"Hoje de manhã sua carta me encontrou deprimido, totalmente desanimado; senti-me então muito longe de seus elogios, mesmo vindo ao encontro de meus desejos. Pois estou paralisado por alguma coisa convencional, que não sei o que é e que me impede de me exprimir na pintura como gostaria. Meu desenho e minha pintura estão separados.
Tenho o desenho que me convém, pois ele transmite o que sinto em particular. Mas tenho uma pintura reprimida por novas convenções de cores planas, com as quais devo me exprimir totalmente, cores locais exclusivamente, sem sombras, sem modelados, que devem reagir entre si para sugerir a luz, o espaço espiritual. Isso não combina em nada com minha espontaneidade, que me faz questionar num minuto um longo trabalho, porque reconcebo meu quadro várias vezes durante sua execução sem saber realmente aonde vou, entregando-me ao meu instinto. Descobri um desenho que, depois do trabalho de aproximação, tem a espontaneidade que desafoga todo o meu sentimento, mas esse meio vale exclusivamente para mim, artista e espectador. Mas um desenho de colorista não é um pintura. Teria que lhe dar um equivalente em cor. É a isso que não consigo chegar".
Carta de Henri Matisse a Pierre Bonnard, em MATISSE, Henri. Escritos e reflexões sobre arte, Cosac Naify.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
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