para as novas gerações. Nesse momento, a língua já tinha perdido a sua ligação restrita com os operários da empresa, passando a ser uma característica do povo itabirano em geral. O Camaco perdeu, aí, seu sentido estritamente "político".
“Çovê base lafar guilagem Camaco?” A conversa normalmente começa assim. O que se segue é um grande ponto de interrogação estampado na cara ou uma resposta rápida: “Mis, lafo medais”.
Não tem segredo. O truque é simples: troque a primeira letra da segunda sílaba com a da primeira. Assim, sílaba vira lísaba e palavra riva laprava. Gepou o cariocínio?
Sergio Rosa
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário