"Ouro Preto, uma constante em sua obra a partir de 1944, marca-o para sempre. Ambos têm a sorte de terem se encontrado várias vezes do seu alto, em frias manhãs cheias de névoas que vão, aos poucos e em frente a seus olhos, despindo-se pela diluição, expondo a beleza de suas montanhas, casas e igrejas que surgem como se flutuassem do espaço mágico. A cena é eletrizante e a paixão, fulminante. Guignard cai de amores pela cidade e pela suave luz, a qual, refletida pelas montanhas, reverencia o barroco puro. E ela, reconhecendo a grandeza dele, aceita, cheia de gratidão, aquele que estava a seus pés e que mostraria sua beleza ao mundo, acolhendo-o para sempre. Ela se entrega e ele torna-se seu dono. Guignard pinta suas “imaginantes” ou “imaginárias” paisagens de Ouro Preto, como as chamou Lélia Frota. Mas não se imagine que essas paisagens surgiram de sua fantasia de artista. Elas estão lá nesse momento, concretas, objetivas e esperançosas como uma adolescente apaixonada, esperando pela volta do poeta que as imortalizou; no mesmo local onde, um dia, se conheceram e se amaram. Se você tiver a paciência de um fantasma, poderá ficar de tocaia no lugar onde ele pintava e presenciar, numa dessas arrefecidas madrugadas de inverno, o idílio entre o velho artista que volta, flutuando numa nuvem de suas paisagens soprada por zéfiro e emoldurado por guirlandas de querubins, para a repetição do encontro imortal do gênio com a natureza".
Carlos Perktold
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
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