“Isso eu falo porque aconteceu mais meu pai. Foi dado um dia de serviço para um velho de nome Sanderlau por 2 litros de sal. E a mercadoria que levava o que era? Couro de gado, couro de gato, couro de catitu, era o dinheiro que levava” explica Eliseu, ancião da comunidade e que guarda, na memória, a saga vivida por seus ancestrais. “De descida o couro, de subida o sal”, acrescenta. O rio Tocantins se transformou, por mais de um século, em via do sal. Repetiu-se, nesse rio do sertão brasileiro, o fenômeno da Via Salária de Roma e do caminho do Sal dos Andes, que partiu de Buenos Aires e povoou o oeste, na direção do Chile. A mitologia em torno do sal ainda atravessa os Alpes franceses, o Saara africano e chega à Índia, quando Mahatma Gandhi promove a ruidosa marcha do sal. Os barcos eram chamados de batelão ou botes, e sua capacidade variava de 150 arrobas a 2 ½ toneladas. Na descida, levavam seis meses de viagem vencendo 2000 quilômetros de rio. 4/5 de cada barco eram ocupados pela carga de sal. Os Calunga não eram os únicos a se lançarem nesta travessia vital, mas de certo era a mais distante comunidade a usar o rio para este fim e, também, os que mais adversidades enfrentavam. Além das inúmeras cachoeiras e a enorme distância, os Calunga tinham que navegar escondidos e buscar ajuda em comunidades irmãs como os quilombos Balique, Buritizal e Igarapé Preto. Ademais, tinham que refazer o caminho rio acima com o barco carregado no limite da sua capacidade, basicamente de sal. Quem conta como era feita a viagem é o velho Casimiro, também da cidade de Paranã, a última antes de adentrarmos o território calunga seguindo rio acima.
“Chovia muito naquela época, chovia muito, o rio enchia, e como que esse bichos viajavam? Através de gancho e forquilha, agarrando galho de pau, o proeiro na frente com o ganchos jogando e puxando...”.
André Portugal Braga
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
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