A Triumph estava em crise no final dos anos 1950.
Foi quando surgiu Giovanni Michelotti, que aceitou o convite para criar um roadster de dois lugares para substituir o TR3.
E tentar abreviar a agonia da Triumph.
O italiano havia trabalhado na Carrozzeria Vignale, empresa familiar de Turim que fazia projetos para os grandes fabricantes e também construía carros com marca própria.
Rápido, apresentou a Harry Webster, chefe do departamento técnico da Triumph, no final de três meses, uma releitura do TR3 – um roadster de linhas puras e detalhes surpreendentes que seria lançado em 1961 com o nome de TR4.
O TR4 tornou-se um dos carros mais cobiçados para competições de rali e provas de endurance, além de ter conquistado, merecidamente, o título de um dos carros mais charmosos da sua época.
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Insone, deparei-me, depois de muitos anos, com a imagem de meu corpo nu projetada no espelho do banheiro do hotel.
Os pentelhos esbranquiçados surpreenderam-me, não o bastante para levar-me ao desconforto.
Dei-me conta, apenas, que estou envelhecendo.
E lembrei-me do que me disseram um dia: a velhice não é para os covardes.
Por que, então, gratificar o coveiro por algo que ainda não aconteceu?
Confronto-me, dia após dia, com a degeneração descontrolada de partes inegociáveis de mim...
Por que a imposição consensual de que devo dividir isso com alguém?
O tom de voz surpreende-me quase sempre, conflitando-me com aquilo em que me transformei.
Não há deformações aparentes, reconhecem-me aqui e ali, mas a pele, seca, revela finíssimas ranhuras que me causam repulsa e asco.
E essa culpa?
Expulso-os, furtivamente, e vejo, nos outros, distantes de mim, os disfarces tão flagrantes que teimo em exercitar e que me deformam mais ainda, ridicularizando-me.
Ah, os stents. Qual é, mesmo, a estimativa correta do diâmetro de referência proximal e distal dos vasos-alvo? E sua correlação com as medidas feitas pelo ultra-som intracoronário, será menos intensa?
Tenho que me lembrar de comentar isso com ele...
Philip.
Por que não James, Paul, Michael, Nick, Jackson, Joseph?
Ligo para ela, depois de tantos anos?
Os pentelhos esbranquiçados surpreenderam-me, não o bastante para levar-me ao desconforto.
Dei-me conta, apenas, que estou envelhecendo.
E lembrei-me do que me disseram um dia: a velhice não é para os covardes.
Por que, então, gratificar o coveiro por algo que ainda não aconteceu?
Confronto-me, dia após dia, com a degeneração descontrolada de partes inegociáveis de mim...
Por que a imposição consensual de que devo dividir isso com alguém?
O tom de voz surpreende-me quase sempre, conflitando-me com aquilo em que me transformei.
Não há deformações aparentes, reconhecem-me aqui e ali, mas a pele, seca, revela finíssimas ranhuras que me causam repulsa e asco.
E essa culpa?
Expulso-os, furtivamente, e vejo, nos outros, distantes de mim, os disfarces tão flagrantes que teimo em exercitar e que me deformam mais ainda, ridicularizando-me.
Ah, os stents. Qual é, mesmo, a estimativa correta do diâmetro de referência proximal e distal dos vasos-alvo? E sua correlação com as medidas feitas pelo ultra-som intracoronário, será menos intensa?
Tenho que me lembrar de comentar isso com ele...
Philip.
Por que não James, Paul, Michael, Nick, Jackson, Joseph?
Ligo para ela, depois de tantos anos?
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Diana Krall virá ao Brasil para fazer quatro shows em setembro - dois em São Paulo, um em Brasília e outro no Rio.
Krall vem ao Brasil para apresentar a turnê "Quiet Nights", que revisita o gênero imortalizado por Antônio Carlos Jobim, com direito a regravação de três clássicos do mestre.
A produção musical é assinada por Tommy LiPuma e os arranjos são de Claus Orgeman, com quem já havia trabalhado no multi-platinado "The Look Of Love", em 2001.
Acompanham Diana Krall os músicos Anthony Wilson (guitarras), John Clayton (baixo), Jeff Hamilton (bateria) e o brasileiro Paulinho da Costa (percussão).
Do repertório, fazem parte "Where Or When", "Walk On By", "Este Seu Olhar" e "So Nice".
Confirmadíssimo!
Krall vem ao Brasil para apresentar a turnê "Quiet Nights", que revisita o gênero imortalizado por Antônio Carlos Jobim, com direito a regravação de três clássicos do mestre.
A produção musical é assinada por Tommy LiPuma e os arranjos são de Claus Orgeman, com quem já havia trabalhado no multi-platinado "The Look Of Love", em 2001.
Acompanham Diana Krall os músicos Anthony Wilson (guitarras), John Clayton (baixo), Jeff Hamilton (bateria) e o brasileiro Paulinho da Costa (percussão).
Do repertório, fazem parte "Where Or When", "Walk On By", "Este Seu Olhar" e "So Nice".
Confirmadíssimo!
“Isso eu falo porque aconteceu mais meu pai. Foi dado um dia de serviço para um velho de nome Sanderlau por 2 litros de sal. E a mercadoria que levava o que era? Couro de gado, couro de gato, couro de catitu, era o dinheiro que levava” explica Eliseu, ancião da comunidade e que guarda, na memória, a saga vivida por seus ancestrais. “De descida o couro, de subida o sal”, acrescenta. O rio Tocantins se transformou, por mais de um século, em via do sal. Repetiu-se, nesse rio do sertão brasileiro, o fenômeno da Via Salária de Roma e do caminho do Sal dos Andes, que partiu de Buenos Aires e povoou o oeste, na direção do Chile. A mitologia em torno do sal ainda atravessa os Alpes franceses, o Saara africano e chega à Índia, quando Mahatma Gandhi promove a ruidosa marcha do sal. Os barcos eram chamados de batelão ou botes, e sua capacidade variava de 150 arrobas a 2 ½ toneladas. Na descida, levavam seis meses de viagem vencendo 2000 quilômetros de rio. 4/5 de cada barco eram ocupados pela carga de sal. Os Calunga não eram os únicos a se lançarem nesta travessia vital, mas de certo era a mais distante comunidade a usar o rio para este fim e, também, os que mais adversidades enfrentavam. Além das inúmeras cachoeiras e a enorme distância, os Calunga tinham que navegar escondidos e buscar ajuda em comunidades irmãs como os quilombos Balique, Buritizal e Igarapé Preto. Ademais, tinham que refazer o caminho rio acima com o barco carregado no limite da sua capacidade, basicamente de sal. Quem conta como era feita a viagem é o velho Casimiro, também da cidade de Paranã, a última antes de adentrarmos o território calunga seguindo rio acima.
“Chovia muito naquela época, chovia muito, o rio enchia, e como que esse bichos viajavam? Através de gancho e forquilha, agarrando galho de pau, o proeiro na frente com o ganchos jogando e puxando...”.
André Portugal Braga
“Chovia muito naquela época, chovia muito, o rio enchia, e como que esse bichos viajavam? Através de gancho e forquilha, agarrando galho de pau, o proeiro na frente com o ganchos jogando e puxando...”.
André Portugal Braga
Se ainda funcionasse, iria hoje ao Monte Carlo, na Duvivier, 21 (lembra-se?), impondo-me dúvida pantagruélica: carne-seca desfiada e acebolada, com purê de abóbora, farofa, arroz e caldo de feijão ou a rabada com agrião, arroz e feijão-manteiga.
E a cavaquinha grelhada, com arroz de amêndoas e passas ao molho de escargot?
E a cavaquinha grelhada, com arroz de amêndoas e passas ao molho de escargot?
James Patterson, autor de thrillers, lidera a lista dos escritores mais bem pagos do mundo publicada pela Forbes Magazine, cujo estudo se baseia tanto nas receitas das vendas de livros como da venda de direitos de adaptação para cinema e televisão.
Patterson surge em primeiro lugar com receitas de US$ 70 milhões.
No top ten dos escritores mais bem pagos figura também Stephanie Meyer, autora da saga Crepúsculo, com US$ 40 milhões.
Consta da lista, ainda, o eterno best-seller Stephen King, na terceira posição, com US$ 34 milhões.
Em quarto lugar, surge outra clássica dos best-seller, a escritora Danielle Steel, que ganhou US$ 32 milhões. Logo abaixo, aparece o escritor britânico Ken Follett, com US$ 15,7 milhões cuja aclamada novela "Os pilares da Terra" foi adaptada para uma mini-série televisiva nos EUA.
O autor norte-americano Dean Koontz foi o sexto, com US$ 18 milhões, enquanto que a autora de romance e aventura Janet Evanovich alcançou US$ 16 milhões.
A lista fica completa com John Grisham, Nicholas Sparks e a prolífica britânica J.K.Rowling, autora da saga Harry Potter, que lucrou 10 milhões de dólares no ano passado.
Muito dinheiro para tanta porcaria!
Patterson surge em primeiro lugar com receitas de US$ 70 milhões.
No top ten dos escritores mais bem pagos figura também Stephanie Meyer, autora da saga Crepúsculo, com US$ 40 milhões.
Consta da lista, ainda, o eterno best-seller Stephen King, na terceira posição, com US$ 34 milhões.
Em quarto lugar, surge outra clássica dos best-seller, a escritora Danielle Steel, que ganhou US$ 32 milhões. Logo abaixo, aparece o escritor britânico Ken Follett, com US$ 15,7 milhões cuja aclamada novela "Os pilares da Terra" foi adaptada para uma mini-série televisiva nos EUA.
O autor norte-americano Dean Koontz foi o sexto, com US$ 18 milhões, enquanto que a autora de romance e aventura Janet Evanovich alcançou US$ 16 milhões.
A lista fica completa com John Grisham, Nicholas Sparks e a prolífica britânica J.K.Rowling, autora da saga Harry Potter, que lucrou 10 milhões de dólares no ano passado.
Muito dinheiro para tanta porcaria!
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Quase uma tonelada, pele espessa, visão deficiente, excelente olfato e audição, chifre no nariz e ameaçado de extinção: essas eram as principais características de um fenômeno eleitoral brasileiro, o rinoceronte Cacareco.
Nas eleições de outubro de 1959, o simpático mamífero originário do sul da África foi o vereador mais votado da cidade de São Paulo, angariando quase 100 mil votos.
Criado no Rio de Janeiro, sua fulgurante trajetória política começou quando foi emprestado para participar da inauguração do Zoológico de São Paulo, em 1958. O carismático rinoceronte - que apesar do nome, era fêmea - conquistou o coração da população paulistana, tornando-se um grande sucesso de público.
Macaco Tião, o simpático chimpanzé nascido em 1963, teve 400 mil votos para a Prefeitura do Rio de Janeiro em 1988. Morador do zoológico da Quinta da Boa Vista, o animal foi lançado ao pleito pelos humoristas do Casseta e Planeta e conseguiu alcançar o terceiro lugar. Com 1,52 de altura e 70kg, sua principal atividade era jogar cocô nos visitantes do zoológico. A figura carismática do primata lhe rendeu homenagens quando morreu, em 1996. O prefeito César Maia declarou luto oficial e bandeiras festivas do Zoo Rio ficaram a meio mastro durante oito dias.
Tiririca, 2222.
500 mil votos, por baixo.
Quem aposta?
Nas eleições de outubro de 1959, o simpático mamífero originário do sul da África foi o vereador mais votado da cidade de São Paulo, angariando quase 100 mil votos.
Criado no Rio de Janeiro, sua fulgurante trajetória política começou quando foi emprestado para participar da inauguração do Zoológico de São Paulo, em 1958. O carismático rinoceronte - que apesar do nome, era fêmea - conquistou o coração da população paulistana, tornando-se um grande sucesso de público.
Macaco Tião, o simpático chimpanzé nascido em 1963, teve 400 mil votos para a Prefeitura do Rio de Janeiro em 1988. Morador do zoológico da Quinta da Boa Vista, o animal foi lançado ao pleito pelos humoristas do Casseta e Planeta e conseguiu alcançar o terceiro lugar. Com 1,52 de altura e 70kg, sua principal atividade era jogar cocô nos visitantes do zoológico. A figura carismática do primata lhe rendeu homenagens quando morreu, em 1996. O prefeito César Maia declarou luto oficial e bandeiras festivas do Zoo Rio ficaram a meio mastro durante oito dias.
Tiririca, 2222.
500 mil votos, por baixo.
Quem aposta?
"Sou do tempo dos salgadinhos reconhecíveis.
Você me entende: do tempo em que, diante da bandeja, a gente não tinha dúvidas — o que ali estava era croquete, coxinha, pastelzinho, empadinha, cigarrete, canapé, barquete ou pastel português. Sem chance de equívoco. Bem diferente, admita, dos dias de hoje, em que é preciso recorrer ao garçom para decifrar enigmas culinários, alguns deles tão complexos e empetecados que você se pergunta se não seriam, em vez de comida, peças decorativas, quem sabe uns ikebanas. Sim, vivemos a era do salgadinho que demanda apresentação. Deveria vir com legenda.
Nada contra a modernização do tira-gosto. Mas me dê um tempo para me adaptar. Outro dia, num casamento, estenderam na minha direção um artefato aparentemente comestível, algo como uma coxinha esférica, acoplada a um talo branco. Era, de fato, uma minicoxinha, creio que de frango — mas e o misterioso talo branco, grosso demais para ser palito? Na roda, um comensal mais ousado se aventurou a mastigá-lo, e aí se deu conta de que, naquele casamento chique, ele tinha na boca um vulgar pedaço de cana. Coxinha com cana — onde vamos parar? E o que fazer com o bagaço? Além de legenda, certos salgadinhos modernos demandam modo de usar.
Muita coisa surgiu na vida de meus maxilares tão fatigados desde a primeira dentição. Na minha infância belo-horizontina não tinha shiitake, rúcula e kiwi, por exemplo. Se alguém dissesse mamão papaia, daria a impressão de estar se referindo a certa modalidade sexual — tanto quanto a também inexistente quiche correria o risco de soar como interjeição: quiche Maria! Em compensação, tinha Crush, drops Dulcora, açúcar cândi, que depois sumiram do mapa.
Como sumiu o cajuzinho. Onde foi parar o cajuzinho? Você vai me dizer que não sei onde tem uma "dona" que faz. Coisas de Belo Horizonte: em alguma parte, em geral na periferia, tem sempre uma dona que faz o docinho, o salgadinho que desapareceu das vitrines. Não duvido de que nalgum recanto da capital haja uma dona do cajuzinho. Vai ver que a mesma do bolinho de feijão.
Esse foi outro que sumiu, o bolinho de feijão. O poeta Paulo Mendes Campos contou numa crônica que certa vez trouxe do Rio uma inglesa, exclusivamente para lhe aplicar o bolinho de feijão. Mas no bar de que fora frequentador, na Guajajaras, não havia um sequer. Como o poeta insistisse, o dono pôs um moleque para correr o Centro atrás de bolinho de feijão — e o saldo da expedição foram míseras três unidades, de três diferentes procedências. O escritor não estava inteirado da revolução por que passara o universo dos salgadinhos desde que ele deixou Belo Horizonte. Eis um assunto que deveria interessar aos estudiosos.
Não é o meu caso — sou mero (e voraz) consumidor, vivendo fora de Minas faz décadas —, mas arrisco uma hipótese. Houve um momento, ali pelo final dos anos 70, começo dos 80, em que hordas de salgadinhos modernos fizeram avassaladora entrada, expulsando os tradicionais para a periferia, reduto das "donas". O quartel-general da inovação pode ter sido a Torre Eiffel, que existiu na Espírito Santo com Goitacazes. Ou foi a também extinta Doce Docê, na subida da Afonso Pena? O fato é que a certa altura a paisagem do salgadinho passou a ser dominada pela coxa de catupiry. Lembra? Enorme, obesa! E dava trabalho a quem a abocanhava: era você cravar os dentes e o catupiry derretido, pelando, vazava queixo abaixo. Valia por um almoço. Havia, ainda, o camarão com catupiry — e camarão taludo, pois mineiro, privado de mar, vai à forra nesse quesito.
Gente, que fim levou a coxa de catupiry? Tem por aí alguma dona que faz?"
Humberto Werneck, Veja Belo Horizonte – Especial Comer & Beber.
Você me entende: do tempo em que, diante da bandeja, a gente não tinha dúvidas — o que ali estava era croquete, coxinha, pastelzinho, empadinha, cigarrete, canapé, barquete ou pastel português. Sem chance de equívoco. Bem diferente, admita, dos dias de hoje, em que é preciso recorrer ao garçom para decifrar enigmas culinários, alguns deles tão complexos e empetecados que você se pergunta se não seriam, em vez de comida, peças decorativas, quem sabe uns ikebanas. Sim, vivemos a era do salgadinho que demanda apresentação. Deveria vir com legenda.
Nada contra a modernização do tira-gosto. Mas me dê um tempo para me adaptar. Outro dia, num casamento, estenderam na minha direção um artefato aparentemente comestível, algo como uma coxinha esférica, acoplada a um talo branco. Era, de fato, uma minicoxinha, creio que de frango — mas e o misterioso talo branco, grosso demais para ser palito? Na roda, um comensal mais ousado se aventurou a mastigá-lo, e aí se deu conta de que, naquele casamento chique, ele tinha na boca um vulgar pedaço de cana. Coxinha com cana — onde vamos parar? E o que fazer com o bagaço? Além de legenda, certos salgadinhos modernos demandam modo de usar.
Muita coisa surgiu na vida de meus maxilares tão fatigados desde a primeira dentição. Na minha infância belo-horizontina não tinha shiitake, rúcula e kiwi, por exemplo. Se alguém dissesse mamão papaia, daria a impressão de estar se referindo a certa modalidade sexual — tanto quanto a também inexistente quiche correria o risco de soar como interjeição: quiche Maria! Em compensação, tinha Crush, drops Dulcora, açúcar cândi, que depois sumiram do mapa.
Como sumiu o cajuzinho. Onde foi parar o cajuzinho? Você vai me dizer que não sei onde tem uma "dona" que faz. Coisas de Belo Horizonte: em alguma parte, em geral na periferia, tem sempre uma dona que faz o docinho, o salgadinho que desapareceu das vitrines. Não duvido de que nalgum recanto da capital haja uma dona do cajuzinho. Vai ver que a mesma do bolinho de feijão.
Esse foi outro que sumiu, o bolinho de feijão. O poeta Paulo Mendes Campos contou numa crônica que certa vez trouxe do Rio uma inglesa, exclusivamente para lhe aplicar o bolinho de feijão. Mas no bar de que fora frequentador, na Guajajaras, não havia um sequer. Como o poeta insistisse, o dono pôs um moleque para correr o Centro atrás de bolinho de feijão — e o saldo da expedição foram míseras três unidades, de três diferentes procedências. O escritor não estava inteirado da revolução por que passara o universo dos salgadinhos desde que ele deixou Belo Horizonte. Eis um assunto que deveria interessar aos estudiosos.
Não é o meu caso — sou mero (e voraz) consumidor, vivendo fora de Minas faz décadas —, mas arrisco uma hipótese. Houve um momento, ali pelo final dos anos 70, começo dos 80, em que hordas de salgadinhos modernos fizeram avassaladora entrada, expulsando os tradicionais para a periferia, reduto das "donas". O quartel-general da inovação pode ter sido a Torre Eiffel, que existiu na Espírito Santo com Goitacazes. Ou foi a também extinta Doce Docê, na subida da Afonso Pena? O fato é que a certa altura a paisagem do salgadinho passou a ser dominada pela coxa de catupiry. Lembra? Enorme, obesa! E dava trabalho a quem a abocanhava: era você cravar os dentes e o catupiry derretido, pelando, vazava queixo abaixo. Valia por um almoço. Havia, ainda, o camarão com catupiry — e camarão taludo, pois mineiro, privado de mar, vai à forra nesse quesito.
Gente, que fim levou a coxa de catupiry? Tem por aí alguma dona que faz?"
Humberto Werneck, Veja Belo Horizonte – Especial Comer & Beber.
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
"Foi Torquato Neto quem me ensinou a amar São Paulo. Uma noite, estávamos em sua casa, um microapartamento no prédio do cine Metro – S.João (onde eu uma vez fui barrado por estar sem paletó e gravata) e ele percebeu meu desgosto com a metrópole
que eu não conseguia entender. Levantou-se, pegou um casaco e disse: - Vem comigo. Saímos andando enquanto ele, mansamente, me explicava a cidade, suas contradições e idiossincrasias, como em “Hannah e suas Irmãs”, de Woody Allen, quando Nova Iorque é
apresentada à personagem através da sua arquitetura, que revela parte integrante da alma da cidade. Quando o sol nasceu estávamos de volta ao prédio, e eu devida e definitivamente convertido".
Zé Rodrix
que eu não conseguia entender. Levantou-se, pegou um casaco e disse: - Vem comigo. Saímos andando enquanto ele, mansamente, me explicava a cidade, suas contradições e idiossincrasias, como em “Hannah e suas Irmãs”, de Woody Allen, quando Nova Iorque é
apresentada à personagem através da sua arquitetura, que revela parte integrante da alma da cidade. Quando o sol nasceu estávamos de volta ao prédio, e eu devida e definitivamente convertido".
Zé Rodrix
"La noticia del retorno de Fidel Castro a la vida pública, luego de cuatro años de ausencia, ha despertado fantasías e inquietudes, especialmente porque su inesperada reaparición ocurre justamente en el momento en que se aguardan con más desespero las reformas de su hermano Raúl, a quien heredó todos sus cargos desde julio de 2006.
La vuelta de los famosos suele repetirse con frecuencia, tanto en la vida real como en la ficción, trátese de Don Quijote o Casanovas, King Kong, Elvis Presley o Juan Domingo Perón. Recurrente es también la desilusión de quienes comprueban que todas aquellas cosas que se van, como las golondrinas de Becker, no volverán, al menos como solíamos recordarlas. Fidel Castro no ha estado exento de ese tono desvaído que tiene el remake, de esa cuota de desespero que se percibe en quienes insisten en regresar.
Este anciano balbuceante de manos temblorosas, nada tiene que ver con aquel fornido militar de perfil griego que desde una plaza, donde un millón de voces coreaba su nombre, proclamaba leyes que no habían sido consultadas con nadie, perdonaba vidas, anunciaba fusilamientos o pregonaba el derecho de los revolucionarios a hacer la revolución. Poco queda del hombre que durante horas ocupaba la programación televisiva y mantenía en vilo, del lado de acá de la pantalla, a todo un pueblo.
El gran improvisador de otros tiempos se reúne ahora en una pequeña sala de teatro con un auditorio de jóvenes a leerles un resumen de sus últimas reflexiones -ya publicadas en la prensa- y en lugar de inducir aquel pavor que hacía temblar a los más bravos, provoca, en el mejor de los casos, una tierna compasión. Una joven periodista le hace una pregunta complaciente y le pide públicamente un deseo: “Déjeme darle un beso” ¿Qué fue de aquel abismo que ninguna audacia se atrevía a saltar?
Una señal significativa de que la vuelta de Fidel Castro a los micrófonos no es bien vista es que ni siquiera su propio hermano quiso hacerse eco, en su más reciente discurso ante el parlamento, de los sombríos augurios que ha lanzado sobre lo inevitable de un próximo conflicto militar, cuyo escenario puede ser Corea del Norte o Irán y cuyo fatal desenlace será –según sus vaticinios- la conflagración nuclear. Muchos analistas apuntan al hecho de que el Máximo Líder apenas se digna a mirar los innumerables problemas de su país, limitándose a ver la paja en el ojo ajeno, ya sean los problemas ambientales del planeta, el agotamiento del capitalismo como sistema o estas recientes predicciones bélicas. Otros encuentran en su aparente indiferencia por el acontecer cubano, una velada señal de descontento. Si el César no aplaude algo anda mal, aunque no censure. Resulta impensable que él no esté enterado del apetito de cambios que devora hoy a la clase política cubana y sería demasiado ingenuo creer que él los aprobaría. Tantos años pendientes de los gestos de sus manos, de la forma en que arquea las cejas o del rictus de sus orejas, los fidelólogos lo suponen ahora imprevisible y temen que lo peor pueda ocurrir si se le ocurre despotricar contra los reformistas frente a las cámaras de la televisión.
Quizás por eso la impaciente camada de nuevos lobos no quiere avivar la ira del viejo comandante, próximo ya a cumplir 84 años. Los que desde las esferas del poder pretenden que se introduzcan cambios más radicales, aguardan agazapados su próxima recaída. Mientras quienes se preocupan auténticamente por la sobrevivencia del proceso se alarman ante el peligro que representa la evidente declinación del mito que durante cincuenta años personificó a la revolución cubana. ¿Por qué no se queda tranquilo en casa y nos deja trabajar? Piensan algunos, sin osar siquiera musitarlo.
Habíamos empezado a recordarlo como algo del pasado, que era hasta una forma noble de olvidarlo; muchos estaban disponiéndose a perdonarle sus errores y fracasos para colocarlo en algún ceniciento pedestal de la historia del siglo XX, donde su rostro -retratado en su último mejor momento- ya aparecía junto a los muertos ilustres. De pronto ha salido a exhibir impúdicamente sus achaques y a anunciar el fin del mundo, como si quisiera convencernos de que la vida después de él carecerá de sentido.
Durante las últimas semanas, aquel que fuera llamado el Uno, el Máximo Líder, el Caballo, o con el simple pronombre personal ÉL, se nos ha presentado despojado de su otrora subyugante carisma, para confirmarnos que aquel Fidel Castro –afortunadamente-ya no volverá, aunque por esta vez sea nuevamente noticia".
Yoani Sánchez
La vuelta de los famosos suele repetirse con frecuencia, tanto en la vida real como en la ficción, trátese de Don Quijote o Casanovas, King Kong, Elvis Presley o Juan Domingo Perón. Recurrente es también la desilusión de quienes comprueban que todas aquellas cosas que se van, como las golondrinas de Becker, no volverán, al menos como solíamos recordarlas. Fidel Castro no ha estado exento de ese tono desvaído que tiene el remake, de esa cuota de desespero que se percibe en quienes insisten en regresar.
Este anciano balbuceante de manos temblorosas, nada tiene que ver con aquel fornido militar de perfil griego que desde una plaza, donde un millón de voces coreaba su nombre, proclamaba leyes que no habían sido consultadas con nadie, perdonaba vidas, anunciaba fusilamientos o pregonaba el derecho de los revolucionarios a hacer la revolución. Poco queda del hombre que durante horas ocupaba la programación televisiva y mantenía en vilo, del lado de acá de la pantalla, a todo un pueblo.
El gran improvisador de otros tiempos se reúne ahora en una pequeña sala de teatro con un auditorio de jóvenes a leerles un resumen de sus últimas reflexiones -ya publicadas en la prensa- y en lugar de inducir aquel pavor que hacía temblar a los más bravos, provoca, en el mejor de los casos, una tierna compasión. Una joven periodista le hace una pregunta complaciente y le pide públicamente un deseo: “Déjeme darle un beso” ¿Qué fue de aquel abismo que ninguna audacia se atrevía a saltar?
Una señal significativa de que la vuelta de Fidel Castro a los micrófonos no es bien vista es que ni siquiera su propio hermano quiso hacerse eco, en su más reciente discurso ante el parlamento, de los sombríos augurios que ha lanzado sobre lo inevitable de un próximo conflicto militar, cuyo escenario puede ser Corea del Norte o Irán y cuyo fatal desenlace será –según sus vaticinios- la conflagración nuclear. Muchos analistas apuntan al hecho de que el Máximo Líder apenas se digna a mirar los innumerables problemas de su país, limitándose a ver la paja en el ojo ajeno, ya sean los problemas ambientales del planeta, el agotamiento del capitalismo como sistema o estas recientes predicciones bélicas. Otros encuentran en su aparente indiferencia por el acontecer cubano, una velada señal de descontento. Si el César no aplaude algo anda mal, aunque no censure. Resulta impensable que él no esté enterado del apetito de cambios que devora hoy a la clase política cubana y sería demasiado ingenuo creer que él los aprobaría. Tantos años pendientes de los gestos de sus manos, de la forma en que arquea las cejas o del rictus de sus orejas, los fidelólogos lo suponen ahora imprevisible y temen que lo peor pueda ocurrir si se le ocurre despotricar contra los reformistas frente a las cámaras de la televisión.
Quizás por eso la impaciente camada de nuevos lobos no quiere avivar la ira del viejo comandante, próximo ya a cumplir 84 años. Los que desde las esferas del poder pretenden que se introduzcan cambios más radicales, aguardan agazapados su próxima recaída. Mientras quienes se preocupan auténticamente por la sobrevivencia del proceso se alarman ante el peligro que representa la evidente declinación del mito que durante cincuenta años personificó a la revolución cubana. ¿Por qué no se queda tranquilo en casa y nos deja trabajar? Piensan algunos, sin osar siquiera musitarlo.
Habíamos empezado a recordarlo como algo del pasado, que era hasta una forma noble de olvidarlo; muchos estaban disponiéndose a perdonarle sus errores y fracasos para colocarlo en algún ceniciento pedestal de la historia del siglo XX, donde su rostro -retratado en su último mejor momento- ya aparecía junto a los muertos ilustres. De pronto ha salido a exhibir impúdicamente sus achaques y a anunciar el fin del mundo, como si quisiera convencernos de que la vida después de él carecerá de sentido.
Durante las últimas semanas, aquel que fuera llamado el Uno, el Máximo Líder, el Caballo, o con el simple pronombre personal ÉL, se nos ha presentado despojado de su otrora subyugante carisma, para confirmarnos que aquel Fidel Castro –afortunadamente-ya no volverá, aunque por esta vez sea nuevamente noticia".
Yoani Sánchez
"Os Sertões de Leste de Minas - achegas para a história da Zona da Mata", de Celso Falabella de Figueiredo Castro, revela-nos que em 1860, pouco antes de elevar-se à condição de cidade, a vila de Mar de Espanha era riscada por várias ruas, possuía 21 sobrados, 3 edifícios com sacadas de ferro, comércio ativo, 2.000 habitantes na sede e um movimento de exportação de café da ordem de 300.000 arrobas.
Emancipada, a cidade incorpora as posturas da Câmara Municipal da ex-vila de São João Nepomuceno, que passam a nortear o comportamento de seus habitantes e a ordenar o seu crescimento.
Quanto às vozerias nas ruas, injúrias e obscenidades contra a moral pública, foram definidas, em 1854, entre outras, as seguintes convenções:
ART. 63 – São prohibidos os tiros de qualquer arma de fogo dentro da Villa e Povoação, as vozerias, gritos, e alaridos nas ruas; assim como é prohibido a quaesquer trabalhadores gritarem pela rua, com pena de 48 horas de prisão, e 1$000 de multa.
ART. 64 – Toda a pessoa que escrever dísticos e figuras obscenas sobre as paredes dos edifícios ou muros, e mesmo palavras indecentes, soffrerá as penas do artigo antecedente. Os donos ou administradores dos edifícios ou muros, serão avisados para dentro em 24 horas os mandar apagar, sob pena da multa de 1$000. Se os edifícios forem públicos, os Fiscaes participarão por officio ao Procurador da Camara para o mandar fazer á custa d´ella.
ART. 65 – Ninguém poderá, dentro da Vila e nas Povoações, ter depositados materiaes na rua, sem preceder licença da Camara, que somente lhe será dada com a clausula de não estorvar a passagem de carros, e deter em toda a noite luz em lanterna, quando não houver luar, para evitar o incommodo dos viandantes. O que o contrario obrar será multado em 6$000.
Cento e cinquenta depois, as disposições que permitiram àquela vila e seus habitantes o estabelecimento de algumas regras de conduta e bem-viver mostram-se atualizadíssimas.
Emancipada, a cidade incorpora as posturas da Câmara Municipal da ex-vila de São João Nepomuceno, que passam a nortear o comportamento de seus habitantes e a ordenar o seu crescimento.
Quanto às vozerias nas ruas, injúrias e obscenidades contra a moral pública, foram definidas, em 1854, entre outras, as seguintes convenções:
ART. 63 – São prohibidos os tiros de qualquer arma de fogo dentro da Villa e Povoação, as vozerias, gritos, e alaridos nas ruas; assim como é prohibido a quaesquer trabalhadores gritarem pela rua, com pena de 48 horas de prisão, e 1$000 de multa.
ART. 64 – Toda a pessoa que escrever dísticos e figuras obscenas sobre as paredes dos edifícios ou muros, e mesmo palavras indecentes, soffrerá as penas do artigo antecedente. Os donos ou administradores dos edifícios ou muros, serão avisados para dentro em 24 horas os mandar apagar, sob pena da multa de 1$000. Se os edifícios forem públicos, os Fiscaes participarão por officio ao Procurador da Camara para o mandar fazer á custa d´ella.
ART. 65 – Ninguém poderá, dentro da Vila e nas Povoações, ter depositados materiaes na rua, sem preceder licença da Camara, que somente lhe será dada com a clausula de não estorvar a passagem de carros, e deter em toda a noite luz em lanterna, quando não houver luar, para evitar o incommodo dos viandantes. O que o contrario obrar será multado em 6$000.
Cento e cinquenta depois, as disposições que permitiram àquela vila e seus habitantes o estabelecimento de algumas regras de conduta e bem-viver mostram-se atualizadíssimas.
"Suas roupas são limpas e pobres, ela não se veste como as mulheres da sua idade, em Copacabana, que se vêem como jovens e desfilam em apertadas roupas esportivas. Seu cabelo é grisalho e não pintado de louro, como é costume por aqui. Nem sua pele é queimada pelo sol do último verão e agora, no inverno, começa a adquirir um tom meio acinzentado.
Ela também não se pinta em cores vermelhas. Passaria praticamente despercebida, em sua tonalidade de vestes escuras. Não teria chamado a atenção se não caminhasse todas as tardes, em volta do mesmo quarteirão, todos os dias: o quadrilátero formado por Barata Ribeiro, Paula Freitas, Nossa Senhora de Copacabana, República do Peru e novamente Barata Ribeiro, continuadamente.
Fuma sem parar, olha sempre para o chão. Alheia ao movimento das ruas, às pessoas que passam a seu lado, ao trânsito louco do fim do dia".
Celso Japiassu
Ela também não se pinta em cores vermelhas. Passaria praticamente despercebida, em sua tonalidade de vestes escuras. Não teria chamado a atenção se não caminhasse todas as tardes, em volta do mesmo quarteirão, todos os dias: o quadrilátero formado por Barata Ribeiro, Paula Freitas, Nossa Senhora de Copacabana, República do Peru e novamente Barata Ribeiro, continuadamente.
Fuma sem parar, olha sempre para o chão. Alheia ao movimento das ruas, às pessoas que passam a seu lado, ao trânsito louco do fim do dia".
Celso Japiassu
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
A relação de Roniquito com os escritores era cruel. Ao cruzar com Fernando Sabino num restaurante, Roniquito perguntou-lhe: "Fernando Sabino, quem escreve melhor, você ou Nelson Rodrigues?". Fernando gaguejou: "Bem...Nelson Rodrigues, é claro". Mas Roniquito fulminou: "E quem é você para julgar Nelson Rodrigues?". Fez pior com Antonio Callado, a quem perguntou se já tinha lido Faulkner. Callado disse que, evidentemente, já tinha lido. "Bem, se já leu Falkner, você sabe que você é um bosta", disse Roniquito.
Ruy Castro
Ruy Castro
Ganhadora do National Book Award, do Pulitzer em 1956, do Prêmio da American Academy of Arts and Letters, Elizabeth Bishop foi a primeira mulher a receber o Prêmio Neustadt.
No início dos anos 1950, durante uma viagem de circunavegação pela América do Sul, decidiu desembarcar em Santos, indo, em seguida, para o Rio de Janeiro, encontrando-se com Maria Carlota de Macedo Soares, a Lota, que seria sua companheira por muitos anos.
Levado por José Alberto Nemer, visitei sua casa em Ouro Preto, a casa Mariana, nas Lajes, que foi vendida após o suicídio de Lota, no início da década de 1970, quando retornou definitivamente para os Estados Unidos.
Gastava meses, por vezes anos, escrevendo um único poema, trabalhando para obter um sentido de espontaneidade. Seus poemas mal escondem as dificuldades como órfã e viajante sem raízes freqüentemente hospitalizada por conta da depressão e do alcoolismo.
“A arte de perder não é nenhum mistério
tantas coisas contém em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouco a cada dia. Aceite austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. Um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
Mesmo perder você ( a voz, o ar etéreo, que eu amo)
não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser um mistério
por muito que pareça (escreve) muito sério”.
Uma arte.
No início dos anos 1950, durante uma viagem de circunavegação pela América do Sul, decidiu desembarcar em Santos, indo, em seguida, para o Rio de Janeiro, encontrando-se com Maria Carlota de Macedo Soares, a Lota, que seria sua companheira por muitos anos.
Levado por José Alberto Nemer, visitei sua casa em Ouro Preto, a casa Mariana, nas Lajes, que foi vendida após o suicídio de Lota, no início da década de 1970, quando retornou definitivamente para os Estados Unidos.
Gastava meses, por vezes anos, escrevendo um único poema, trabalhando para obter um sentido de espontaneidade. Seus poemas mal escondem as dificuldades como órfã e viajante sem raízes freqüentemente hospitalizada por conta da depressão e do alcoolismo.
“A arte de perder não é nenhum mistério
tantas coisas contém em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouco a cada dia. Aceite austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. Um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
Mesmo perder você ( a voz, o ar etéreo, que eu amo)
não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser um mistério
por muito que pareça (escreve) muito sério”.
Uma arte.
"Perdoem a cara amarrada,
Perdoem a falta de abraço,
Perdoem a falta de espaço,
Os dias eram assim...
Perdoem por tantos perigos,
Perdoem a falta de abrigo,
Perdoem a falta de amigos,
Os dias eram assim...
Perdoem a falta de folhas,
Perdoem a falta de ar
Perdoem a falta de escolha,
Os dias eram assim...
E quando passarem a limpo,
E quando cortarem os laços,
E quando soltarem os cintos,
Façam a festa por mim...
E quando lavarem a mágoa,
E quando lavarem a alma
E quando lavarem a água,
Lavem os olhos por mim...
Quando brotarem as flores,
Quando crescerem as matas,
Quando colherem os frutos,
Digam o gosto pra mim..."
Aos Nossos Filhos, de Ivan Lins e Vitor Martins
Perdoem a falta de abraço,
Perdoem a falta de espaço,
Os dias eram assim...
Perdoem por tantos perigos,
Perdoem a falta de abrigo,
Perdoem a falta de amigos,
Os dias eram assim...
Perdoem a falta de folhas,
Perdoem a falta de ar
Perdoem a falta de escolha,
Os dias eram assim...
E quando passarem a limpo,
E quando cortarem os laços,
E quando soltarem os cintos,
Façam a festa por mim...
E quando lavarem a mágoa,
E quando lavarem a alma
E quando lavarem a água,
Lavem os olhos por mim...
Quando brotarem as flores,
Quando crescerem as matas,
Quando colherem os frutos,
Digam o gosto pra mim..."
Aos Nossos Filhos, de Ivan Lins e Vitor Martins
terça-feira, 24 de agosto de 2010
Ao contrário do que esperava, pouca coisa aconteceu naquele dia, quase nada.
Andou, na hora do almoço, pelas ruas próximas do escritório.
Notou, inquieto, a mudança do bairro.
Edifícios recém-construídos fazendo vizinhança com antigas oficinas mecânicas e sobrados sem gente nas janelas, sem ruídos ou vestígios.
Não voltou mais para aquelas bandas.
Andou, na hora do almoço, pelas ruas próximas do escritório.
Notou, inquieto, a mudança do bairro.
Edifícios recém-construídos fazendo vizinhança com antigas oficinas mecânicas e sobrados sem gente nas janelas, sem ruídos ou vestígios.
Não voltou mais para aquelas bandas.
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Em Bléré, Indre/Loire, distante 230 km de Paris e 45 km de Blois, o “Le Cheval Blanc”, Pl L’eglise/Charles Bidault, comandado por Helen Tevernier, cotação 13 no Gault Millau, é excelente!
Na Borgonha, Autun, Saône/Loire, perto de Dijon (85 km), o “Les Ursulines, 14 Rue Rivault, conduzido pelo Chef Tierry Chateau, cotação 14 no mesmo guia, é igualmente sensacional ("Noix de St Jacques poêlée, pois gourmands justes saisis, sauce à l'encre de seiche" é de comer ajoelhado!).
Na Borgonha, Autun, Saône/Loire, perto de Dijon (85 km), o “Les Ursulines, 14 Rue Rivault, conduzido pelo Chef Tierry Chateau, cotação 14 no mesmo guia, é igualmente sensacional ("Noix de St Jacques poêlée, pois gourmands justes saisis, sauce à l'encre de seiche" é de comer ajoelhado!).
Olhou-a sem ressentimento.
Com um movimento do quadril, fez com que a cadeira onde estava sentado se aproximasse um pouco mais da mesa de trabalho, debruçando-se sobre ela.
Tomou o cuidado para que o gesto não parecesse uma intimidação.
Tocou-lhe os cabelos levemente e conseguiu, rigorosamente, que ela entendesse que não havia necessidade de dissimulação.
Por que aquilo, então?
Com um movimento do quadril, fez com que a cadeira onde estava sentado se aproximasse um pouco mais da mesa de trabalho, debruçando-se sobre ela.
Tomou o cuidado para que o gesto não parecesse uma intimidação.
Tocou-lhe os cabelos levemente e conseguiu, rigorosamente, que ela entendesse que não havia necessidade de dissimulação.
Por que aquilo, então?
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Frederico Pernambucano de Mello mergulha em um universo desconhecido para inventariar o requinte e os significados presentes nas poucas peças autênticas de uso dos cangaceiros, a exemplo do signo-de-salomão, da cruz-de-malta, da flor-de-lis, do oito contínuo deitado, das gregas, de variações sublimadas da flora local e das tantas combinações possíveis de que se valiam na construção de um traje que atendia à vaidade ornamental de seu estilo guerreiro e a anseios bem compreensíveis de proteção mística. O resultado desse projeto pode ser conferido em "Estrelas de couro: a estética do cangaço", lançado pela Escrituras.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
“Afirmo sem medo de errar que os bares são os estabelecimentos e espaços públicos de maior contribuição à formação da alma das cidades. Ruas, praias, praças e igrejas não têm sua dimensão existencial.
Podem-se metaforizar as ruas como as veias por onde corre o sangue citadino. As praias servem exclusivamente ao lazer, prazer e vaidades dos cidadãos. Todos sabem que as praças são locais de encontros superficiais, e as igrejas, apesar de tentarem expulsar, não conseguem abrigar os demônios que nos possuem.
O único local onde qualquer vivente pode extravasar a complexidade da vida é o bar. Solidão, tristeza, alegria, vício, virtude, riqueza, pobreza, ódio, amor, doença, saúde, drama, tragédia, comédia. Só ele, historicamente, ao longo de centenas de anos, sem sombra de dúvida, em função do que proporciona aos cidadãos, adquiriu a condição de bem aglutinar a vida das cidades e de quem mora nelas. E, se dizemos que a alma das cidades está em seus bares, é curioso notar que, sendo a alma do sexo feminino (alguém duvida?), é por isso que o bar é o único lugar do mundo em que homens prescindem de mulheres. Ali, elas não fazem falta porque essa outra entidade feminina as substitui, e isso lhes basta".
Paulo Maldonado
Podem-se metaforizar as ruas como as veias por onde corre o sangue citadino. As praias servem exclusivamente ao lazer, prazer e vaidades dos cidadãos. Todos sabem que as praças são locais de encontros superficiais, e as igrejas, apesar de tentarem expulsar, não conseguem abrigar os demônios que nos possuem.
O único local onde qualquer vivente pode extravasar a complexidade da vida é o bar. Solidão, tristeza, alegria, vício, virtude, riqueza, pobreza, ódio, amor, doença, saúde, drama, tragédia, comédia. Só ele, historicamente, ao longo de centenas de anos, sem sombra de dúvida, em função do que proporciona aos cidadãos, adquiriu a condição de bem aglutinar a vida das cidades e de quem mora nelas. E, se dizemos que a alma das cidades está em seus bares, é curioso notar que, sendo a alma do sexo feminino (alguém duvida?), é por isso que o bar é o único lugar do mundo em que homens prescindem de mulheres. Ali, elas não fazem falta porque essa outra entidade feminina as substitui, e isso lhes basta".
Paulo Maldonado
A edição do JB de 10/2/2004 trouxe, no Caderno B, entrevista
com o ator, roteirista e diretor Jack Nicholson. Ele havia
acabado de filmar “Something’s Gotta Give”, juntamente
com Diane Keaton e Keanu Reeves – direção de Nancy Meyers -,
interpretando o produtor musical Harry Sanborn. Após sofrer uma
parada cardíaca, apaixona-se pela mãe de sua atual namorada.
Indagado se não era estranho ser um galã, um símbolo sexual
aos 63 anos, respondeu: “Meu amigo David Bailey, o fotógrafo,
deu a melhor definição para a nossa geração: nós somos os
novos velhos. Ele disse isso quando tínhamos 50 anos, e isso se
aplica ainda mais ao modo como vivemos hoje. Não sei se é a
medicina, o estilo de vida, a alimentação. Mas a verdade é que
nossa geração de idosos é diferente de qualquer outra geração
anterior. Eu sempre convivi com homens mais velhos que eu, e
que aos 40 anos já tinham corcunda. Isso mudou. Agora eu posso
ser o galã de uma comédia romântica. Eu descobri muito cedo
o que viria a ser o lema da minha vida. Aos 30 anos, você deve
ter desenvolvido a sua inteligência social, sob pena de morrer
de tédio aos 50. Basicamente, é o seguinte: até os 28 anos você
pode fazer o que quiser da sua vida. Daí pra frente, você tem
que se cultivar, ler mais. Passar dos clubes às salas de ópera,
saber conviver em sociedade para não morrer de solidão”.
com o ator, roteirista e diretor Jack Nicholson. Ele havia
acabado de filmar “Something’s Gotta Give”, juntamente
com Diane Keaton e Keanu Reeves – direção de Nancy Meyers -,
interpretando o produtor musical Harry Sanborn. Após sofrer uma
parada cardíaca, apaixona-se pela mãe de sua atual namorada.
Indagado se não era estranho ser um galã, um símbolo sexual
aos 63 anos, respondeu: “Meu amigo David Bailey, o fotógrafo,
deu a melhor definição para a nossa geração: nós somos os
novos velhos. Ele disse isso quando tínhamos 50 anos, e isso se
aplica ainda mais ao modo como vivemos hoje. Não sei se é a
medicina, o estilo de vida, a alimentação. Mas a verdade é que
nossa geração de idosos é diferente de qualquer outra geração
anterior. Eu sempre convivi com homens mais velhos que eu, e
que aos 40 anos já tinham corcunda. Isso mudou. Agora eu posso
ser o galã de uma comédia romântica. Eu descobri muito cedo
o que viria a ser o lema da minha vida. Aos 30 anos, você deve
ter desenvolvido a sua inteligência social, sob pena de morrer
de tédio aos 50. Basicamente, é o seguinte: até os 28 anos você
pode fazer o que quiser da sua vida. Daí pra frente, você tem
que se cultivar, ler mais. Passar dos clubes às salas de ópera,
saber conviver em sociedade para não morrer de solidão”.
Meses antes de sua morte, em 2004, o artista criou a Fundação Helmut Newton, que agora cuida de seu trabalho e possui dois andares do antigo Landwehrkasino, Berlim.
Newton passou seus primeiros 18 anos na Alemanha, indo depois para a Austrália.
Mais tarde, ele começou a trabalhar para a Vogue e tornou-se um fotógrafo excepcionalmente bem sucedido, sendo o primeiro a definir o erotismo como conceito na fotografia de moda.
O Helmut Newton Museum exibe a coleção privada de Newton, que contém muitas de suas câmeras, objetos de uso pessoal, uma oficina reconstruída e vídeos, além de suas fotos.
No foyer, portraits em grande formato das primeiras modelos nuas fotografadas por ele.
Newton passou seus primeiros 18 anos na Alemanha, indo depois para a Austrália.
Mais tarde, ele começou a trabalhar para a Vogue e tornou-se um fotógrafo excepcionalmente bem sucedido, sendo o primeiro a definir o erotismo como conceito na fotografia de moda.
O Helmut Newton Museum exibe a coleção privada de Newton, que contém muitas de suas câmeras, objetos de uso pessoal, uma oficina reconstruída e vídeos, além de suas fotos.
No foyer, portraits em grande formato das primeiras modelos nuas fotografadas por ele.
terça-feira, 17 de agosto de 2010
No início, os campos eram rabiscados nas calçadas - "Eu igual a toda meninada, quanta travessura que eu fazia, jogo de botões sobre a calçada, eu era feliz e não sabia" (Ataulfo Alves) -, mas os botões não deslizavam bem. Depois, chegaram às mesas de jantar, muito mais convenientes. Naquela época, os botões de casacos mais pesados viravam zagueiros, os menores viravam atacantes e os pequeninos botões de ceroulas eram transformados em bola. Os goleiros eram caixas de fósforos. Até serem industrializados na década de 70, os jogadores foram forjados com fichas de cassino, de ônibus, tampas de relógios e pedaços de casca de coco, entre outros objetos.
Famosos ficaram os "botões de osso" ou de "paletó”, que nada mais eram que os botões retirados dos antigos ternos sociais; dentre esses, uma classe de botões conhecida como "Paulo Caminha", marcou época.
Famosos ficaram os "botões de osso" ou de "paletó”, que nada mais eram que os botões retirados dos antigos ternos sociais; dentre esses, uma classe de botões conhecida como "Paulo Caminha", marcou época.
O que Vinícius de Moraes acharia da decisão do Itamaraty oficializada ontem promovendo-o à categoria de embaixador, 30 anos depois de sua morte?
"... Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrar
Muitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo.
Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte do mundo
E as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindo
A saudade de seus homens; contem-lhe que há um vácuo
Nos olhos dos párias, e sua magreza é extrema; contem-lhe
Que a vergonha, a desonra, o suicídio rondam os lares, e é preciso
reconquistar a vida
Façam-lhe ver que é preciso eu estar alerta, voltado para todos os caminhos
Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for preciso.
Ponderem-lhe, com cuidado – não a magoem... – que se não vou
Não é porque não queira: ela sabe; é porque há um herói num cárcere
Há um lavrador que foi agredido, há um poça de sangue numa praça.
Contem-lhe, bem em segredo, que eu devo estar prestes, que meus
Ombros não se devem curvar, que meus olhos não se devem
Deixar intimidar, que eu levo nas costas a desgraça dos homens
E não é o momento de parar agora; digam-lhe, no entanto
Que sofro muito, mas não posso mostrar meu sofrimento
Aos homens perplexos; digam-lhe que me foi dada
A terrível participação, e que possivelmente
Deverei enganar, fingir, falar com palavras alheias
Porque sei que há, longínqua, a claridade de uma aurora.
Se ela não compreender, oh procurem convencê-la
Desse invencível dever que é o meu; mas digam-lhe
Que, no fundo, tudo o que estou dando é dela, e que me
Dói ter de despojá-la assim, neste poema; que por outro lado
Não devo usá-la em seu mistério: a hora é de esclarecimento
Nem debruçar-me sobre mim quando a meu lado
Há fome e mentira; e um pranto de criança sozinha numa estrada
Junto a um cadáver de mãe: digam-lhe que há
Um náufrago no meio do oceano, um tirano no poder, um homem
Arrependido; digam-lhe que há uma casa vazia
Com um relógio batendo horas; digam-lhe que há um grande
Aumento de abismos na terra, há súplicas, há vociferações
Há fantasmas que me visitam de noite
E que me cumpre receber, contem a ela da minha certeza
No amanhã
Que sinto um sorriso no rosto invisível da noite
Vivo em tensão ante a expectativa do milagre; por isso
Peçam-lhe que tenha paciência, que não me chame agora
Com a sua voz de sombra; que não me faça sentir covarde
De ter de abandoná-la neste instante, em sua imensurável
Solidão, peçam-lhe, oh peçam-lhe que se cale
Por um momento, que não me chame
Porque não posso ir
Não posso ir
Não posso..."
"... Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrar
Muitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo.
Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte do mundo
E as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindo
A saudade de seus homens; contem-lhe que há um vácuo
Nos olhos dos párias, e sua magreza é extrema; contem-lhe
Que a vergonha, a desonra, o suicídio rondam os lares, e é preciso
reconquistar a vida
Façam-lhe ver que é preciso eu estar alerta, voltado para todos os caminhos
Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for preciso.
Ponderem-lhe, com cuidado – não a magoem... – que se não vou
Não é porque não queira: ela sabe; é porque há um herói num cárcere
Há um lavrador que foi agredido, há um poça de sangue numa praça.
Contem-lhe, bem em segredo, que eu devo estar prestes, que meus
Ombros não se devem curvar, que meus olhos não se devem
Deixar intimidar, que eu levo nas costas a desgraça dos homens
E não é o momento de parar agora; digam-lhe, no entanto
Que sofro muito, mas não posso mostrar meu sofrimento
Aos homens perplexos; digam-lhe que me foi dada
A terrível participação, e que possivelmente
Deverei enganar, fingir, falar com palavras alheias
Porque sei que há, longínqua, a claridade de uma aurora.
Se ela não compreender, oh procurem convencê-la
Desse invencível dever que é o meu; mas digam-lhe
Que, no fundo, tudo o que estou dando é dela, e que me
Dói ter de despojá-la assim, neste poema; que por outro lado
Não devo usá-la em seu mistério: a hora é de esclarecimento
Nem debruçar-me sobre mim quando a meu lado
Há fome e mentira; e um pranto de criança sozinha numa estrada
Junto a um cadáver de mãe: digam-lhe que há
Um náufrago no meio do oceano, um tirano no poder, um homem
Arrependido; digam-lhe que há uma casa vazia
Com um relógio batendo horas; digam-lhe que há um grande
Aumento de abismos na terra, há súplicas, há vociferações
Há fantasmas que me visitam de noite
E que me cumpre receber, contem a ela da minha certeza
No amanhã
Que sinto um sorriso no rosto invisível da noite
Vivo em tensão ante a expectativa do milagre; por isso
Peçam-lhe que tenha paciência, que não me chame agora
Com a sua voz de sombra; que não me faça sentir covarde
De ter de abandoná-la neste instante, em sua imensurável
Solidão, peçam-lhe, oh peçam-lhe que se cale
Por um momento, que não me chame
Porque não posso ir
Não posso ir
Não posso..."
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
O primeiro mercado do Rio de Janeiro foi projetado, no século XIX, pelo arquiteto francês Grandjean de Montigny, na beira da antiga praia de D. Manuel, junto do largo do Paço.
Um novo mercado, bem maior, foi inaugurado pelo prefeito Pereira Passos em 1908, como parte das grandes obras de remodelação urbana. Tinha planta quadrada, com pavilhões longitudinais e cinco torreões octogonais – um maior no centro, com relógio, e quatro menores nos ângulos externos.
Em 1933, num desses torreões menores, começou a funcionar o restaurante Albamar. Nos anos 50, o mercado foi demolido para a construção do elevado da Perimetral, mas o torreão do restaurante Albamar sobreviveu, solitário, com sua belíssima estrutura metálica importada da Bélgica e da Inglaterra.
Desde janeiro deste ano. sob o comando do chef Luiz Incao, egresso do Copacabana Palace, o tradicional restaurante passou por reformas que deram novo aspecto ao lugar, sem desfigurá-lo. As ostras frescas ao limão acompanham bem a vista da Baía de Guanabara. Às receitas tradicionais como o Filé de badejo guarnecido de legumes, somam-se as novidades do chef, como o Congro-rosa à romana, com purê de batata-baroa e molho de tomate anchovado, e o Creme brûlé de goiabada e queijo de minas.
É hoje!
Um novo mercado, bem maior, foi inaugurado pelo prefeito Pereira Passos em 1908, como parte das grandes obras de remodelação urbana. Tinha planta quadrada, com pavilhões longitudinais e cinco torreões octogonais – um maior no centro, com relógio, e quatro menores nos ângulos externos.
Em 1933, num desses torreões menores, começou a funcionar o restaurante Albamar. Nos anos 50, o mercado foi demolido para a construção do elevado da Perimetral, mas o torreão do restaurante Albamar sobreviveu, solitário, com sua belíssima estrutura metálica importada da Bélgica e da Inglaterra.
Desde janeiro deste ano. sob o comando do chef Luiz Incao, egresso do Copacabana Palace, o tradicional restaurante passou por reformas que deram novo aspecto ao lugar, sem desfigurá-lo. As ostras frescas ao limão acompanham bem a vista da Baía de Guanabara. Às receitas tradicionais como o Filé de badejo guarnecido de legumes, somam-se as novidades do chef, como o Congro-rosa à romana, com purê de batata-baroa e molho de tomate anchovado, e o Creme brûlé de goiabada e queijo de minas.
É hoje!
O dia está frio.
Vamos lá, então!
1. Preaqueça o forno a 175 ºC.
2. Ponha uma panela grande no fogo médio. Frite o bacon e a linguiça. O bacon deve soltar a sua gordura e a linguiça deve ficar levemente corada. Tire-os da panela com uma escumadeira e transfira para uma panela de ferro.
3. Passe a carne de porco cortada em cubos na farinha de trigo. Em seguida, frite a carne na gordura do bacon, até dourar. Com uma escumadeira, tire a carne da panela e coloque-a junto com o bacon e a linguiça. Na panela em que a carne foi frita, adicione o alho, a cebola, a cenoura, o cogumelo fresco, o repolho e o chucrute. Abaixe o fogo e cozinhe os legumes até que a cenoura esteja macia, cerca de 10 minutos. Não deixe que os legumes escureçam.
4. Acrescente o vinho. Com uma colher de pau mexa a panela, tentando soltar qualquer resíduo de carne, de farinha ou de legume que possa ter grudado no fundo. Junte a folha de louro, o manjericão, a manjerona, a páprica, o sal, a pimenta, as sementes de cominho-armênio e a pimenta-caiena. Cozinhe por 1 minuto.
5. Misture o cogumelo seco, o molho de pimenta, o molho inglês, o caldo de carne, o extrato de tomate e o tomate pelado. Aumente o fogo, até que o molho comece a ferver. Ponha o molho com os legumes junto com as carnes. Tampe a travessa.
6. Asse no forno preaquecido por 2 1/2 a 3 horas, até que a carne esteja bem macia.
O "Bigos" é uma receita polonesa de tradição secular, absolutamente divina.
Mãos à obra!
Vamos lá, então!
1. Preaqueça o forno a 175 ºC.
2. Ponha uma panela grande no fogo médio. Frite o bacon e a linguiça. O bacon deve soltar a sua gordura e a linguiça deve ficar levemente corada. Tire-os da panela com uma escumadeira e transfira para uma panela de ferro.
3. Passe a carne de porco cortada em cubos na farinha de trigo. Em seguida, frite a carne na gordura do bacon, até dourar. Com uma escumadeira, tire a carne da panela e coloque-a junto com o bacon e a linguiça. Na panela em que a carne foi frita, adicione o alho, a cebola, a cenoura, o cogumelo fresco, o repolho e o chucrute. Abaixe o fogo e cozinhe os legumes até que a cenoura esteja macia, cerca de 10 minutos. Não deixe que os legumes escureçam.
4. Acrescente o vinho. Com uma colher de pau mexa a panela, tentando soltar qualquer resíduo de carne, de farinha ou de legume que possa ter grudado no fundo. Junte a folha de louro, o manjericão, a manjerona, a páprica, o sal, a pimenta, as sementes de cominho-armênio e a pimenta-caiena. Cozinhe por 1 minuto.
5. Misture o cogumelo seco, o molho de pimenta, o molho inglês, o caldo de carne, o extrato de tomate e o tomate pelado. Aumente o fogo, até que o molho comece a ferver. Ponha o molho com os legumes junto com as carnes. Tampe a travessa.
6. Asse no forno preaquecido por 2 1/2 a 3 horas, até que a carne esteja bem macia.
O "Bigos" é uma receita polonesa de tradição secular, absolutamente divina.
Mãos à obra!
Satiagraha, Castelo de Areia, Sucuri, Nicotina II, Trânsito Livre, Praga do Egito, Cavalo de Tróia, Anaconda, Setembro Negro, Medusa, Paz no Campo, Feliz Ano Velho, Soro, Pandora, Matusalém, Barrilha, Pindorama, Rosa dos Ventos, Zumbi, Farol Da Colina, Poeira No Asfalto, Midas, Saia Justa...
Quem será que dá nome às operações da Polícia Federal?
Quem será que dá nome às operações da Polícia Federal?
Em 1985, foi instalada na Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio, a escultura flutuante "Estrela do mar" com 20 metros de diâmetro e 20 toneladas, de Tomie Ohtake.
A peça suscitou grande polêmica entre os ambientalistas, xiitas e verdes de plantão, que a consideraram uma profanação àquele espelho d´água.
O imbróglio arrastou-se por um bom tempo, envolvendo gestores públicos, cronistas e personalidades cariocas.
Contudo, negligenciou-se a única discussão cabível: o valor artístico da peça, que era uma bosta!
A peça suscitou grande polêmica entre os ambientalistas, xiitas e verdes de plantão, que a consideraram uma profanação àquele espelho d´água.
O imbróglio arrastou-se por um bom tempo, envolvendo gestores públicos, cronistas e personalidades cariocas.
Contudo, negligenciou-se a única discussão cabível: o valor artístico da peça, que era uma bosta!
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
"Eu contei uma,
Contei duas, dezesseis,
Me zanguei,
Não conto mais.
Quantos anéis
Ourives faz?
Quanto rapaz
Anda no mundo sem mulher?
Quando o branco mata a vaca.
Quem tira o couro sou eu,
Bacalhau de sete perna
Nas costelas de Mateu.
Ó meu mestre, contra-mestre
Já deu hora de lição;
Não me dê de palmatória
Que me dói no coração".
Reisado de Mussambê de Juazeiro
Contei duas, dezesseis,
Me zanguei,
Não conto mais.
Quantos anéis
Ourives faz?
Quanto rapaz
Anda no mundo sem mulher?
Quando o branco mata a vaca.
Quem tira o couro sou eu,
Bacalhau de sete perna
Nas costelas de Mateu.
Ó meu mestre, contra-mestre
Já deu hora de lição;
Não me dê de palmatória
Que me dói no coração".
Reisado de Mussambê de Juazeiro
"Ouro Preto, uma constante em sua obra a partir de 1944, marca-o para sempre. Ambos têm a sorte de terem se encontrado várias vezes do seu alto, em frias manhãs cheias de névoas que vão, aos poucos e em frente a seus olhos, despindo-se pela diluição, expondo a beleza de suas montanhas, casas e igrejas que surgem como se flutuassem do espaço mágico. A cena é eletrizante e a paixão, fulminante. Guignard cai de amores pela cidade e pela suave luz, a qual, refletida pelas montanhas, reverencia o barroco puro. E ela, reconhecendo a grandeza dele, aceita, cheia de gratidão, aquele que estava a seus pés e que mostraria sua beleza ao mundo, acolhendo-o para sempre. Ela se entrega e ele torna-se seu dono. Guignard pinta suas “imaginantes” ou “imaginárias” paisagens de Ouro Preto, como as chamou Lélia Frota. Mas não se imagine que essas paisagens surgiram de sua fantasia de artista. Elas estão lá nesse momento, concretas, objetivas e esperançosas como uma adolescente apaixonada, esperando pela volta do poeta que as imortalizou; no mesmo local onde, um dia, se conheceram e se amaram. Se você tiver a paciência de um fantasma, poderá ficar de tocaia no lugar onde ele pintava e presenciar, numa dessas arrefecidas madrugadas de inverno, o idílio entre o velho artista que volta, flutuando numa nuvem de suas paisagens soprada por zéfiro e emoldurado por guirlandas de querubins, para a repetição do encontro imortal do gênio com a natureza".
Carlos Perktold
Carlos Perktold
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
terça-feira, 10 de agosto de 2010
A música religiosa começou a morrer com a Independência, em 1822. Com ela, se extingue a capela de música, uma função da Igreja para se produzir e tocar música sacra com o objetivo de acompanhar os ofícios religiosos. Com a Independência, o músico teve de passar a viver cada vez mais com a música profana, abandonando a prática da música religiosa.
Parte do repertório sacro e barroco ficaram sob responsabilidade de pequenas orquestras como a Lira Sanjoanense, fundada em 1776 por um grupo de músicos liderados por José Joaquim de Miranda, com o nome de Companhia de Música. Em meados do século XIX, passou a chamar-se Sociedade Musical Lira Sanjoanense, para depois ter o nome atual, Orquestra Lira Sanjoanense.
Na época de sua fundação, era constituída por um tiple (menino soprano), um contralto, um tenor e um baixo, dois violinos, viola, violoncelo, contrabaixo, duas flautas (ou oboés) e duas trompas.
A Orquestra Ribeiro Bastos, também em São João Del Rey, originou-se de uma provável dissidência da Lira Sanjoanense em 1790. Organizada em 1846 pelo maestro Francisco das Chagas (mestre Chagas), foi dirigida durante 53 anos (1859 a 1912) por seu discípulo e sucessor, Martiniano Ribeiro Bastos (1834-1912), que deu seu nome à associação musical.
A orquestra Lira Ceciliana, de Prados, foi fundada em 1858 por José Esteves da Costa, seu diretor até 1895.
A orquestra Ramalho, de Tiradentes, é remanescente de tradições musicais que remontam a 1732. Possui razoável quantidade de manuscritos musicais de fins do século XVIII. Foi fundada em 1860 por José Luiz Ramalho, que a dirigiu até 1900, com o nome de "Corporação Musical São José D"El Rey".
Estas quatro orquestras, cuja sobrevivência deve-se, em parte, às raízes familiares, são as fiéis depositárias de tradições transmitidas por gerações, interpretando ininterruptamente peças compostas nos séculos XVIII e XIX.
Aleluia!
Parte do repertório sacro e barroco ficaram sob responsabilidade de pequenas orquestras como a Lira Sanjoanense, fundada em 1776 por um grupo de músicos liderados por José Joaquim de Miranda, com o nome de Companhia de Música. Em meados do século XIX, passou a chamar-se Sociedade Musical Lira Sanjoanense, para depois ter o nome atual, Orquestra Lira Sanjoanense.
Na época de sua fundação, era constituída por um tiple (menino soprano), um contralto, um tenor e um baixo, dois violinos, viola, violoncelo, contrabaixo, duas flautas (ou oboés) e duas trompas.
A Orquestra Ribeiro Bastos, também em São João Del Rey, originou-se de uma provável dissidência da Lira Sanjoanense em 1790. Organizada em 1846 pelo maestro Francisco das Chagas (mestre Chagas), foi dirigida durante 53 anos (1859 a 1912) por seu discípulo e sucessor, Martiniano Ribeiro Bastos (1834-1912), que deu seu nome à associação musical.
A orquestra Lira Ceciliana, de Prados, foi fundada em 1858 por José Esteves da Costa, seu diretor até 1895.
A orquestra Ramalho, de Tiradentes, é remanescente de tradições musicais que remontam a 1732. Possui razoável quantidade de manuscritos musicais de fins do século XVIII. Foi fundada em 1860 por José Luiz Ramalho, que a dirigiu até 1900, com o nome de "Corporação Musical São José D"El Rey".
Estas quatro orquestras, cuja sobrevivência deve-se, em parte, às raízes familiares, são as fiéis depositárias de tradições transmitidas por gerações, interpretando ininterruptamente peças compostas nos séculos XVIII e XIX.
Aleluia!
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
"Henri Cartier-Bresson: o século moderno”, editado pela Cosac Naify, promete revolucionar o que já se sabe sobre a vida e obra de um dos maiores fotógrafos do século XX. Organizado por Peter Galassi, curador-chefe de fotografia do MoMA, é a primeira publicação feita com acesso irrestrito à coleção e aos arquivos da Fundação Henri Cartier-Bresson de Paris. Com mais de 450 ilustrações, reúne tanto imagens consagradas quanto algumas inéditas até para os especialistas, garimpadas entre milhares de documentos do artista. Segundo ele "...a fotografia nada mudou desde a sua origem, exceto nos seus aspectos técnicos, os quais não são a minha preocupação principal. A fotografia é uma operação instantânea que exprime o mundo em termos visuais, tanto sensoriais como intelectuais, sendo, também, uma procura e uma interrogação constantes".
"Uma das feiras mais variadas é a de Caxias, aos domingos. Tem de tudo e ainda há iguarias notáveis em matéria de doces de aipim, cuscuz, goiabadas cascão, caseiras, bananadas, torresmos, além de umas tendinhas onde se encontram farinha d’água do Nordeste, manteiga de garrafa e carne de sol. E, ainda, há como fritar algumas peças para degustar entre o papo intenso e bom que se estabelece nas mesinhas atrás das barracas".
Arthur da Távola
Arthur da Távola
Em 1987, surgia “Fiote”, nome dado pelo seu primeiro proprietário, que antes de completar dois anos, ainda pintado, conquistou o primeiro campeonato brasileiro de canto clássico alta mogiana.
Naquela época não existia estaca para bicudos pardos, e mesmo disputando com pássaros adultos, “Fiote” atingiu uma somatória de pontos suficiente para torná-lo o bicudo campeão brasileiro mais precoce na história dos campeonatos.
Em 1992, mudou de dono, que após formar dupla com outro bicudo, “Cacique Negro”, conquistou três campeonatos brasileiros de canto de bicudo alta mogiana sem repetição, em 1993, 94, 95.
Canta, canta passarinho, canta, canta miudinho...
Naquela época não existia estaca para bicudos pardos, e mesmo disputando com pássaros adultos, “Fiote” atingiu uma somatória de pontos suficiente para torná-lo o bicudo campeão brasileiro mais precoce na história dos campeonatos.
Em 1992, mudou de dono, que após formar dupla com outro bicudo, “Cacique Negro”, conquistou três campeonatos brasileiros de canto de bicudo alta mogiana sem repetição, em 1993, 94, 95.
Canta, canta passarinho, canta, canta miudinho...
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
"A principal causa de violência no mundo é a testosterona. Os maiores exemplos de violência partem dos homens, e a maior parte dos crimes são cometidos por eles. Acredito que a solução seria cortar a testosterona logo cedo, quando nasce, ou então injetar estrogênio nele."
Isabel Allende, hoje, na Flip, em Paraty.
Isabel Allende, hoje, na Flip, em Paraty.
"Ama o dinheiro pela falta que dele sente. No entanto, sua avareza quase sempre é disfarce de pobreza. O dinheiro é-lhe, aliás, assunto defeso; enche-se de pudores ao abordá-lo. À compra e venda prefere a barganha. Para efetuá-la alimenta, porém, intermináveis negociações. Quando pretende adquirir, exagera desinteresse; ao alienar, faz-se rogado. De fato, a alienação de qualquer bem afigura-se ao mineiro ato desprimoroso, que implica insolvabilidade e miséria".
Sylvio de Vasconcellos, em "Mineiridade - o homem no século XIX".
Sylvio de Vasconcellos, em "Mineiridade - o homem no século XIX".
"Cabeças em simetria exibidas ao público na escadaria da Prefeitura de Piranhas, Alagoas, algumas apoiadas por calços de pedra, cabelos desgrenhados, feições rígidas, olhos fechados. A ordem de apresentação do escalão é inversa e quebra a hierarquia que tiveram em vida. No plano mais baixo, isolada, a cabeça de Lampião; acima, a de Maria Bonita, tendo à direita a de Luís Pedro e à esquerda Quinta-Feira; degrau acima, as cabeças dos cangaceiros Mergulhão, Elétrico e Caixa de Fósforo; no plano mais alto, as cabeças de Enedina, Cajarana, um cangaceiro não identificado, dito “desconhecido” e o cangaceiro Diferente.
A cena parece forjada para conjurar o espectro dos cangaceiros e de tudo o mais que representam. As arrumações reforçam uma imagem de Lampião solitário, que não mais detém o comando do grupo. Ademais, rompe com a imagem à época já lendária do casal Lampião e Maria Bonita, pois esta não aparece ao seu lado. Para tanto, a contemplação fúnebre não é suficiente. Alocam-se nos espaços da escadaria os pertences dos mortos. Pelo modo como são expostos, não identificam seus donos, seus usuários. Identificam, contudo, o espólio material do cangaço. No plano superior, à esquerda e à direita, duas máquinas de costura marca Singer. Ao centro, artefatos de couro. Ladeando as cabeças, pistolas, mosquetões e punhais longos e medianos; chapéus de couro com abas viradas, pontuados com estrelas em diferentes padrões. Um dos chapéus repousa sobre uma caixa com a marca registrada da empresa petrolífera inglesa Standar Oil Company of Brazil, inscrição somente identificada quando colocada a imagem de baixo para cima. Embornais, cartucheiras, peças da indumentária adornada com moedas de ouro e traços geométricos".
Marcos Edílson de Araújo Clemente, em "Cangaço e cangaceiros: histórias e imagens fotográficas do tempo de Lampião".
A cena parece forjada para conjurar o espectro dos cangaceiros e de tudo o mais que representam. As arrumações reforçam uma imagem de Lampião solitário, que não mais detém o comando do grupo. Ademais, rompe com a imagem à época já lendária do casal Lampião e Maria Bonita, pois esta não aparece ao seu lado. Para tanto, a contemplação fúnebre não é suficiente. Alocam-se nos espaços da escadaria os pertences dos mortos. Pelo modo como são expostos, não identificam seus donos, seus usuários. Identificam, contudo, o espólio material do cangaço. No plano superior, à esquerda e à direita, duas máquinas de costura marca Singer. Ao centro, artefatos de couro. Ladeando as cabeças, pistolas, mosquetões e punhais longos e medianos; chapéus de couro com abas viradas, pontuados com estrelas em diferentes padrões. Um dos chapéus repousa sobre uma caixa com a marca registrada da empresa petrolífera inglesa Standar Oil Company of Brazil, inscrição somente identificada quando colocada a imagem de baixo para cima. Embornais, cartucheiras, peças da indumentária adornada com moedas de ouro e traços geométricos".
Marcos Edílson de Araújo Clemente, em "Cangaço e cangaceiros: histórias e imagens fotográficas do tempo de Lampião".
"O estilo de Gilberto Freyre não é linear, nem na forma nem no andamento do raciocínio. Ele dá voltas, repete, leva o leitor a percorrer seus argumentos e suas descrições como que em espiral, como notou Elide Rugai Bastos em sua síntese de CG&S. De repente, acrescento, a espiral se desfaz circularmente, retorna ao passo inicial. Pior: nem sempre é conclusivo. Mesmo em Casa Grande & Senzala o último capítulo, que trata do papel do negro na sociedade brasileira, termina prometendo um novo livro que nunca escreveu. Não cumpre o requisito de voltar às premissas que, uma vez demonstradas, requerem, no rigor do trato acadêmico, uma síntese conclusiva. O mesmo se dá em Sobrados & Mocambos, embora neste, pelo menos o anunciado próximo volume se concretizou com a publicação de Ordem e Progresso, embora 23 anos depois, em 1959".
Fernando Henrique Cardoso, ontem, na abertura da Flip, em Paraty.
Fernando Henrique Cardoso, ontem, na abertura da Flip, em Paraty.
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
1. Sei o modo de superar caminhos tortuosos sem fazer ruído inclusive se há que passar por uma trincheira ou um rio.
2. Tenho carroças cobertas, seguras e impossíveis de atacar que podem se mover entre a artilharia inimiga sem que ninguém possa rompê-las e sem que se registrem baixas.
3. Se houver necessidade, fabricarei armas e morteiros diferentes dos habituais.
4. Se a operação de bombardeio falhar, inventaria catapultas, trabucos e outras máquinas de máxima eficácia e de uso pouco comum. Ademais, segundo o caso, posso inventar artigos de ataque e defesa.
5. Em tempos de paz, acho que posso conseguir os mesmos resultados que qualquer outro em arquitetura e desenhos de plantas de edifícios públicos e privados e realizar sistemas de distribuição de água.
6. Posso fazer esculturas em mármore, bronze e argila e posso pintar quadros, tão bem como qualquer outro
Trecho do curriculum vitae de Leonardo da Vinci enviado, por ele, para o então Duque de Milão.
Tempos bicudos, aqueles...
2. Tenho carroças cobertas, seguras e impossíveis de atacar que podem se mover entre a artilharia inimiga sem que ninguém possa rompê-las e sem que se registrem baixas.
3. Se houver necessidade, fabricarei armas e morteiros diferentes dos habituais.
4. Se a operação de bombardeio falhar, inventaria catapultas, trabucos e outras máquinas de máxima eficácia e de uso pouco comum. Ademais, segundo o caso, posso inventar artigos de ataque e defesa.
5. Em tempos de paz, acho que posso conseguir os mesmos resultados que qualquer outro em arquitetura e desenhos de plantas de edifícios públicos e privados e realizar sistemas de distribuição de água.
6. Posso fazer esculturas em mármore, bronze e argila e posso pintar quadros, tão bem como qualquer outro
Trecho do curriculum vitae de Leonardo da Vinci enviado, por ele, para o então Duque de Milão.
Tempos bicudos, aqueles...
O Clube de Colecionadores de Fotografia do Museu de Arte Moderna de São Paulo apresenta, na sala Paulo Figueiredo, mostra dos trabalhos de Adriana Varejão, Amílcar Packer, André Cypriano, Arnaldo Pappalardo, Bob Wolfenson, Caio Reisewitz, Cao Guimarães, Cássio Vasconcellos, Cia de Foto, Claudia Andujar, Claudia Jaguaribe, Cláudio Elisabetsky, Cris Bierrenbach, Cristiano Mascaro, Cristina Guerra, Edu Marin, Eduardo Ruegg, Fausto Chermont, Felipe Cama, Fernando Lemos, Gal Oppido, German Lorca, Guilherme Maranhão, Jair Lanes, João Castilho, João Luiz Musa, Klaus Mitteldorf, Lenora de Barros, Lucia Koch, Luiz Braga, Márcia Xavier, Maureen Bisilliat, Nair Benedicto, Odires Mlászho, Paula Sampaio, Paulo d’Alessandro, Pedro Motta, Penna Prearo, Rafael Assef, Ricardo Teles, Rochelle Costi, Rodrigo Braga, Romulo Fialdini, Rosângela Rennó, Thomaz Farkas, Tony Camargo, Tuca Reines, Vania Toledo, Vicente de Mello e Walter Firmo.
Destaca-se, pela linguagem, o fotógrafo João Castilho, mineiro, que conquistou, em 2008, o Prêmio Conrado Wessel com o ensaio "Redemunho".
Destaca-se, pela linguagem, o fotógrafo João Castilho, mineiro, que conquistou, em 2008, o Prêmio Conrado Wessel com o ensaio "Redemunho".
terça-feira, 3 de agosto de 2010
"Caro presidente Lula da Silva:
Sua oferta de conceder asilo no Brasil a Sakine Ashtiani, sentenciada à morte por adultério, é um passo importante para salvá-la, assim como a seus filhos. Espero que, com os esforços internacionais e com as ações de milhares de pessoas, nós possamos salvar Sakine. Que ela e seus filhos se abracem novamente em breve.
Enquanto escrevo esta carta, vejo à minha frente o rosto de Maryam Ayoubi, que foi apedrejada até a morte em 2001. Vejo os rostos de Shahnaz, Shahla, Kobra e dezenas de outras mulheres que foram enterradas até o peito e mortas por pedras arremessadas contra elas. Eu ainda vejo tudo isso diante dos meus olhos. Esse é o regime islâmico. Os governantes do Irã não sobreviveriam um dia sem execuções e terror, sem espalhar o medo. Mesmo que o regime islâmico tenha retrocedido um pouco por conta da pressão em favor de Sakine, ele ainda espalha o medo na sociedade executando outros prisioneiros, especialmente os políticos.
Hoje, dia 2 de agosto, nove prisioneiros foram sentenciados à morte em Kerman. Em Teerã, seis prisioneiros políticos foram sentenciados à morte, entre eles Jafar Kazemi, que pode ser executado a qualquer momento. Zeynab Jalalian, um outro prisioneiro político, também corre o risco de ser morto em breve. Há mais pessoas na lista de execução: Mohammad Reza Haddadi foi setenciado à morte enquanto era menor; acaba de completar 18 anos e pode ser executado a qualquer momento. Há mais de 130 menores na prisão, com penas semelhantes. O regime islâmico é o único do mundo que executa menores.
Hoje, há 17 famílias de prisioneiros políticos em greve de fome na frente da prisão de Evin, em Teerã. Elas prestam solidariedade à greve de fome que seus filhos começaram lá dentro, dias atrás. Esse é um protesto contra a brutalidade das autoridades carcerárias com os presos políticos. O destino de três jovens alpinistas americanos e as lágrimas de suas mães também entristeceram a população. Esse regime prendeu parentes do senhor Mostafaei, o advogado de Sakine Ashtiani, e os levou como reféns até que ele se entregue.
O Irã é um país com um regime criminoso e brutal. É um regime assassino que deve ser condenado por todas as pessoas e governos. Permita-me, como uma representante do povo oprimido do Irã, dizer que não quero apenas salvar Sakine e abolir o apedrejamento, mas também pedir a todos os líderes nacionais que não reconheçam o regime islâmico como representante dos iranianos, mas sim como o assassino desse povo.
Esse é um regime que apedreja e executa, que prende pessoas todos os dias e corta suas mãos e pés. Nenhum outro governo do mundo realiza tantas execuções per capita quanto ele. Tal regime não deveria ser reconhecido por organizações internacionais ou chefes de estado".
Mina Ahadi - Porta voz do Comitê Internacional contra a Execução e do Comitê Internacional contra o Apedrejamento
Sua oferta de conceder asilo no Brasil a Sakine Ashtiani, sentenciada à morte por adultério, é um passo importante para salvá-la, assim como a seus filhos. Espero que, com os esforços internacionais e com as ações de milhares de pessoas, nós possamos salvar Sakine. Que ela e seus filhos se abracem novamente em breve.
Enquanto escrevo esta carta, vejo à minha frente o rosto de Maryam Ayoubi, que foi apedrejada até a morte em 2001. Vejo os rostos de Shahnaz, Shahla, Kobra e dezenas de outras mulheres que foram enterradas até o peito e mortas por pedras arremessadas contra elas. Eu ainda vejo tudo isso diante dos meus olhos. Esse é o regime islâmico. Os governantes do Irã não sobreviveriam um dia sem execuções e terror, sem espalhar o medo. Mesmo que o regime islâmico tenha retrocedido um pouco por conta da pressão em favor de Sakine, ele ainda espalha o medo na sociedade executando outros prisioneiros, especialmente os políticos.
Hoje, dia 2 de agosto, nove prisioneiros foram sentenciados à morte em Kerman. Em Teerã, seis prisioneiros políticos foram sentenciados à morte, entre eles Jafar Kazemi, que pode ser executado a qualquer momento. Zeynab Jalalian, um outro prisioneiro político, também corre o risco de ser morto em breve. Há mais pessoas na lista de execução: Mohammad Reza Haddadi foi setenciado à morte enquanto era menor; acaba de completar 18 anos e pode ser executado a qualquer momento. Há mais de 130 menores na prisão, com penas semelhantes. O regime islâmico é o único do mundo que executa menores.
Hoje, há 17 famílias de prisioneiros políticos em greve de fome na frente da prisão de Evin, em Teerã. Elas prestam solidariedade à greve de fome que seus filhos começaram lá dentro, dias atrás. Esse é um protesto contra a brutalidade das autoridades carcerárias com os presos políticos. O destino de três jovens alpinistas americanos e as lágrimas de suas mães também entristeceram a população. Esse regime prendeu parentes do senhor Mostafaei, o advogado de Sakine Ashtiani, e os levou como reféns até que ele se entregue.
O Irã é um país com um regime criminoso e brutal. É um regime assassino que deve ser condenado por todas as pessoas e governos. Permita-me, como uma representante do povo oprimido do Irã, dizer que não quero apenas salvar Sakine e abolir o apedrejamento, mas também pedir a todos os líderes nacionais que não reconheçam o regime islâmico como representante dos iranianos, mas sim como o assassino desse povo.
Esse é um regime que apedreja e executa, que prende pessoas todos os dias e corta suas mãos e pés. Nenhum outro governo do mundo realiza tantas execuções per capita quanto ele. Tal regime não deveria ser reconhecido por organizações internacionais ou chefes de estado".
Mina Ahadi - Porta voz do Comitê Internacional contra a Execução e do Comitê Internacional contra o Apedrejamento
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
A proteção das janelas do escritório impedia que ele sentisse frio naquele dia claro e levemente azulado.
Ao fundo, atrás do prédio alto, à esquerda, assentava-se, quieto e resignado, um trecho qualquer do Rio Pinheiros.
No contraplano, estava ela, indo em direção ao carro estacionado na rua próxima de sua casa.
Havia entre aquele homem e essa mulher mares imensos e profundos, que eles navegavam, perseverantes, todos os dias.
Ao fundo, atrás do prédio alto, à esquerda, assentava-se, quieto e resignado, um trecho qualquer do Rio Pinheiros.
No contraplano, estava ela, indo em direção ao carro estacionado na rua próxima de sua casa.
Havia entre aquele homem e essa mulher mares imensos e profundos, que eles navegavam, perseverantes, todos os dias.
O mundo ainda reage ao mais recente vazamento de dados publicado pelo site WikiLeaks: mais de 75 mil documentos confidenciais das Forças Armadas dos Estados Unidos, com detalhes sobre a guerra do Afeganistão.
Antes de publicar os documentos, o WikiLeaks os enviou, acompanhados de mais 15 mil itens ainda não publicados, para três dos maiores jornais do mundo, que publicaram reportagens distintas com base nesses papéis.
Alguns dizem que os documentos equivalem, em importância, ao estudo sobre o envolvimento dos EUA na Guerra do Vietnã, produzido em 1968 e divulgado pelo The New York Times em 1971.
O WikiLeaks é um site com servidores espalhados pelo mundo e que publica documentos confidenciais fornecidos por fontes anônimas.
Em abril, o WikiLeaks publicou um vídeo confidencial, produzido em 2007, que mostrava um ataque aéreo dos Estados Unidos a Bagdá e que causou a morte de 12 pessoas – entre elas, dois jornalistas da agência de notícias Reuters. Outros vazamentos notáveis incluem uma amostra dos e-mails privativos da candidata à vice-presidência dos EUA Sarah Palin e a publicação de documentos do banco suíço Julius Baer.
Antes de publicar os documentos, o WikiLeaks os enviou, acompanhados de mais 15 mil itens ainda não publicados, para três dos maiores jornais do mundo, que publicaram reportagens distintas com base nesses papéis.
Alguns dizem que os documentos equivalem, em importância, ao estudo sobre o envolvimento dos EUA na Guerra do Vietnã, produzido em 1968 e divulgado pelo The New York Times em 1971.
O WikiLeaks é um site com servidores espalhados pelo mundo e que publica documentos confidenciais fornecidos por fontes anônimas.
Em abril, o WikiLeaks publicou um vídeo confidencial, produzido em 2007, que mostrava um ataque aéreo dos Estados Unidos a Bagdá e que causou a morte de 12 pessoas – entre elas, dois jornalistas da agência de notícias Reuters. Outros vazamentos notáveis incluem uma amostra dos e-mails privativos da candidata à vice-presidência dos EUA Sarah Palin e a publicação de documentos do banco suíço Julius Baer.
Enquanto no Brasil atlântico as rebeldias são episódicas, no geral "exprimindo a revolta da massa oprimida, miserável, contra a aristocracia dos grandes proprietários", nas Minas são elas persistentes, contínuas, de toda a população, contra o poder real. O ouro as incita, as mantém. Não há pessoa prudente que não confesse haver Deus permitido que se descubra nas Minas tanto ouro para castigar com ele o Brasil", diz Antonil.
Padre João Antônio Andreoni, "Cultura e Opulência do Brasil com suas Drogas e Minas".
Padre João Antônio Andreoni, "Cultura e Opulência do Brasil com suas Drogas e Minas".
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