"Se você tem uma coisa a afirmar, você não tem que fazer literatura.
Literatura é uma conversa sobre as dúvidas.
É uma conversa sobre as delicadezas, sobre as faltas".
Bartolomeu Campos de Queirós
quinta-feira, 28 de julho de 2011
quarta-feira, 27 de julho de 2011
A casa era grande, avarandada.
Assombreada.
No jardim, onde havia um pequeno lago, a mãe plantou Espadas-de-São-Jorge que, apesar de feias, cresceram e alastraram-se por canteiros próximos de forma ordenada e retilínea – dizem que têm a capacidade de proteger, purificar e combater mau-olhado.
Do lado direito, para onde se debruçava uma das janelas da sala de visitas, os dias de sol impunham a fixação de uma rede que nunca foi usada.
No corredor, que dava para o quintal, uma parede cega, caiada, confundia pardais e sanhaços e andorinhas que, nos dias mais iluminados, eram encontrados desfalecidos, exigindo cuidados extremos dos meninos para que fossem reanimados.
Um pé de romã dominava o quintal.
Ao fundo, no limite do terreno, ficavam as galinhas e um galo mirrado trazidos da Zona da Mata, próximo do arraial onde havia nascido o pai, lá nas barrancas da nascente do Roncador.
Engradados, tijolos maciços, telhas, latões de creolina ocupavam espaços onde, antes dele adoecer, ficavam os poleiros e as caixetas com palha para o choco.
No quarto grande, construído à direita do quintal, amontoavam-se mesas, cadeiras, penteadeiras.
Quando se recuperou, acompanhava, da janela do quarto que dividia com o irmão, a retirada dos móveis doados às famílias dos empregados, ano após ano, contando-os um a um. Reproduzia-os, depois, em miniaturas feitas com restos de cedro e aroeira-branca que encontrava na oficina da casa, desenhando os detalhes com finos pincéis banhados de nanquim.
Havia fotos de Gérard Philipe no quarto da irmã, coladas na parede com goma, que ele não entendia.
O banheiro de baixo foi transformado em atelier de costura, onde a mãe, aproveitando restos e cortes de tecidos guardadas para um dia quem sabe, fez e deu-lhe a primeira calça comprida.
Na garagem, junto às casuarinas, aquietava-se, quase sempre, o carro da família, um Dodge Coronet 1951, verde limão, usado, nos fins de semana, para um passeio pelas ruas e poucas avenidas da cidade que ainda se limitava ao seu traçado original.
A casa continua a mesma, apesar de os novos proprietários terem feito pequenos reparos e algumas mudanças.
Conseguiu, sem esforço, apesar do ruído de carros e caminhões, postando-se do outro lado da calçada, abstrair-se e ouvir, ver e sentir vozes que não existiam mais, rostos que tinham se desfigurado, cheiros que haviam se dissipado.
A serra, ao fundo, mostrava-se habitada.
Procurou, na última vez que esteve na cidade, vizinhos e vestígios.
Não os encontrou.
E apesar de a casa estar lá, não se encontrou também.
Assombreada.
No jardim, onde havia um pequeno lago, a mãe plantou Espadas-de-São-Jorge que, apesar de feias, cresceram e alastraram-se por canteiros próximos de forma ordenada e retilínea – dizem que têm a capacidade de proteger, purificar e combater mau-olhado.
Do lado direito, para onde se debruçava uma das janelas da sala de visitas, os dias de sol impunham a fixação de uma rede que nunca foi usada.
No corredor, que dava para o quintal, uma parede cega, caiada, confundia pardais e sanhaços e andorinhas que, nos dias mais iluminados, eram encontrados desfalecidos, exigindo cuidados extremos dos meninos para que fossem reanimados.
Um pé de romã dominava o quintal.
Ao fundo, no limite do terreno, ficavam as galinhas e um galo mirrado trazidos da Zona da Mata, próximo do arraial onde havia nascido o pai, lá nas barrancas da nascente do Roncador.
Engradados, tijolos maciços, telhas, latões de creolina ocupavam espaços onde, antes dele adoecer, ficavam os poleiros e as caixetas com palha para o choco.
No quarto grande, construído à direita do quintal, amontoavam-se mesas, cadeiras, penteadeiras.
Quando se recuperou, acompanhava, da janela do quarto que dividia com o irmão, a retirada dos móveis doados às famílias dos empregados, ano após ano, contando-os um a um. Reproduzia-os, depois, em miniaturas feitas com restos de cedro e aroeira-branca que encontrava na oficina da casa, desenhando os detalhes com finos pincéis banhados de nanquim.
Havia fotos de Gérard Philipe no quarto da irmã, coladas na parede com goma, que ele não entendia.
O banheiro de baixo foi transformado em atelier de costura, onde a mãe, aproveitando restos e cortes de tecidos guardadas para um dia quem sabe, fez e deu-lhe a primeira calça comprida.
Na garagem, junto às casuarinas, aquietava-se, quase sempre, o carro da família, um Dodge Coronet 1951, verde limão, usado, nos fins de semana, para um passeio pelas ruas e poucas avenidas da cidade que ainda se limitava ao seu traçado original.
A casa continua a mesma, apesar de os novos proprietários terem feito pequenos reparos e algumas mudanças.
Conseguiu, sem esforço, apesar do ruído de carros e caminhões, postando-se do outro lado da calçada, abstrair-se e ouvir, ver e sentir vozes que não existiam mais, rostos que tinham se desfigurado, cheiros que haviam se dissipado.
A serra, ao fundo, mostrava-se habitada.
Procurou, na última vez que esteve na cidade, vizinhos e vestígios.
Não os encontrou.
E apesar de a casa estar lá, não se encontrou também.
terça-feira, 26 de julho de 2011
“Infelizmente, os pais de Antonia se mudaram do sobrado.
Nunca mais vou amar ninguém, ele pensou, e só não chorou de tristeza porque José nunca chorava, nem nunca choraria em sua vida, nem mesmo quando todas as desgraças se abateram sobre ele. Ele não sabia chorar e nunca aprenderia”.
Rubem Fonseca, em José.
Nunca mais vou amar ninguém, ele pensou, e só não chorou de tristeza porque José nunca chorava, nem nunca choraria em sua vida, nem mesmo quando todas as desgraças se abateram sobre ele. Ele não sabia chorar e nunca aprenderia”.
Rubem Fonseca, em José.
quinta-feira, 14 de julho de 2011
terça-feira, 12 de julho de 2011
quarta-feira, 6 de julho de 2011
terça-feira, 5 de julho de 2011
sexta-feira, 1 de julho de 2011
quarta-feira, 29 de junho de 2011
terça-feira, 21 de junho de 2011
sexta-feira, 17 de junho de 2011
Percebeu, apesar do descaso, a força que ele fez ao empurrar a porta.
Olharam-se.
Trazia caixas, várias.
O prédio era velho.
E o elevador rangia.
Pegou a correspondência com o porteiro.
Ao sair, percebeu que uma das caixas havia caído próxima a um vaso escuro que havia sido colocado ali depois da reforma da marquise.
Abaixou-se.
Devolveria depois, pensou.
Abriu-a antes mesmo de o ônibus chegar ao ponto final, atrás da igreja São José.
Folhas e folhas e folhas de papel almaço, algumas com anotações diversas.
Sentiu enjôo e conteve a vontade de ler ao menos as primeiras páginas, o que só fez em casa, noite já.
Na manhã seguinte, após embrulhar a caixa, deixou-a defronte a porta do apartamento dele.
O bilhete estava amassado, rasgado, sujo e manchado de gordura densa e viscosa.
Não deu para ler ou entender coisa alguma.
Olharam-se.
Trazia caixas, várias.
O prédio era velho.
E o elevador rangia.
Pegou a correspondência com o porteiro.
Ao sair, percebeu que uma das caixas havia caído próxima a um vaso escuro que havia sido colocado ali depois da reforma da marquise.
Abaixou-se.
Devolveria depois, pensou.
Abriu-a antes mesmo de o ônibus chegar ao ponto final, atrás da igreja São José.
Folhas e folhas e folhas de papel almaço, algumas com anotações diversas.
Sentiu enjôo e conteve a vontade de ler ao menos as primeiras páginas, o que só fez em casa, noite já.
Na manhã seguinte, após embrulhar a caixa, deixou-a defronte a porta do apartamento dele.
O bilhete estava amassado, rasgado, sujo e manchado de gordura densa e viscosa.
Não deu para ler ou entender coisa alguma.
"Um amor de prostituta
nos quatro cantos do quarto,
é uma tragédia grega
em decadente teatro.
Segunda-feira, ela banha
o sol e a lua com mel,
na terça, oferece a bunda,
trancelim, relógio, anel.
Na quarta, sente ciúmes,
maldiz a vida e a sorte.
Na quinta, volta o ciúme
agora muito mais forte.
Na sexta, toma um pileque
rasga a roupa, desgrenhada.
No sábado, você foge,
e não quer vê-la por nada.
No domingo, ela se rasga
com gilete enferrujada."
Nei Leandro de Castro
nos quatro cantos do quarto,
é uma tragédia grega
em decadente teatro.
Segunda-feira, ela banha
o sol e a lua com mel,
na terça, oferece a bunda,
trancelim, relógio, anel.
Na quarta, sente ciúmes,
maldiz a vida e a sorte.
Na quinta, volta o ciúme
agora muito mais forte.
Na sexta, toma um pileque
rasga a roupa, desgrenhada.
No sábado, você foge,
e não quer vê-la por nada.
No domingo, ela se rasga
com gilete enferrujada."
Nei Leandro de Castro
quinta-feira, 16 de junho de 2011
As 10 melhores goiabadas produzidas no país, segundo os críticos do caderno "O Paladar", de O Estado de São Paulo:
. Doce Da Lata, Ponte Nova, MG
. Goiabada Cascão, Águas da Prata, SP
. São Thomé UltraCascão, Campos dos Goytacazes, RJ
. Doces da Christy, Ponte Nova, MG
. Xapuri, Belo Horizonte, MG
. Goibada Cascão Tia Sônia, Água Fria, RJ
. Mercearia Paraopeba, Itabirito, MG
. Querença, Inhaúma, MG
. Sabores da Fazenda, Taquaritinga, SP
. Zélia, Urucânia, MG
. Doce Da Lata, Ponte Nova, MG
. Goiabada Cascão, Águas da Prata, SP
. São Thomé UltraCascão, Campos dos Goytacazes, RJ
. Doces da Christy, Ponte Nova, MG
. Xapuri, Belo Horizonte, MG
. Goibada Cascão Tia Sônia, Água Fria, RJ
. Mercearia Paraopeba, Itabirito, MG
. Querença, Inhaúma, MG
. Sabores da Fazenda, Taquaritinga, SP
. Zélia, Urucânia, MG
quarta-feira, 15 de junho de 2011
“Tive um cavalo ruano
De nome Balança-os-Cachos
De cheirar e mandar guardar
Cavalo de confiana
Pegava em quarenta metros
Galardão de cola e ancas
Um ente desanormal
Coisa de prateleira
Ventena como o fedor
Não foi de ensebar serviços
Nem teve queda pra cangas
Pastor de primeira instância
Cavalo de putear delegado
Livre como as vertentes
Podia até lavar louças
Leve de patas que era
Só faltava ir no cinema.”
Neto Botelho
De nome Balança-os-Cachos
De cheirar e mandar guardar
Cavalo de confiana
Pegava em quarenta metros
Galardão de cola e ancas
Um ente desanormal
Coisa de prateleira
Ventena como o fedor
Não foi de ensebar serviços
Nem teve queda pra cangas
Pastor de primeira instância
Cavalo de putear delegado
Livre como as vertentes
Podia até lavar louças
Leve de patas que era
Só faltava ir no cinema.”
Neto Botelho
terça-feira, 14 de junho de 2011
quarta-feira, 8 de junho de 2011
segunda-feira, 6 de junho de 2011
Pontos mais altos: Bem-te-vi, maritaca, papagaio, sabiá-do-campo e sanhaço.
Cardápio: Além de banana, mamão e sementes de girassol, arroz cozido frio - sem óleo ou tempero.
Pontos mais baixos: Beija-flor, bem-te-vi, maritaca, sabiá-laranjeira e tico-tico.
Cardápio: Mamão e banana.
Térreo: Asa branca, beija-flor, juriti, pardal, pica-pau, rolinha e sabiá-laranjeira.
Cardápio: Mamão, pitanga, amora e jabuticaba. O pica-pau adora abacate. Ofereça, ainda, sementes de girassol.
Cardápio: Além de banana, mamão e sementes de girassol, arroz cozido frio - sem óleo ou tempero.
Pontos mais baixos: Beija-flor, bem-te-vi, maritaca, sabiá-laranjeira e tico-tico.
Cardápio: Mamão e banana.
Térreo: Asa branca, beija-flor, juriti, pardal, pica-pau, rolinha e sabiá-laranjeira.
Cardápio: Mamão, pitanga, amora e jabuticaba. O pica-pau adora abacate. Ofereça, ainda, sementes de girassol.
sexta-feira, 3 de junho de 2011
A situação o incomodava, enojando-o.
Os outros riam.
Levantou-se, esbarrou em algumas cadeiras, e caminhou na direção dele.
Após esmurrá-lo, mandou, aos gritos, que todos se retirassem da sala deixando blocos, papéis, canetas, notebooks, tablets.
Ameaçou-os.
Fechou a porta.
Aturdido, ele tentava se levantar.
O nariz sangrava.
Ajudou-o.
Sentaram-se um diante do outro.
- Eu juro, pai, por tudo que há de mais sagrado, que da próxima vez, eu mato você!
Os outros riam.
Levantou-se, esbarrou em algumas cadeiras, e caminhou na direção dele.
Após esmurrá-lo, mandou, aos gritos, que todos se retirassem da sala deixando blocos, papéis, canetas, notebooks, tablets.
Ameaçou-os.
Fechou a porta.
Aturdido, ele tentava se levantar.
O nariz sangrava.
Ajudou-o.
Sentaram-se um diante do outro.
- Eu juro, pai, por tudo que há de mais sagrado, que da próxima vez, eu mato você!
quarta-feira, 1 de junho de 2011
Espelhinho oval com o escudo do seu time ou uma diva em trajes sumários, pente nas marcas Flamengo ou Carioca, corta-unhas Trim ou Unhex, tubo de brilhantina, frasco de leite de colônia; latinha de Minâncora e outra de banha de peixe-boi da Amazônia em caso de eventuais ferimentos, calos ou cabruncos. Barbeador, gillette, pedra-hume. Aqua Velva. Emplasto poroso Sabiá, pedras de isqueiro com a marca Colibri e polvilho antisséptico Granado. Canivete e cachetes de Cibazol.
Kit de macho-jurubeba, segundo Xico Sá.
Kit de macho-jurubeba, segundo Xico Sá.
terça-feira, 31 de maio de 2011
sexta-feira, 27 de maio de 2011
quinta-feira, 26 de maio de 2011
“Elaine's tem um menu que faz corar os críticos gastronômicos, uma decoração que nunca vai entrar na Architectural Digest, preços que rivalizam com os do Four Seasons, garçons tão frenéticos quanto os operadores da Bolsa de Valores de Nova York e um sistema de reserva autocrático baseado exclusivamente em privilégios. No entanto, resiste como o saloon mais amado do mundo literário de Nova York”.
AE Hotchner, Vanity Fair Magazine, edição de julho de 2002.
AE Hotchner, Vanity Fair Magazine, edição de julho de 2002.
quarta-feira, 25 de maio de 2011
Tire as pernas, asas e cabeças das tanajuras, deixando só as bundinhas.
Em seguida, deixe-as de molho em água e sal por cerca de 1/2 hora.
Escorra-as bem e leve-as ao fogo, em frigideira com fios de azeite e um pouquinho de toucinho, mexendo sempre para não queimar.
Quando estiverem bem torradas, acrescente farinha de mandioca, misture tudo vagarosamente, resultando a farofa que é uma delícia.
Em seguida, deixe-as de molho em água e sal por cerca de 1/2 hora.
Escorra-as bem e leve-as ao fogo, em frigideira com fios de azeite e um pouquinho de toucinho, mexendo sempre para não queimar.
Quando estiverem bem torradas, acrescente farinha de mandioca, misture tudo vagarosamente, resultando a farofa que é uma delícia.
terça-feira, 24 de maio de 2011
“... Acreditei nessa conversa mole
Pensei que o mundo ia se acabar
E fui tratando de me despedir
E sem demora fui tratando de aproveitar
Beijei na boca de quem não devia
Peguei na mão de quem não conhecia
Dancei um samba em traje de maiô
E o tal do mundo não se acabou...”
O mundo não se acabou, Assis Valente.
Pensei que o mundo ia se acabar
E fui tratando de me despedir
E sem demora fui tratando de aproveitar
Beijei na boca de quem não devia
Peguei na mão de quem não conhecia
Dancei um samba em traje de maiô
E o tal do mundo não se acabou...”
O mundo não se acabou, Assis Valente.
Ó, lhó, lhó, rapagi, tás tolo, istepô, intiquento, miserento,digraçado! A pinta da tua mãe tá cheia de bicho berne! Tás querendo uma camassada de pau, sô amarelo? Num tô ti parando pelo valori dastainha, cadiquê tem peixe à migueli, magi pramode di ti dizê pra ti,caquí na Ilha num tem genti da tua parecença não. Sí tás brocado emaleixo, tudu bem é só pidi qui nós dãmu; magi si é a farsafé, e dimalinagi pra engabelar e morcegar nós, qui tamo aqui di sóli-a-sóli nomaió saragaço, ti acarqueto os zóio, ti assico a buçica, ti enfenco amão nas venta e ainda chamo os meganha pra ti alevá!
De um pescador de tainha, em Santa Catarina (Dicionário da Ilha – falar e falares da ilha de Santa Catarina).
De um pescador de tainha, em Santa Catarina (Dicionário da Ilha – falar e falares da ilha de Santa Catarina).
quarta-feira, 18 de maio de 2011
terça-feira, 17 de maio de 2011
sexta-feira, 13 de maio de 2011
terça-feira, 10 de maio de 2011
"Todo morro entendeu quando o Zelão chorou
Ninguém riu, ninguém brincou, e era Carnaval
No fogo de um barracão
Só se cozinha ilusão
Restos que a feira deixou
E ainda é pouco só
Mas assim mesmo o Zelão
Dizia sempre a sorrir
Que um pobre ajuda outro pobre até melhorar
Choveu, choveu
A chuva jogou seu barraco no chão
Nem foi possível salvar violão
Que acompanhou morro abaixo a canção
Das coisas todas que a chuva levou
Pedaços tristes do seu coração".
Zelão, Sérgio Ricardo.
Ninguém riu, ninguém brincou, e era Carnaval
No fogo de um barracão
Só se cozinha ilusão
Restos que a feira deixou
E ainda é pouco só
Mas assim mesmo o Zelão
Dizia sempre a sorrir
Que um pobre ajuda outro pobre até melhorar
Choveu, choveu
A chuva jogou seu barraco no chão
Nem foi possível salvar violão
Que acompanhou morro abaixo a canção
Das coisas todas que a chuva levou
Pedaços tristes do seu coração".
Zelão, Sérgio Ricardo.
sexta-feira, 6 de maio de 2011
Presilha, carapuça, carretel, anel, base, enterço, calha; cota, costa ou lombo; gume.
"A coisa mais impressionante de Lampião era a sua faca, segundo disse um fazendeiro de Sergipe que visitou o acampamento quando era menino. Sua figura imponente, sua roupa de cangaceiro, sua pistola e rifle, eram bastante impressionantes, mas nada se comparava àquela faca de 55 cm, com o cabo todo trabalhado, enfiada debaixo de seu cinto".
José Melquíades de Oliveira, Pinhão, Sergipe, 1937, apud Billy Jaynes Chandler.
"A coisa mais impressionante de Lampião era a sua faca, segundo disse um fazendeiro de Sergipe que visitou o acampamento quando era menino. Sua figura imponente, sua roupa de cangaceiro, sua pistola e rifle, eram bastante impressionantes, mas nada se comparava àquela faca de 55 cm, com o cabo todo trabalhado, enfiada debaixo de seu cinto".
José Melquíades de Oliveira, Pinhão, Sergipe, 1937, apud Billy Jaynes Chandler.
“Quando Lampião esteve no município de Palmeira dos Índios, onde se demorou alguns dias mandando bilhetes para a cidade e sem poder entrar nela, trazia mais de cem homens que não se escondiam na capoeira nem transitavam em veredas. Corriam pela estrada real, bem montados, espalhafatosos, pimpões, chapéus de couro enfeitados de argolas e moedas, cartucheiras enormes, alpercatas que eram uma complicação de correias, ilhoses e fivelas, rifles em bandoleira, lixados, azeitados, alumiando.”
Graciliano Ramos, Jornal de Alagoas, 27 de maio de 1933
Graciliano Ramos, Jornal de Alagoas, 27 de maio de 1933
quinta-feira, 5 de maio de 2011
sexta-feira, 29 de abril de 2011
Retire a parte mais grossa dos talos da couve. Lave as folhas, enrole-as bem apertado e corte-as em tirinhas muito finas.Escalde-as em água fervente e escorra bem. Ponha numa panela um pouco de óleo, pouquíssimo, e junte cebola picada, bacon em cubos e uma pitada de sal. Acrescente a couve. Cubra a panela e cozinhe em fogo baixo até ficar macia. Se juntar um pouco de água, escorra. Pouco a pouco, acrescente a farinha de milho ou outra e mexa sempre, em fogo baixo até a farofa fica bem seca.
Farofa de couve, prontinha!
Farofa de couve, prontinha!
quinta-feira, 28 de abril de 2011
quarta-feira, 27 de abril de 2011
"Eu só confio nas pessoas loucas, aquelas que são loucas para viver, loucas para falar, loucas para serem salvas, desejosas de tudo ao mesmo tempo, que nunca bocejam ou dizem uma coisa corriqueira, mas queimam, queimam, queimam, como fabulosas velas amarelas romanas explodindo como aranhas através das estrelas".
Jack Kerouac
Jack Kerouac
terça-feira, 26 de abril de 2011
A Godrej & Boyce, multinacional com sede em Bombaim que ainda apostava na produção de máquinas de escrever, decidiu, este mês, pôr um ponto final numa cronologia com quase século e meio (a primeira máquina de escrever comercial foi fabricada em 1867, nos Estados Unidos), aceitando, triste e finalmente, a obsolescência deste instrumento de trabalho.
E dizer que, ainda hoje, autores como Cormac McCarthy usam, no dia a dia, as suas velhas máquinas de escrever...
E dizer que, ainda hoje, autores como Cormac McCarthy usam, no dia a dia, as suas velhas máquinas de escrever...
segunda-feira, 25 de abril de 2011
quarta-feira, 20 de abril de 2011
segunda-feira, 18 de abril de 2011
Dava pena, dó.
Reagia aos medicamentos.
Entranhava-se.
Operaram-no.
Soube, depois, que ele me esperou durante dias, olhando, pelo portal da varanda, em direção a estrada de terra que dava acesso à fazenda.
Respirou fundo, buscando ar, logo que me viu.
Tentou um movimento qualquer, estonteante.
Achei, por um segundo, que ele reagiria.
Caiu.
E o barulho do corpo se esborrachando no chão frio, quanto tempo demorará para sarar?
Reagia aos medicamentos.
Entranhava-se.
Operaram-no.
Soube, depois, que ele me esperou durante dias, olhando, pelo portal da varanda, em direção a estrada de terra que dava acesso à fazenda.
Respirou fundo, buscando ar, logo que me viu.
Tentou um movimento qualquer, estonteante.
Achei, por um segundo, que ele reagiria.
Caiu.
E o barulho do corpo se esborrachando no chão frio, quanto tempo demorará para sarar?
"Quando escrevo, repito o que já vivi antes.
E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente.
Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo
vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser
um crocodilo porque amo os grandes rios,
pois são profundos como a alma de um homem.
Na superfície são muito vivazes e claros,
mas nas profundezas são tranqüilos e escuros
como o sofrimento dos homens."
Dele.
E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente.
Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo
vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser
um crocodilo porque amo os grandes rios,
pois são profundos como a alma de um homem.
Na superfície são muito vivazes e claros,
mas nas profundezas são tranqüilos e escuros
como o sofrimento dos homens."
Dele.
Em 15 de abril de 1874 foi aberta a exposição que deu origem ao movimento impressionista na Europa, reunindo 165 obras de 27 artistas, entre eles Pissarro, Monet, Renoir, Degas e Cézanne, que exibia, pela primeira vez ao público, sua obra-prima La maison du pendu.
As reações foram imprevisíveis, segundo o pintor:
“A multidão comprimia-se em um grunhido de revolta, os escárnios e as gargalhadas zombeteiras explodiam, toda uma histeria maldosa traduzia o medo, a inquietação e a incompreensão. Quem disse que a arte era uma atividade inocente? Ela era o próprio pulso de uma sociedade, seu reflexo, sua dimensão imaginária. Ao mesmo tempo fascinado e colérico, o público aglutinava-se diante das obras daqueles que eram chamados de “os intransigentes”, os artistas em ruptura com o academicismo, os revolucionários. Se, como disse Picasso, é verdade que ninguém ouve mais bobagens em um dia do que um quadro exposto, os quadros daquela manifestação foram mimados. Era horrível, imundo, revoltante, aqueles pintores, pessoas perversas, charlatões. Pintavam ao acaso, jogavam cor na tela sem pensar.”
As reações foram imprevisíveis, segundo o pintor:
“A multidão comprimia-se em um grunhido de revolta, os escárnios e as gargalhadas zombeteiras explodiam, toda uma histeria maldosa traduzia o medo, a inquietação e a incompreensão. Quem disse que a arte era uma atividade inocente? Ela era o próprio pulso de uma sociedade, seu reflexo, sua dimensão imaginária. Ao mesmo tempo fascinado e colérico, o público aglutinava-se diante das obras daqueles que eram chamados de “os intransigentes”, os artistas em ruptura com o academicismo, os revolucionários. Se, como disse Picasso, é verdade que ninguém ouve mais bobagens em um dia do que um quadro exposto, os quadros daquela manifestação foram mimados. Era horrível, imundo, revoltante, aqueles pintores, pessoas perversas, charlatões. Pintavam ao acaso, jogavam cor na tela sem pensar.”
quinta-feira, 14 de abril de 2011
Rua pequena, fora do padrão de um quarteirão, calçadas largas de um lado e do outro.
Árvores frondosas, cujas copas, largas, juntam-se, a meia altura, sombreadamente.
Abraçam-se.
Gestos largos.
E despedem-se logo depois.
Vão-se, passos largos.
Assim: apoio do calcanhar, alinhamento do pé, acomodação intermediária, impulsão do calcanhar, impulsão dos dedos.
Árvores frondosas, cujas copas, largas, juntam-se, a meia altura, sombreadamente.
Abraçam-se.
Gestos largos.
E despedem-se logo depois.
Vão-se, passos largos.
Assim: apoio do calcanhar, alinhamento do pé, acomodação intermediária, impulsão do calcanhar, impulsão dos dedos.
"Sofro de insuficiência renal. Já arrebentei o nariz. Meu estômago é uma zona. No meu fígado não gosto nem de pensar. Já tive cistos recorrentes, alguns - tipo o do meu tornozelo esquerdo - chegaram a ficar do tamanho de um globo ocular. Por sorte, a maioria pôde ser removida tranquilamente na banheira, com algumas dose de Wild Turkey e um canivete."
Jim Kniptel
Jim Kniptel
segunda-feira, 11 de abril de 2011
Numa noite, meio bêbado, fui com um amigo comer uma pizza no baixo Leblon. Lá fomos. Havia uma mulher numa outra mesa que era a cara da Yoná Magalhães quando jovem, acompanhada por um homem. Ela virou-se para mim e perguntou se podia sentar junto. Não desconfiei de nada. O amigo logo percebeu que devia estar rolando algum clima e foi embora. Ficamos um tempão falando sobre Nietzsche. Não desconfiei de nada. Combinamos de ir para minha casa, só que, antes, soube, ela tinha que passar na casa da irmã. Fomos. A mãe e a irmã estavam acordadas e vestidas, duas horas da manhã. Não desconfiei de nada. Serviram uísque e a cada vez que eu fazia menção de ir embora, enchiam mais um copo e puxavam mais um assunto. Não desconfiei de nada. Até que entraram dois enfermeiros, colocaram o meu louco amor numa camisa de força e a levaram de volta para o hospital.
Classir Scorsato
Classir Scorsato
A casa “bandeirista” se caracteriza por alguns princípios arquitetônicos básicos, que variam sutilmente em cada um dos exemplares remanescentes:
. possui um único pavimento e, invariavelmente, assentada em um terreno plano;
. planta básica composta de três lanços, isto é, três fileiras de cômodos perpendiculares ao frontispício da casa;
. um “corredor” fronteiro (não uma passagem interna, como atualmente, mas uma espécie de alpendre ou varanda) normalmente encaixado entre dois cômodos igualmente fronteiros, um deles destinado à capela doméstica e o outro, completamente isolado do restante da casa, reservado ao acolhimento de hóspedes;
. nos exemplares mais tardios, um outro corredor posterior, destinado, sobretudo, a afazeres domésticos e às refeições, enquanto o fronteiro se destinava à recepção social ou às refeições dos hóspedes;
. uma sala central, com a qual a maioria dos cômodos se liga diretamente;
. telhados de duas ou quatro águas, sendo estes quase sempre providos de uma dupla inclinação muito elegante;
. ocorrência de sótãos, alguns com janelas externas.
. as cozinhas eram construídas em “puxados” anexos, chamados tacaniças, ocasionalmente em taipa de mão, ou, como indicam pesquisas arqueológicas realizadas no solo das casas, percorriam alguns dos cômodos das casas, incluindo a sala central. Vários outras podiam ser as construções anexas à casa além dos próprios telheiros das cozinhas: quartos para criados de hóspedes, depósitos de gêneros, paióis, moinhos de milho ou trigo, monjolos, moendas para cana e casas para escravos.
César Garcez Marins
. possui um único pavimento e, invariavelmente, assentada em um terreno plano;
. planta básica composta de três lanços, isto é, três fileiras de cômodos perpendiculares ao frontispício da casa;
. um “corredor” fronteiro (não uma passagem interna, como atualmente, mas uma espécie de alpendre ou varanda) normalmente encaixado entre dois cômodos igualmente fronteiros, um deles destinado à capela doméstica e o outro, completamente isolado do restante da casa, reservado ao acolhimento de hóspedes;
. nos exemplares mais tardios, um outro corredor posterior, destinado, sobretudo, a afazeres domésticos e às refeições, enquanto o fronteiro se destinava à recepção social ou às refeições dos hóspedes;
. uma sala central, com a qual a maioria dos cômodos se liga diretamente;
. telhados de duas ou quatro águas, sendo estes quase sempre providos de uma dupla inclinação muito elegante;
. ocorrência de sótãos, alguns com janelas externas.
. as cozinhas eram construídas em “puxados” anexos, chamados tacaniças, ocasionalmente em taipa de mão, ou, como indicam pesquisas arqueológicas realizadas no solo das casas, percorriam alguns dos cômodos das casas, incluindo a sala central. Vários outras podiam ser as construções anexas à casa além dos próprios telheiros das cozinhas: quartos para criados de hóspedes, depósitos de gêneros, paióis, moinhos de milho ou trigo, monjolos, moendas para cana e casas para escravos.
César Garcez Marins
Mais um, dos bons, que foi embora: Sidney Lumet.
Dirigiu ótimos filmes, como Doze Homens e Uma Sentença (Twelve Angry Men), Vidas em Fuga (The Fugitive Kind), O Homem do Prego (The Pawnbroker), Serpico, Assassinato no Expresso do Oriente (Murder on the Orient Express),Um Dia de Câo (Dog Day Afternoon), Rede de Intrigas (Network), O Veredicto (The Verdict), O Peso de um Passado (Running on Empty), Q&A, Sombras da Lei (Night Falls on Manhattan), Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto (Before the Devil Knows You’re Dead).
Foi um dos cineastas que filmou Nova York de forma apaixonada, aberta, franca. Diferentemente de Woody Allen, revelou o lado sombrio da cidade.
Dirigiu ótimos filmes, como Doze Homens e Uma Sentença (Twelve Angry Men), Vidas em Fuga (The Fugitive Kind), O Homem do Prego (The Pawnbroker), Serpico, Assassinato no Expresso do Oriente (Murder on the Orient Express),Um Dia de Câo (Dog Day Afternoon), Rede de Intrigas (Network), O Veredicto (The Verdict), O Peso de um Passado (Running on Empty), Q&A, Sombras da Lei (Night Falls on Manhattan), Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto (Before the Devil Knows You’re Dead).
Foi um dos cineastas que filmou Nova York de forma apaixonada, aberta, franca. Diferentemente de Woody Allen, revelou o lado sombrio da cidade.
sexta-feira, 8 de abril de 2011
"Mulheres: gostava das cores de suas roupas; do jeito delas andarem; da crueldade de certas caras. Vez por outra, via um rosto de beleza quase pura, total e completamente feminina. Elas levavam vantagem sobre a gente: planejavam melhor as coisas, eram mais organizadas. Enquanto os homens viam futebol, tomavam cerveja ou jogavam boliche, elas, as mulheres, pensavam na gente, concentradas, estudiosas, decididas: a nos aceitar, a nos descartar, a nos trocar, a nos matar ou simplesmente a nos abandonar. No fim das contas, pouco importava; seja lá o que decidissem, a gente acabava mesmo na solidão e na loucura."
Charles Bukowski
Charles Bukowski
O gude guardado entre trapos.
Não mata mais o bodoque de ipê, envergonha-se.
Roda, pião, bambeia, ô pião – fieira encerada.
O olho de boi roubado do pai espia.
Insossas, bobas, tolas, sonsas, chatas, sem graça, tontas.
Faltam-lhes panturilhas?
Na finca, marraio! Feridô, sou rei!
Goiabeiras, miosótis lacustres, trevos que não há.
Braçadas de malvas, tensas verbenas, lábios de glicínias.
Da Gameleira, Santo Antônio, Carmo, Serra, Cachoeirinha, Renascença, Carlos Prates partiam bondes tendo como parada obrigatória os abrigos da Praça Sete de Setembro.
A menina estava longe, no Morro do Ferro, fazendo o que?
Não mata mais o bodoque de ipê, envergonha-se.
Roda, pião, bambeia, ô pião – fieira encerada.
O olho de boi roubado do pai espia.
Insossas, bobas, tolas, sonsas, chatas, sem graça, tontas.
Faltam-lhes panturilhas?
Na finca, marraio! Feridô, sou rei!
Goiabeiras, miosótis lacustres, trevos que não há.
Braçadas de malvas, tensas verbenas, lábios de glicínias.
Da Gameleira, Santo Antônio, Carmo, Serra, Cachoeirinha, Renascença, Carlos Prates partiam bondes tendo como parada obrigatória os abrigos da Praça Sete de Setembro.
A menina estava longe, no Morro do Ferro, fazendo o que?
quinta-feira, 7 de abril de 2011
"Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascender da terra.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
Se não assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que a tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho."
Pablo Neruda
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascender da terra.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
Se não assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que a tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho."
Pablo Neruda
quarta-feira, 6 de abril de 2011
As bailarinas de Paula Rego, cuja obra está sendo exposta na Pinacoteca de São Paulo, são operárias entregues à dança de forma visceral e grotesca, pés disformes e dilacerados.
Ela não se submete àquela interpretação estúpida que se dá comumente em relação ao balé, estereotipando gestos e personagens.
Não.
As dançarinas desta portuguesa notável, são mulheres comuns, dramáticas, corpulentas que se mostram trágicas, fervorosas e determinadas em relação a um ofício, como deve ser, forçosa e inapelavelmente, o trabalho de um artista.
Ela não se submete àquela interpretação estúpida que se dá comumente em relação ao balé, estereotipando gestos e personagens.
Não.
As dançarinas desta portuguesa notável, são mulheres comuns, dramáticas, corpulentas que se mostram trágicas, fervorosas e determinadas em relação a um ofício, como deve ser, forçosa e inapelavelmente, o trabalho de um artista.
segunda-feira, 4 de abril de 2011
Enfarpelada: empetecada, embonecada.
Conciliábulo: pequena assembléia; trama, conspiração.
Azinhavre: camada esverdeada que se forma em objetos de cobre ou latão devido à umidade.
Caracolear: mover-se o cavalo em galope curto.
Opalescente: relativo à opala (pedra preciosa de cor leitosa e azulada).
Catecúmenos: pessoa que se prepara para ser batizada.
Macambúzio: que é, ou momentaneamente se mostra, taciturno, carrancudo, melancólico.
Língua bonita, sinhô!
Conciliábulo: pequena assembléia; trama, conspiração.
Azinhavre: camada esverdeada que se forma em objetos de cobre ou latão devido à umidade.
Caracolear: mover-se o cavalo em galope curto.
Opalescente: relativo à opala (pedra preciosa de cor leitosa e azulada).
Catecúmenos: pessoa que se prepara para ser batizada.
Macambúzio: que é, ou momentaneamente se mostra, taciturno, carrancudo, melancólico.
Língua bonita, sinhô!
quinta-feira, 31 de março de 2011
terça-feira, 29 de março de 2011
Trabalhava em propaganda.
E fazia do próprio carro um outdoor ambulante, afixando no vidro traseiro, sempre que havia um bom motivo, uma frase qualquer.
Quando morreu o cantor, compositor e violonista Mário Reis - a sua forma inovadora de cantar, adiantando ou atrasando a melodia nos compassos, influenciou pelo menos dois dos maiores cantores brasileiros, Orlando Silva e João Gilberto -, em outubro de 1981, fez um cartaz e, como de hábito, colou-o no vidro do Fiat 147: “Cadê Mimi?”
E fazia do próprio carro um outdoor ambulante, afixando no vidro traseiro, sempre que havia um bom motivo, uma frase qualquer.
Quando morreu o cantor, compositor e violonista Mário Reis - a sua forma inovadora de cantar, adiantando ou atrasando a melodia nos compassos, influenciou pelo menos dois dos maiores cantores brasileiros, Orlando Silva e João Gilberto -, em outubro de 1981, fez um cartaz e, como de hábito, colou-o no vidro do Fiat 147: “Cadê Mimi?”
segunda-feira, 28 de março de 2011
"Em que medida escrever é me escrever? Ou me inscrever na alma do leitor, tornando-me parte de sua paisagem interior? Escrever não será, no limite, o narcisismo oceânico? Por que supor que estas formações fantasmáticas, esses doppelgängers que se chamam personagens possam vir a interessar, a entusiasmar, a fazer sofrer os leitores? (…) Por trás desse desejo de ser lido ainda depois da miha morte, não se esconde, enrodilhada, uma vontade de permanência e eternidade somente permitida aos deuses?"
Charles Kiefer
Charles Kiefer
sexta-feira, 25 de março de 2011
Sevador, prensa, fuso, antrolhos, tipiti, cangalha, quarta, paiol, almanjarra, canga, rodete, hélice.
Além da farinha de mandioca, também chamada de farinha de guerra, faz-se, nos engenhos de farinha, rosca de polvilho, rosca de massa, cacuanga, bijú e outras iguarias.
Há os engenhos de cangalha. O boi trabalha em volta do forno e do sevador. Existem, ainda, o engenho de chamarrita (o mais rudimentar, também chamado de pouca pressa) e o engenho de mastro.
Ei, Brasil!
Além da farinha de mandioca, também chamada de farinha de guerra, faz-se, nos engenhos de farinha, rosca de polvilho, rosca de massa, cacuanga, bijú e outras iguarias.
Há os engenhos de cangalha. O boi trabalha em volta do forno e do sevador. Existem, ainda, o engenho de chamarrita (o mais rudimentar, também chamado de pouca pressa) e o engenho de mastro.
Ei, Brasil!
quinta-feira, 24 de março de 2011
quarta-feira, 23 de março de 2011
Sentou-se.
Estava cansado e sentia dor.
Olhou em volta.
Fechou os olhos, colocou as mãos sobre a cabeça.
Limpou o suor do rosto.
Apoiou os cotovelos nas coxas e deixou o corpo relaxar.
Respirou fundo.
Ele o atendeu com polidez, logo depois.
Tirou do bolso do blaser um envelope suado e o colocou sobre a mesa.
Virou-se e saiu da sala sem dizer coisa alguma.
Na rua, deu-se conta que não tinha dinheiro para pegar um taxi, tampouco condução qualquer.
Duas horas depois, chegou onde morava.
Sentou-se ali mesmo, no muro próximo ao embarcadouro.
O cheiro da maresia era forte, como nos meses de outubro, quando os ventos vindos do Sul provocavam ressacas demoradas que destruíam ainda mais, ano a ano, aquele trecho do litoral.
Pensou no pai, sem razão aparente.
E o amaldiçoou.
Parecia-se com ele.
O andar era o mesmo, arqueado.
A tosse, que o incomodava tanto, assemelhava-se, ruidosa, a do pai.
Filho da puta, pensou.
Penitenciou-se. Afinal, o que ele tinha a ver com tudo aquilo?
Foda-se.
A decisão tinha sido dele, unicamente.
A situação o martirizava, apequenava-o.
Como diria a ela que havia vendido a casa?
Cansou-me ao subir a rampa que levava ao piso dos armazéns.
Arfante, viu, lá no fundo da baía, entrecoberta por uma bruma leve, a ilha de Argolas com seu casario disperso, onde havia nascido e sido criado.
Não gritou.
Sentiu, apenas, quase no final da queda, um frescor intenso e inebriante.
Estava cansado e sentia dor.
Olhou em volta.
Fechou os olhos, colocou as mãos sobre a cabeça.
Limpou o suor do rosto.
Apoiou os cotovelos nas coxas e deixou o corpo relaxar.
Respirou fundo.
Ele o atendeu com polidez, logo depois.
Tirou do bolso do blaser um envelope suado e o colocou sobre a mesa.
Virou-se e saiu da sala sem dizer coisa alguma.
Na rua, deu-se conta que não tinha dinheiro para pegar um taxi, tampouco condução qualquer.
Duas horas depois, chegou onde morava.
Sentou-se ali mesmo, no muro próximo ao embarcadouro.
O cheiro da maresia era forte, como nos meses de outubro, quando os ventos vindos do Sul provocavam ressacas demoradas que destruíam ainda mais, ano a ano, aquele trecho do litoral.
Pensou no pai, sem razão aparente.
E o amaldiçoou.
Parecia-se com ele.
O andar era o mesmo, arqueado.
A tosse, que o incomodava tanto, assemelhava-se, ruidosa, a do pai.
Filho da puta, pensou.
Penitenciou-se. Afinal, o que ele tinha a ver com tudo aquilo?
Foda-se.
A decisão tinha sido dele, unicamente.
A situação o martirizava, apequenava-o.
Como diria a ela que havia vendido a casa?
Cansou-me ao subir a rampa que levava ao piso dos armazéns.
Arfante, viu, lá no fundo da baía, entrecoberta por uma bruma leve, a ilha de Argolas com seu casario disperso, onde havia nascido e sido criado.
Não gritou.
Sentiu, apenas, quase no final da queda, um frescor intenso e inebriante.
“... Em alguma medida, o clima de irreverência que marcou as últimas décadas do reinado de Pedro II – Pedro Banana, para os adversários – entrou pela República adentro. Basta relembrar as quadrinhas que eram cantadas no Rio ironizando o marechal Deodoro, que segundo as más línguas, teria proclamado a República irritado com a notícia – falsa, aliás – de que o Imperador pretendia nomear para primeiro-ministro o senador Silveira Martins, seu rival na disputa pelos favores e ardores sexuais de uma certa viúva alegre chamada Adelaide: “Papagaio come milho / Coruja bebe azeite / Mas a pomba da Adelaide / Come carne, bebe leite”. Esse clima de pândega marcou os diversos campos de expressão da música popular nas primeiras décadas da República: o carnaval, as festas populares, os terreiros, os cafés cantantes, os chopes berrantes e o teatro de revista...”.
Blog do Franklin Martins, Som na Caixa, Música na República Velha.
Blog do Franklin Martins, Som na Caixa, Música na República Velha.
terça-feira, 22 de março de 2011
segunda-feira, 21 de março de 2011
sexta-feira, 18 de março de 2011
quinta-feira, 17 de março de 2011
Jane Monheit é uma das maiores revelações do jazz vocal nos últimos anos. Destacou-se na competição vocal do Thelonious Monk Institute, em 1998, diante de um júri composto por Dee Dee Bridgewater, Nnenna Freelon, Diana Krall, Dianne Reeves e Joe Williams.
Os críticos a classificam como uma cantora “retrô”, que se abstém de radicalismos ou grandes inovações, como afirma Valter Alnis Bezerra. Segundo ele, ela pouco faz no sentido de romper com as convenções do canto jazzístico. Jane nunca quebra a porcelana nem risca a prataria; ao contrário, ela faz questão de se manter fiel a um padrão clássico de beleza. Isso não constitui, em si, um grande pecado: afinal, ainda existe muito espaço para que as cantoras desenvolvam o repertório standard com elegância e sutileza.
Os críticos a classificam como uma cantora “retrô”, que se abstém de radicalismos ou grandes inovações, como afirma Valter Alnis Bezerra. Segundo ele, ela pouco faz no sentido de romper com as convenções do canto jazzístico. Jane nunca quebra a porcelana nem risca a prataria; ao contrário, ela faz questão de se manter fiel a um padrão clássico de beleza. Isso não constitui, em si, um grande pecado: afinal, ainda existe muito espaço para que as cantoras desenvolvam o repertório standard com elegância e sutileza.
Anda pelos campos em busca de restos de animais. Algumas vezes, assume a forma de uma cobra com os olhos flamejantes do tamanho de sua cabeça e persegue os viajantes noturnos. É visto, quase sempre, como um facho cintilante de fogo correndo de um lado para outro da mata. No Nordeste do Brasil é chamado de "Cumadre Fulôzinha". Para os índios ele é "Mbaê-Tata", ou Coisa de Fogo, e mora no fundo dos rios.
Cuidado com o Boi Tatá!
Cuidado com o Boi Tatá!
O The Guardian publicou, na edição de 11/3, lista dos 10 melhores poemas americanos (10 greatest American poems), sendo:
1. "Song of Myself" by Walt Whitman
2. "The Idea of Order at Key West" by Wallace Stevens
3. "Because I could not stop for death" by Emily Dickinson
4. "Directive" by Robert Frost
5. "Middle Passage" by Robert Hayden
6. "The Dry Salvages" by TS Eliot
8. "To My Dear and Loving Husband" by Ann Bradstreet
9. "Memories of West Street and Lepke" by Robert Lowell
10. "And Ut Pictura Poesis Is Her Name" by John Ashbery
Quem dá mais?
1. "Song of Myself" by Walt Whitman
2. "The Idea of Order at Key West" by Wallace Stevens
3. "Because I could not stop for death" by Emily Dickinson
4. "Directive" by Robert Frost
5. "Middle Passage" by Robert Hayden
6. "The Dry Salvages" by TS Eliot
8. "To My Dear and Loving Husband" by Ann Bradstreet
9. "Memories of West Street and Lepke" by Robert Lowell
10. "And Ut Pictura Poesis Is Her Name" by John Ashbery
Quem dá mais?
quarta-feira, 16 de março de 2011
terça-feira, 15 de março de 2011
André Barcinsk divulgou, em seu blog, o que considera as melhores comédias do mundo, sendo:
"Bancando o Águia" (Sherlock Jr., Buster Keaton, 1924), "Em Busca do Ouro" (The Gold Rush, Chaplin, 1925), "Quanto Mais Quente Melhor" (Some Like It Hot, Billy Wilder, 1959), "Os Eternos Desconhecidos" (I Soliti Ignoti, Mario Monicelli, 1958), "Banzé no Oeste" (Blazing Saddles, Mel Brooks, 1974), "O Grande Lebowski" (The Big Lebowski, Joel e Ethan Coen, 1998), "Monty Python e o Cálice Sagrado" (Monty Python and The Holy Grail, Terry Gilliam e Terry Jones, 1975), "The Bank Dick" (Edward Cline, 1940), "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (Annie Hall, Woody Allen, 1977) e "Diabo a Quatro" (Leo McCarey, 1933).
Irretocável!
"Bancando o Águia" (Sherlock Jr., Buster Keaton, 1924), "Em Busca do Ouro" (The Gold Rush, Chaplin, 1925), "Quanto Mais Quente Melhor" (Some Like It Hot, Billy Wilder, 1959), "Os Eternos Desconhecidos" (I Soliti Ignoti, Mario Monicelli, 1958), "Banzé no Oeste" (Blazing Saddles, Mel Brooks, 1974), "O Grande Lebowski" (The Big Lebowski, Joel e Ethan Coen, 1998), "Monty Python e o Cálice Sagrado" (Monty Python and The Holy Grail, Terry Gilliam e Terry Jones, 1975), "The Bank Dick" (Edward Cline, 1940), "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (Annie Hall, Woody Allen, 1977) e "Diabo a Quatro" (Leo McCarey, 1933).
Irretocável!
quinta-feira, 10 de março de 2011
Vivia de muxoxos.
Irascível, não tinha paciência para novas amizades.
Desdenhava tudo.
E todos.
Acreditava firmemente que amigos tinham número certo: 4.
Afinal, dizia ele, são quatro as alças dos caixões.
Enquanto o corpo dele era velado - dois gatos pingados, além de mim -, dei-me conta que o caixão, moderníssimo, tinha seis alças.
Irascível, não tinha paciência para novas amizades.
Desdenhava tudo.
E todos.
Acreditava firmemente que amigos tinham número certo: 4.
Afinal, dizia ele, são quatro as alças dos caixões.
Enquanto o corpo dele era velado - dois gatos pingados, além de mim -, dei-me conta que o caixão, moderníssimo, tinha seis alças.
sexta-feira, 4 de março de 2011
"Agora é no cipó de goiabeira
Pra maloqueiro tem cipó de goiabeira
Foge menino do cipó de goiabeira
Se não vai levar lapada do cipó de goiabeira
Oh! Tem folia de Reis
Em Água Fria e em Jaboatão
Tem a cobra chinesa
Mamãe não bata no menino
Deixe o menino brincar
De barra-bandeira, pião, academia, de bola-de-gude,
Polícia-ladrão, tomar banho de rio, berlinda e pipa,
Jogar futebol, passarás a bandeira, de pega-pegou,
Calçadinha de ouro, se esconde, se esconde,
Cantigas de roda..."
Silvério Pessoa, em "Cipó de goiabeira".
Pra maloqueiro tem cipó de goiabeira
Foge menino do cipó de goiabeira
Se não vai levar lapada do cipó de goiabeira
Oh! Tem folia de Reis
Em Água Fria e em Jaboatão
Tem a cobra chinesa
Mamãe não bata no menino
Deixe o menino brincar
De barra-bandeira, pião, academia, de bola-de-gude,
Polícia-ladrão, tomar banho de rio, berlinda e pipa,
Jogar futebol, passarás a bandeira, de pega-pegou,
Calçadinha de ouro, se esconde, se esconde,
Cantigas de roda..."
Silvério Pessoa, em "Cipó de goiabeira".
quinta-feira, 3 de março de 2011
quarta-feira, 2 de março de 2011
Ai, que vergonha! Largo da mulher, mas não largo da cerveja; Eu sou eu, jacaré é bicho d’água; Regula, mas libera; Voltar pra que? Imprensa que eu gamo! Espanta neném; Nem muda, nem sai de cima; Eu vou, mas eu volto; Calma, calma, sua piranha! Bagunça meu coreto; Cora, me liga; Katuca que ela pula, Balanço do pinto, Simpatia é quase amor; Vem, caminha junto; Meu amor, eu vou ali; Xupa, mas não baba; Imaginô? Agora amassa! Cutucano atrás; Só o cume interessa, Espreme que sai, Butano na bureta, Dá um cadinho para nós, Já comi pior pagando, Pinto na perereca, Ou vai ou mama, O negócio tá feio e teu nome tá no meio, Encosta que ele cresce; Pinto sarado, Incha rola; Vem cá, me dá; Parei de beber, não de mentir; Se der certo, a gente sai; A coisa tá preta; Se não quiser me dar, me empresta; É pequeno, mas balança; Quem num guenta bebe água; Vai tomar no Grajaú! Deixa a língua no varal; Tá na frente, eu empurro; Se tu fô eu vô; Eu choro curto, mas rio comprido; É pequeno, mas vai crescer; Rola preguiçosa; Vem ni mim que sou facinha; Pinta, mas não borra; Qual seu preço, meu amor? Não mexe que fede, Me leva que eu vou, Que merda é essa? Virilha de minhoca; Enxergo, mas não quebro; Assa o pão, mas não queima a rosca; Tá na frente, eu empurro; Me dá teu gancho, que eu te mostro meu pivô; Se não guenta, por que veio? Empurra que entra.
Esses blocos carnalescos do Rio e seus nomes debochadíssimos!
Esses blocos carnalescos do Rio e seus nomes debochadíssimos!
terça-feira, 1 de março de 2011
"Diego não conhecia o mar.
O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para descobrir o mar.
Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas
alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava
na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar e
tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E
quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando,
pediu ao pai:
– Me ajuda a olhar!".
Eduardo Galeano, em "Pescadores de vida".
O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para descobrir o mar.
Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas
alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava
na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar e
tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E
quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando,
pediu ao pai:
– Me ajuda a olhar!".
Eduardo Galeano, em "Pescadores de vida".
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
“Levaram-no para uma cova simples, de preço ínfimo, no Caju. Enterraram-no sem choro escandaloso, com algumas flores das mais baratas. Mas, na honraria que lhe era devida, com a bandeira verde-rosa da escola cobrindo o seu caixão.”
Jota Efegê, em artigo para O Globo, edição de 14/12/71, sobre a morte de Alfredo Lourenço, o Alfredo Português, pai postiço de Nélson Sargento e autor de saudosos sambas-enredo da Mangueira.
Jota Efegê, em artigo para O Globo, edição de 14/12/71, sobre a morte de Alfredo Lourenço, o Alfredo Português, pai postiço de Nélson Sargento e autor de saudosos sambas-enredo da Mangueira.
Publicada em Mariana desde 1870, a tradicionalíssima “Folhinha Eclesiástica de Mariana”, foi criada por D. Silvério para ser um sucedâneo aos calendários, por vezes, digamos, um tanto licenciosos.
Famosa pelo regulamento do tempo – usa o Lunário Perpétuo para os cálculos anuais -, a folhinha de Mariana que se firmou, no decorrer dos anos, como infalível, tem uma tiragem de cerca de trezentos mil exemplares.
Diz-se que “é mais fácil em galinha nascer dente do que a folhinha de Mariana falhar!”
O calendário apresenta orações, instruções religiosas, tabela do amanhecer e do anoitecer, das festas móveis, dos feriados, época de plantio, além de reservar um espaço 11×15 para a propaganda das casas comerciais que o distribuem aos fregueses como brinde de fim de ano.
Aí está, em pleno século XXI, vivíssima!
Famosa pelo regulamento do tempo – usa o Lunário Perpétuo para os cálculos anuais -, a folhinha de Mariana que se firmou, no decorrer dos anos, como infalível, tem uma tiragem de cerca de trezentos mil exemplares.
Diz-se que “é mais fácil em galinha nascer dente do que a folhinha de Mariana falhar!”
O calendário apresenta orações, instruções religiosas, tabela do amanhecer e do anoitecer, das festas móveis, dos feriados, época de plantio, além de reservar um espaço 11×15 para a propaganda das casas comerciais que o distribuem aos fregueses como brinde de fim de ano.
Aí está, em pleno século XXI, vivíssima!
— Mas o senhor quer a nossa ajuda como, prefeito?
— Não fazendo casa onde não deve.
— Mas nós estamos morando aqui, prefeito, porque não temos condições de ter moradia digna.
— Minha filha, então morra, morra!
— Então nós vamos morrer, porque o senhor não faz nada por nós...
— Não diga besteira minha filha, não diga besteira. Você é de onde?
— Eu? Moro aqui.
— Você é de onde?
— Sou do Pará.
— Então, está explicado.
Diálogo do prefeito Amazonino Mendes, de Manaus, com uma moradora da comunidade Santa Marta, sediada em área de risco da capital do Amazonas.
Inacreditável!
— Não fazendo casa onde não deve.
— Mas nós estamos morando aqui, prefeito, porque não temos condições de ter moradia digna.
— Minha filha, então morra, morra!
— Então nós vamos morrer, porque o senhor não faz nada por nós...
— Não diga besteira minha filha, não diga besteira. Você é de onde?
— Eu? Moro aqui.
— Você é de onde?
— Sou do Pará.
— Então, está explicado.
Diálogo do prefeito Amazonino Mendes, de Manaus, com uma moradora da comunidade Santa Marta, sediada em área de risco da capital do Amazonas.
Inacreditável!
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
"Jogo horroroso, zero a zero até o meio do segundo tempo. Saldanha, enfurecido, só reclama do time. Telê manda Muller pro aquecimento. O locutor Paulo Stein pergunta:
“João, quem deve sair pro Muller entrar?”
“E eu sei lá?”, responde João, furibundo. “Porra, contra esse time aí? Sai qualquer um! Sai o Casagrande, sai o Sócrates, sai quem quiser! Sai até você, que fica aí me perguntando essas coisas!"
Transcrito do blog do André Barcinski.
“João, quem deve sair pro Muller entrar?”
“E eu sei lá?”, responde João, furibundo. “Porra, contra esse time aí? Sai qualquer um! Sai o Casagrande, sai o Sócrates, sai quem quiser! Sai até você, que fica aí me perguntando essas coisas!"
Transcrito do blog do André Barcinski.
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
Desceu a escadaria, impaciente.
O interessado em alugar a propriedade vinha logo atrás e aquilo o incomodava.
Notou, ali, um movimento qualquer.
E viu, de relance, no fundo do paiol em desarrumação, o corpo de um animal ao lado de fardos de ração, caixotes, bornais, enxós, jacás, rodas de cabreúva.
Um tordilho caído, inerte.
Havia, também - aumentando-lhe a irritação -, um homem e animais menores inteiramente enlameados.
- O que você faz aqui?
- Durmo, só.
- Como?
- Venho tarde. E durmo.
- E quem deixou?
- Não é caso de briga, não senhor...
- Quem?
- A moça.
Expulsou-o.
- Não tenho onde dormir com esse tempo danado.
- E eu com isso?
- Vou ter que trabalhar, moço. Sou canoeiro e rezador. E quero não trabalho certinho. Já passei por Serraria, Boa Fé, Laranjeiras, Santa Bárbara, Serra Vermelha, Conceição, Pitanga e me deixaram.
Ela tentou convencê-lo. Qual o problema, afinal? Ninguém mais aparecia por ali. E o homem, coitado, não fazia mal algum. Escrevia coisas, receitava, curava.
Voltou um dia, avisaram.
Na porta da varanda, notou que ela estava de cabelos soltos.
- Você me desculpou?
Deu-lhe as costas.
Trancou-se. Acompanhou-a, pela janela da sala, até cruzar a porteira.
Perguntou para o caseiro, tempos depois, aparentando desinteresse, se ela tinha voltado.
- Todos os dias, tardinha. Deita-se lá, onde dormia o homem, tempo curto, um tanto só, e pede, contrita, para tirar a simpatia do senhor.
O interessado em alugar a propriedade vinha logo atrás e aquilo o incomodava.
Notou, ali, um movimento qualquer.
E viu, de relance, no fundo do paiol em desarrumação, o corpo de um animal ao lado de fardos de ração, caixotes, bornais, enxós, jacás, rodas de cabreúva.
Um tordilho caído, inerte.
Havia, também - aumentando-lhe a irritação -, um homem e animais menores inteiramente enlameados.
- O que você faz aqui?
- Durmo, só.
- Como?
- Venho tarde. E durmo.
- E quem deixou?
- Não é caso de briga, não senhor...
- Quem?
- A moça.
Expulsou-o.
- Não tenho onde dormir com esse tempo danado.
- E eu com isso?
- Vou ter que trabalhar, moço. Sou canoeiro e rezador. E quero não trabalho certinho. Já passei por Serraria, Boa Fé, Laranjeiras, Santa Bárbara, Serra Vermelha, Conceição, Pitanga e me deixaram.
Ela tentou convencê-lo. Qual o problema, afinal? Ninguém mais aparecia por ali. E o homem, coitado, não fazia mal algum. Escrevia coisas, receitava, curava.
Voltou um dia, avisaram.
Na porta da varanda, notou que ela estava de cabelos soltos.
- Você me desculpou?
Deu-lhe as costas.
Trancou-se. Acompanhou-a, pela janela da sala, até cruzar a porteira.
Perguntou para o caseiro, tempos depois, aparentando desinteresse, se ela tinha voltado.
- Todos os dias, tardinha. Deita-se lá, onde dormia o homem, tempo curto, um tanto só, e pede, contrita, para tirar a simpatia do senhor.
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
“Matisse: The Life”, de Hilary Spurling, será lançado no segundo semestre pela Cosac Naify.
Publicada originalmente em dois volumes, em 1998 e 2005, reunidos na edição que sairá no País, a obra resultou de 15 anos de pesquisas e rendeu à autora o Prêmio Whitbread.
Henri-Émile-Benoît Matisse nasceu em Le Cateau, Picardia, em 31 de dezembro de 1869. Mudou-se para Paris em 1891 e estudou na École des Arts Décoratifs e no ateliê de Gustave Moreau.
Dos pintores fauvistas, que exploraram as cores fortes, Matisse foi o único a evoluir para o equilíbrio entre a cor e o traço em composições planas, sem profundidade.
Liberto do fauvismo, já maduro, o pintor revelou tendência a reduzir as linhas à essência, sem, contudo, se fixar na abstração.
Obra a ser lida e relida, vezes e vezes.
Publicada originalmente em dois volumes, em 1998 e 2005, reunidos na edição que sairá no País, a obra resultou de 15 anos de pesquisas e rendeu à autora o Prêmio Whitbread.
Henri-Émile-Benoît Matisse nasceu em Le Cateau, Picardia, em 31 de dezembro de 1869. Mudou-se para Paris em 1891 e estudou na École des Arts Décoratifs e no ateliê de Gustave Moreau.
Dos pintores fauvistas, que exploraram as cores fortes, Matisse foi o único a evoluir para o equilíbrio entre a cor e o traço em composições planas, sem profundidade.
Liberto do fauvismo, já maduro, o pintor revelou tendência a reduzir as linhas à essência, sem, contudo, se fixar na abstração.
Obra a ser lida e relida, vezes e vezes.
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
Danúbio, Azteca, Miramar, Paissandu, Veneza, Star, Carioca, América, Ipanema, Olinda, Caruso, Odeon, São Luíz, Capitólio, Pathé, Império, Palácio, Ritz, Rian, Roxy, Ópera, Jóia, Ricamar, Lido, Bruni, Madureira, Imperator, Metro.
“Aquele que não sentiu a perda de um cinema que freqüentou durante anos, tem o coração de pedra ou a memória nublada”.
Drummond
“Aquele que não sentiu a perda de um cinema que freqüentou durante anos, tem o coração de pedra ou a memória nublada”.
Drummond
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
O azul, imenso, invadiu manhãs e tardes no pontal.
Durante dias... quantos, ninguém sabe.
Lassidão e ócio.
Conversa mole, manga-rosa.
Cuscuz de banana-da-terra.
As notícias chegaram rápido.
Escotas caçadas esperavam a entrada do sudoeste, que rugia na entrada da barra.
A barra e o cais e a rua e a calçada e a varanda da casa grande.
E o menino que vinha, de trem, calça caqui, dos lugares mais quietos, só para ver aquela imensidão.
Durante dias... quantos, ninguém sabe.
Lassidão e ócio.
Conversa mole, manga-rosa.
Cuscuz de banana-da-terra.
As notícias chegaram rápido.
Escotas caçadas esperavam a entrada do sudoeste, que rugia na entrada da barra.
A barra e o cais e a rua e a calçada e a varanda da casa grande.
E o menino que vinha, de trem, calça caqui, dos lugares mais quietos, só para ver aquela imensidão.
"Isso (o auto-aumento concedido pelos congressistas, de 61%) é um atentado, uma afronta ao povo brasileiro, ao cidadão e à cidadã contribuintes. A comenda hoje outorgada não representa a pessoa do cearense maior que foi dom Helder Câmara. Desfigura-a".
Dom Manuel Edmilson da Cruz, bispo emérito de Limoeiro do Norte, ao recusar, na tribuna do Senado, a comenda dos Direitos Humanos Dom Helder Câmara concedida àqueles que lutam em favor dos desfavorecidos.
Brava gente brasileira!
Dom Manuel Edmilson da Cruz, bispo emérito de Limoeiro do Norte, ao recusar, na tribuna do Senado, a comenda dos Direitos Humanos Dom Helder Câmara concedida àqueles que lutam em favor dos desfavorecidos.
Brava gente brasileira!
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
Não suportava mais a espera.
Impacientava-se.
Já tinha lido tudo sobre o assunto.
Sabia o que iria acontecer, passo a passo.
A cegueira viria nos próximos dias.
Incrédulo, aceitou, para surpresa dos mais próximos, beber goles daquela garrafada que lhe trouxeram de Carpina, somente pela lembrança que guardava dos bonecos de mamulengo que o mestre Saúba lhe mostrara, tímido e com poucas palavras, naquele lugar que, um dia, no comecinho do século passado, foi chamado de Floresta dos Leões.
Os vômitos voltaram apesar de a medicação ter sido alterada.
As visitas dela já não o confortavam mais.
Chateavam-no.
A família o deixava irritadiço, impaciente, intolerante.
Disse o diabo para cada um, na cara.
Quantos meses haviam lhe dado?
Vieram as chuvas.
E o verão passou.
Já não sentia mais medo.
O que o afligia, agora, era a possibilidade, cada vez maior, de voltar para casa.
Impacientava-se.
Já tinha lido tudo sobre o assunto.
Sabia o que iria acontecer, passo a passo.
A cegueira viria nos próximos dias.
Incrédulo, aceitou, para surpresa dos mais próximos, beber goles daquela garrafada que lhe trouxeram de Carpina, somente pela lembrança que guardava dos bonecos de mamulengo que o mestre Saúba lhe mostrara, tímido e com poucas palavras, naquele lugar que, um dia, no comecinho do século passado, foi chamado de Floresta dos Leões.
Os vômitos voltaram apesar de a medicação ter sido alterada.
As visitas dela já não o confortavam mais.
Chateavam-no.
A família o deixava irritadiço, impaciente, intolerante.
Disse o diabo para cada um, na cara.
Quantos meses haviam lhe dado?
Vieram as chuvas.
E o verão passou.
Já não sentia mais medo.
O que o afligia, agora, era a possibilidade, cada vez maior, de voltar para casa.
“Condeno o cabra Manoel Duda, pelo malifício que fez à mulher do Xico Bento, a ser capado, capadura que deverá ser feita a macete.
A execução desta peça deverá ser feita na cadeia desta villa.
Nomeio carrasco o carcereiro.
Cumpra-se e apregue-se editais nos lugares públicos.
Manoel Fernandes dos Santos
Juiz de Direito da Vila de Porto da Folha, Sergipe, 15 de outubro de 1833”
Se essa lei voltasse a vigorar, os fabricantes de macetes ficariam milionários!
A execução desta peça deverá ser feita na cadeia desta villa.
Nomeio carrasco o carcereiro.
Cumpra-se e apregue-se editais nos lugares públicos.
Manoel Fernandes dos Santos
Juiz de Direito da Vila de Porto da Folha, Sergipe, 15 de outubro de 1833”
Se essa lei voltasse a vigorar, os fabricantes de macetes ficariam milionários!
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
"Sabiá cantou no alto da gameleira
Aribú comeu o que mamãe me deu
Carreiro tumba, carreiro tumbambá
Barata na parede não deixa a gente sossegá
Pra afundá quem é pra afundá quem é
Papai botou tanque na rua
Pra afundá quem é
É toco pequeno que ranca unha
É toco pequeno
Maria sobe morro
Bunda dela tremeu, ai
Coração me dói
Bunda dela tremeu, ai
Coração me dói"
Jongo, domínio público, recolhido por Tia Maria Do Jongo.
Aribú comeu o que mamãe me deu
Carreiro tumba, carreiro tumbambá
Barata na parede não deixa a gente sossegá
Pra afundá quem é pra afundá quem é
Papai botou tanque na rua
Pra afundá quem é
É toco pequeno que ranca unha
É toco pequeno
Maria sobe morro
Bunda dela tremeu, ai
Coração me dói
Bunda dela tremeu, ai
Coração me dói"
Jongo, domínio público, recolhido por Tia Maria Do Jongo.
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
Dizia que não, quase sempre.
Alegava enjôo, fingia cansaço, fadiga.
Escondia-se.
Não houve jeito.
Escalaram-no naquele dia.
Minutos depois de a partida ter começado no campinho de saibro do ginasial, jogaram a bola para ele.
Driblou um, dois, três, quatro.
Gol!
Vibrou.
E correu, exultante.
Os demais jogadores se olharam, pasmos.
Está na ata do juíz: gol contra.
Alegava enjôo, fingia cansaço, fadiga.
Escondia-se.
Não houve jeito.
Escalaram-no naquele dia.
Minutos depois de a partida ter começado no campinho de saibro do ginasial, jogaram a bola para ele.
Driblou um, dois, três, quatro.
Gol!
Vibrou.
E correu, exultante.
Os demais jogadores se olharam, pasmos.
Está na ata do juíz: gol contra.
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
“Tito Andrônico” é considerada a peça mais cruel e violenta de Shakespeare.
Será encenada, no Brasil, com tons certamente mais acentuados, pelo grupo catalão La Fura Dels Baus, direção de Pep Gatell.
Antropofágico, o espetáculo reúne, no final, alguns espectadores para um banquete que não lembra, nem de longe, tudo indica, os experimentos de Ferran Adrià...
Estômagos de plantão, em banho-maria!
Será encenada, no Brasil, com tons certamente mais acentuados, pelo grupo catalão La Fura Dels Baus, direção de Pep Gatell.
Antropofágico, o espetáculo reúne, no final, alguns espectadores para um banquete que não lembra, nem de longe, tudo indica, os experimentos de Ferran Adrià...
Estômagos de plantão, em banho-maria!
Alice Neel foi uma das mais brilhantes retratistas dos EUA.
Realista, pintou a vida privada com frieza, honestidade e desnudamento dramático.
Depois de um colapso nervoso, tentativa de suicídio e longo período de internação, casou-se com 3 ou 4 malucos, sendo que um deles rasgou 60 dos seus trabalhos durante um surto qualquer.
Coitada.
Reinventou o gênero de portraiture.
Realista, pintou a vida privada com frieza, honestidade e desnudamento dramático.
Depois de um colapso nervoso, tentativa de suicídio e longo período de internação, casou-se com 3 ou 4 malucos, sendo que um deles rasgou 60 dos seus trabalhos durante um surto qualquer.
Coitada.
Reinventou o gênero de portraiture.
"Deu no programa do Datena há algum tempo. O meliante resolveu assaltar um ônibus. Foi para o ponto, esperou um que fosse para um bairro bem distante, acenou, o ônibus parou e ele entrou. O ônibus estava lotado. Quando o ônibus rodava por um lugar meio deserto, ele, com muito custo, conseguiu chegar até o cobrador. Mostrou a ponta da faca – não tinha dinheiro para comprar uma arma de fogo – e anunciou o assalto, bem baixinho. Para azar dele, o cobrador era meio surdo. Falou um pouco mais alto. O cobrador não entendeu. Falou mais alto ainda. O cobrador também não entendeu. Então, com a faca na mão, ele gritou: Caralho, isto é um assalto, porra! Todos, dentro do coletivo, olharam. E, em segundos, partiram pra cima dele. No final da reportagem, a câmera mostrou o meliante na delegacia. Seu rosto, da testa ao pescoço, era um hematoma só."
Classir Scorsato
Classir Scorsato
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
"Em Piaçabuçu, Alagoas, acreditam que a cor de um animal pode significar força, resistência, indomabilidade. Cavalo forte é o castanho escuro das canas pretas. Cavalo preto é ligeiro e esperto. Cavalo alazão é bom corredor, porém pouco resistente. Cavalo russo de couro branco é fraquíssimo. Cavalo gázeo de olhos esbranquiçados é louco, rompe tudo, não respeita nada. Cavalo gato com quatro sinais brancos é muito ligeiro, por exemplo, três pés brancos e uma estrela na testa, são ligeiríssimos... dois são os tipos de passos: puxada a baixo e puxada-a-meio. Cavalo chotão é o que não tem habilidade, é bruto, anda a galope ou trote duro, é tão ruim que o melhor é andar a pé do que cavalgá-lo. O cavalo baixeiro é de passada baixa que não maltrata o cavaleiro. Cavalo esquipador é que tem puxada forte, certa, ritmada, anda muito depressa, tem esquipança. Depois da esquipança é o galope. O cavalo bom tem três passadas distintas: puxada baixa ou baixeiro, puxada do meio e esquipança”.
Alceu Maynard, “Folclore Nacional”.
Alceu Maynard, “Folclore Nacional”.
Chovia.
Os pastos estavam alagados e os animais se acotovelavam no paiol, tingidos de fezes.
O cheiro de urina era forte e não se dissipava com os ventos que vinham da Mantiqueira, rasgando os vales estreitos e as escarpas das Cruzes e do Alcantilado.
Ruidosas, as águas faziam estragos.
Até quando?
O homem se aproximou da porteira. Gestos largos, ríspidos, assertivos.
Perguntou pelo trecho do rio que circundava a sede da fazenda... a menina podia estar lá, presa numa galhada ou no sumidouro.
O cavalo havia escorregado.
Acharam-no próximo ao grotão, encilhado e imundo.
Mancava.
O pai apareceu no dia seguinte, volteante, sem acreditar no que haviam lhe dito.
O corpo foi encontrado dias depois, rio abaixo, num remanso conhecido como Vargem Alegre.
Os pastos estavam alagados e os animais se acotovelavam no paiol, tingidos de fezes.
O cheiro de urina era forte e não se dissipava com os ventos que vinham da Mantiqueira, rasgando os vales estreitos e as escarpas das Cruzes e do Alcantilado.
Ruidosas, as águas faziam estragos.
Até quando?
O homem se aproximou da porteira. Gestos largos, ríspidos, assertivos.
Perguntou pelo trecho do rio que circundava a sede da fazenda... a menina podia estar lá, presa numa galhada ou no sumidouro.
O cavalo havia escorregado.
Acharam-no próximo ao grotão, encilhado e imundo.
Mancava.
O pai apareceu no dia seguinte, volteante, sem acreditar no que haviam lhe dito.
O corpo foi encontrado dias depois, rio abaixo, num remanso conhecido como Vargem Alegre.
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
"... Quem desejar conhecer o povo de uma cidade, como trabalha, como vive, terá forçosamente de freqüentar uma de suas feiras. Nela o adventício encontrará a capacidade criadora de seus homens revelada na maneira de comprar e vender, no artesanato que se multiplica sob várias formas, na organização que não foi marcada nem prevista por ninguém, na troca de favores muito natural ao meio, na inteligência e espontaneidade de homens rudes que sabem improvisar versos primorosos em meio a algazarra permanente, como se estivessem no palco de um teatro..."
Eduardo Campos,"Feiras populares" - Diário de São Paulo, 28/9/58.
Eduardo Campos,"Feiras populares" - Diário de São Paulo, 28/9/58.
Ponha-se no fogo um bom refogado.
Juntam-se um pedaço de lombo de porco e um paio, que se cobrem com água para cozinhar.
Depois, é só colocar pedaços de nabo, folhas de mostarda, couve e serralha em pedaços.
Quando tudo estiver cozido, engrosse-se, ligeiramente, com fubá de milho.
Tem nome: sopa Manuel-sem-jaleco.
Juntam-se um pedaço de lombo de porco e um paio, que se cobrem com água para cozinhar.
Depois, é só colocar pedaços de nabo, folhas de mostarda, couve e serralha em pedaços.
Quando tudo estiver cozido, engrosse-se, ligeiramente, com fubá de milho.
Tem nome: sopa Manuel-sem-jaleco.
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
"Vez por outra circulava a notícia apressada de que desaparecera aquela crianã da rua da Medalha ou da rua da Tesoura, da estrada do Carro ou da rua da Viração, da rua da Glória ou do Jaguaribe — e era de notar o espanto geral que a novidade despertava entre a gurizada atenta na marcha desses acontecimentos tão desagradáveis."
Ademar Vidal. Lendas e superstições.
É o Papa-figo, meninos!
Ademar Vidal. Lendas e superstições.
É o Papa-figo, meninos!
"... Vida longa ao adjetivo! Pequeno ou grande, esquecido ou corrente. Precisamos de você, esbelto e maleável adjetivo que repousa delicadamente sobre coisas e pessoas e cuida para que elas não percam o gosto revigorante da individualidade. Cidades e ruas sombrias se banham de um sol pálido e cruel. Nuvens cor de asa de pombo, nuvens negras, nuvens enormes e cheias de fúria, o que seria de vocês sem a retaguarda dos voláteis adjetivos?..."
Adam Zagajewski, revista Piauí.
Adam Zagajewski, revista Piauí.
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
Não se falavam há muito tempo.
Comentou sobre um amigo comum, que estava inquieto.
Desassossegado.
E sugeriu que ele ligasse, porque telefone de desempregado não toca nunca.
O egoísmo e a escrotidão impediram que o ex-vizinho cumprisse o prometido.
Mentiu, descaradamente, quando se encontraram novamente.
Comentou sobre um amigo comum, que estava inquieto.
Desassossegado.
E sugeriu que ele ligasse, porque telefone de desempregado não toca nunca.
O egoísmo e a escrotidão impediram que o ex-vizinho cumprisse o prometido.
Mentiu, descaradamente, quando se encontraram novamente.
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
Caranguejo não é peixe
Caranguejo peixe é
Caranguejo anda de banda
Na vazante da maré. (olha só)
Pé, pé, pé; olha a mão, a mão, a mão
Veja só como é bonito
Caranguejo no salão. (olha só)
Caranguejo não é peixe
Caranguejo não tem sangue
Caranguejo anda no brejo
Comendo folha de mangue. (Olha só)
Pé, pé, pé; olha a mão, a mão, a mão
Veja só como é gostoso
Caranguejo com limão.
Caranguejo peixe é
Caranguejo anda de banda
Na vazante da maré. (olha só)
Pé, pé, pé; olha a mão, a mão, a mão
Veja só como é bonito
Caranguejo no salão. (olha só)
Caranguejo não é peixe
Caranguejo não tem sangue
Caranguejo anda no brejo
Comendo folha de mangue. (Olha só)
Pé, pé, pé; olha a mão, a mão, a mão
Veja só como é gostoso
Caranguejo com limão.
Rale o coco e não retire o leite. Coloque o açúcar numa panela com um pouco de água e umas gotas de limão. Leve ao fogo para obter uma calda grossa. Passe as gemas por uma peneira que não pode ser metalizada. Deixe esfriar a calda e junte as gemas peneiradas, o coco ralado e a manteiga, mexendo bastante. Despeje em forminhas untadas com manteiga e leve ao forno quente, em banho-maria, para assar.
Taí, no ponto, Quindim de Iaiá.
Taí, no ponto, Quindim de Iaiá.
"Por que entre uma mulher e um animal, tem primazia o gênero do animal? Por que dizem “vêm os dois” se é uma mulher e um cão quem vêm? Em vez de dizerem que não se pode dizer presidenta, mas ministra sim, solucionem essa injustiça e canalhice. Que os doutos acadêmicos resolvam um conflito que tem séculos porque não têm sensibilidade para apreciar a questão ou nem se aperceberam. Por isso, justificam com leis gramaticais ou simplesmente silenciam e riem-se das pretensões da mulher porque se acham superiores. Em quê?"
Pilar del Rio
Pilar del Rio
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
O Biarritz é, com certeza, o edifício mais charmoso do Rio.
Localizado na Praia do Flamengo, 268, o Biarritz tem sua construção concluída no início da década de 40, sendo uma cópia de um edifício existente em Paris, na Avenue Montaigne.
Marco da Art Déco, foi projetado pelos arquitetos franceses Auguste Rendu e Henri Paul Pierre Sajous.
Elegantíssimo, tem varandas arredondadas com dupla curvatura, detalhes frisados na massa, gradil artístico e toldos.
Sonho de consumo.
Localizado na Praia do Flamengo, 268, o Biarritz tem sua construção concluída no início da década de 40, sendo uma cópia de um edifício existente em Paris, na Avenue Montaigne.
Marco da Art Déco, foi projetado pelos arquitetos franceses Auguste Rendu e Henri Paul Pierre Sajous.
Elegantíssimo, tem varandas arredondadas com dupla curvatura, detalhes frisados na massa, gradil artístico e toldos.
Sonho de consumo.
“No Carnaval dos subúrbios do Rio é muito comum a fantasia de Clóvis ou, como também é conhecida, Bate-bola.
Consta de um macacão bastante colorido, capa enfeitada, máscara e luvas, de forma a não deixar descoberta nenhuma parte dos corpos dos fantasiados, garantindo-lhes o anonimato; levam, presa a um cordão, uma bexiga que é, constantemente, batida no chão o que provoca um som surdo. Parece um resquício do entrudo, já que os fantasiados têm em mente assustar os que vão distraídos, e as crianças.
O nome Clóvis consta ser uma corruptela do inglês clowns”.
Carlos Henrique Brack, blog “Curiosidades Cariocas”.
Consta de um macacão bastante colorido, capa enfeitada, máscara e luvas, de forma a não deixar descoberta nenhuma parte dos corpos dos fantasiados, garantindo-lhes o anonimato; levam, presa a um cordão, uma bexiga que é, constantemente, batida no chão o que provoca um som surdo. Parece um resquício do entrudo, já que os fantasiados têm em mente assustar os que vão distraídos, e as crianças.
O nome Clóvis consta ser uma corruptela do inglês clowns”.
Carlos Henrique Brack, blog “Curiosidades Cariocas”.
"Aqui temos um homem — ele tem de recolher na capital o lixo do dia que passou. Tudo o que a cidade grande jogou fora, tudo o que ela perdeu, tudo o que desprezou, tudo o que destruiu, é reunido e registrado por ele. Compila os anais da devassidão, o cafarnaum da escória; separa as coisas, faz uma seleção inteligente; procede como um avarento com seu tesouro e se detém no entulho que, entre as maxilas da deusa indústria, vai adotar a forma de objetos úteis ou agradáveis".
Baudelaire
Baudelaire
“Vvverde é vida
gentileza meus
filhos bem vindo ao
Rio amorrr não usem pro
blemas não usem pobreza
usem amorrr do gentileza
e a natureza Deus nosso
pai criadorr tem beleza
perfeição bondade e ri
praga assassino e o
capetalismo surdos ce
ga mata conduz para
o abismo tenque sserr
queimado por Jessuss gentileza”
Mural 1, Profeta Gentileza – José Datrino.
gentileza meus
filhos bem vindo ao
Rio amorrr não usem pro
blemas não usem pobreza
usem amorrr do gentileza
e a natureza Deus nosso
pai criadorr tem beleza
perfeição bondade e ri
praga assassino e o
capetalismo surdos ce
ga mata conduz para
o abismo tenque sserr
queimado por Jessuss gentileza”
Mural 1, Profeta Gentileza – José Datrino.
Bastardinho de Azeitão, Bucho, Cabeça de Burro, Porca de Murça, Cova da Beira, Monte das Abertas, Monte dos Cabaços, Quinta da Pellada, Tapada do Chaves, Terras do Pó Branco, Torna Grande, Rapariga da Quinta, Três Bagos, Vinha da Tapada, Pêra Manca.
Esses vinhos portugueses e seus nomes deliciosos, sem falar de algumas castas características do país como Roupeiro, Rabo de ovelha, Antão da faz...
Esses vinhos portugueses e seus nomes deliciosos, sem falar de algumas castas características do país como Roupeiro, Rabo de ovelha, Antão da faz...
A família decidia o que fazer.
Filhos, sobretudo.
Para que reagir?
Deitava-se.
O sono não vinha.
Fingia que dormia.
Ouvia os ruídos das casas vizinhas, da rua.
Contava as horas.
E os dias, quando não se confundia.
Torcia para que o telefone não tocasse.
Da última vez, após levantar-se da cama com a dificuldade de sempre, o telefone, na sala, emudeceu faltando pouco para
alcançá-lo.
Dois passos, talvez.
De pé, esperou que o aparelho voltasse a tocar.
Não tocou.
Filhos, sobretudo.
Para que reagir?
Deitava-se.
O sono não vinha.
Fingia que dormia.
Ouvia os ruídos das casas vizinhas, da rua.
Contava as horas.
E os dias, quando não se confundia.
Torcia para que o telefone não tocasse.
Da última vez, após levantar-se da cama com a dificuldade de sempre, o telefone, na sala, emudeceu faltando pouco para
alcançá-lo.
Dois passos, talvez.
De pé, esperou que o aparelho voltasse a tocar.
Não tocou.
Assinar:
Postagens (Atom)